Será possível vivermos 100 anos só                  mudando hábitos alimentares e adotando atitudes saudáveis? Mais                  ainda: será possível soprarmos as velinhas do nosso centenário                  sem termos adoecido uma vez sequer pelo caminho e encerrarmos a                  vida gozando de saúde plena? De acordo com os seguidores do                  higienismo, que pode ser entendido como uma ciência de qualidade                  de vida, sim, tudo isso é possível e está ao alcance de todas as                  pessoas.                  A receita higienista é simples:                  alimentos crus bem combinados entre si, ar puro, banhos de sol                  diários, atividade física moderada e atitude mental positiva.                  Seguindo esses princípios, acredita-se, podemos atingir a marca                  centenária. É claro que a fórmula não garante um século de vida                  para todos, pois isso é algo que não se promete - o destino pode                  estar nos esperando ali na esquina, daqui a pouco. Mas o                  higienismo aposta, sim, que você, diferentemente dos perus, não                  morrerá na véspera se seguir os tais preceitos. O psicólogo                  Fernando Carneiro Travi, um dos maiores nomes do higienismo no                  país, pensa da seguinte maneira: "A pessoa que morre doente é                  obrigada a entregar o corpo antes da hora, mas aquele que vive                  de acordo com as leis da natureza vai até o fim e morre                  saudável". 
                 Para os higienistas, todas as                  doenças se resumem a uma: toxemia. Diz meu dicionário que                  toxemia é a "intoxicação resultante do acúmulo excessivo de                  toxinas no sangue". O acúmulo viria principalmente da                  alimentação inadequada, que impediria o corpo de se livrar dos                  venenos surgidos nos processos bioquímicos. No higienismo,                  aquilo que chamamos de doença é a tentativa emergencial do corpo                  de se livrar das toxinas quando elas passam do limite tolerável.                  Um câncer, por exemplo, seria a última e desesperada tentativa                  do organismo de lidar com toxinas acumuladas durante anos de                  maus hábitos, restringindo a crise a um órgão. Assim podemos                  entender por que o higienismo é contra qualquer medicamento.                  Para os higienistas, remédio é não atrapalhar o corpo.                  
                                    Crus e avulsos
                  Há três preceitos na "culinária" higienista. O primeiro é que                    de culinária o higienismo tem muito pouco, pois diz que 70% da                    dieta deve ser constituída de vegetais crus. Isso porque esses                    alimentos são plenos de enzimas e nutrientes, que começam a                    morrer quando os aquecemos a partir de 41 graus. Por exemplo,                    uma cenoura cozida não poderá brotar, assim como um peixe não                    vive em água que uma vez foi fervida. Para os higienistas,                    algo de vital se perde com o cozimento, por isso eles o evitam                    ao máximo.                    O higienismo quer alimentos                    vivos e naturais, portanto comida industrializada está fora.                    As restrições não param por aí: carnes de qualquer tipo,                    leite, ovos, frituras, café, açúcar, sal, farinhas refinadas,                    álcool, tabaco, tudo isso passa longe do ideal higienista.                   
                   O segundo princípio é saber                    combinar os alimentos. No higienismo, frutas são ingeridas                    separadamente, no mínimo meia hora antes das refeições,                    tomando-se o cuidado de não misturar frutas doces com ácidas.                    Carboidratos (batata, mandioca, arroz, macarrão e pão                    integrais) nunca são servidos junto com proteínas (castanhas,                    queijo fresco, coalhada). 
                   Como afirma Arno Gëhrke, no                    livro Viva Mais e Melhor! (Editora Esfera), "proteínas são                    digeridas em meio ácido, já os carboidratos são digeridos em                    ambiente alcalino". Misturá-los fará o sistema digestivo                    secretar substâncias ácidas e alcalinas, que se anularão                    quimicamente, fazendo com que o bolo alimentar demore para ser                    digerido, fermentando carboidratos, apodrecendo proteínas e                    produzindo mais toxinas. Já as saladas são digeridas em                    qualquer meio, portanto vão bem com praticamente tudo, exceto                    frutas. Assim, a refeição higienista é composta de uma farta                    salada e mais uma proteína ou um carboidrato. 
                   Por fim, o terceiro                    mandamento higienista propõe que a gente só coma entre 11h e                    20h, fazendo apenas duas refeições por dia - almoço e janta.                    Fernando Travi diz que, das 20h às 11h, o corpo está no                    período de "catabolismo", onde ocorre "a quebra e a eliminação                    das substâncias tóxicas e células mortas". Segundo o                    especialista, alimentar-se durante o catabolismo é fazer com                    que o organismo pare de eliminar toxinas para assimilar o que                    está sendo ingerido. 
                   Quem nunca parou para pensar                    em combinações de alimentos há de achar a dieta higienista                    muito severa, mas essa não é a visão da atriz e cantora Tania                    Alves, a mais famosa higienista brasileira. "Eu não diria que                    a alimentação higienista é rigorosa. Tudo depende do que você                    quer. No meu caso, como quero chegar aos 100 anos com meu                    manequim 38, com a pele linda, então faço a dieta com prazer."                   
                   Depois de adotar o higienismo,                    Tania, que dirige o Spa Maria Bonita, em Nova Friburgo (RJ),                    nunca mais ficou doente e diz que perdeu suas últimas "gordurinhas                    indesejáveis". (Eis um bem-vindo "efeito colateral": não há                    notícia de algum higienista que tenha se mantido acima do peso                    - e isso sem contar calorias, pois as quantidades aqui são                    livres.) 
                   Outra virtude sempre citada                    pelos adeptos é a capacidade do higienismo de "curar" doenças,                    ou melhor, deixar que o corpo as cure. A pedagoga Graça                    Aparecida Machado chegou ao consultório de Fernando Travi com                    um quadro múltiplo de insônia, dores de cabeça, insuficiência                    renal, problemas vasculares e, de quebra, depressão. "A                    descoberta do higienismo foi minha salvação", diz ela. "Em 20                    dias, só cortando carne, frituras e chocolate, já havia mudado                    minha vida." 
                   O caso do ator Tino Teske                    também é eloqüente. Depois de uma cirurgia no coração, Tino                    vivia atormentado pelo efeito corrosivo de 30 comprimidos                    diários. Um ano depois de iniciar a dieta higienista, ele                    havia retirado todos os remédios e assombrava seus médicos com                    excelentes taxas de colesterol. "E o melhor é que eu descobri                    uma série de alimentos maravilhosos que não conhecia como o                    trigo germinado." 
                   Mas o higienismo não é tão                    bem visto pelas linhas de nutrição tradicionais. Se a                    abstenção da carne já é criticada pelos nutricionistas                    ortodoxos, imagine como lhes parece indigesta a abolição dos                    alimentos cozidos. No campo naturalista, porém, a dieta                    higienista é elogiada até por adeptos da macrobiótica,                    conhecida pela predominância de pratos cozidos. Márcio                    Bontempo, médico, autor de diversos livros sobre alimentação                    natural e partidário da macrobiótica, é favorável ao                    higienismo. "A macrobiótica que nos chegou foi criada no                    Japão, mas se adaptarmos o conceito ao nosso clima a                    macrobiótica brasileira será muito próxima do higienismo".                   
                   Instigado, pedi a Fernando                    Travi que me passasse uma dieta de sete dias - a mesma                    publicada na página ao lado e que você pode experimentar em                    casa, no caso de se animar. O próprio Fernando havia dito que                    levara cinco anos para se firmar como higienista, devido às                    recaídas. Entendi bem o que ele quis dizer: durante o teste,                    tive vontade de transgredir, principalmente no dia em que o                    pessoal de casa pediu pizza. Mas segui firme e valeu a pena. A                    semana foi de grande bem-estar e, apesar das restrições, não                    senti fome - a não ser no terceiro dia, mas consegui debelar a                    sensação com inúmeros copos de água. 
                   Passei o fim de semana num                    clube de campo, usufruindo de outros componentes da fórmula                    higienista: tomei sol, respirei ar puríssimo e caminhei                    bastante. Mantive-me firme mesmo tendo participado de alguns                    churrascos e fondues. Não passei vontade vendo o pessoal                    comer. Pelo contrário, ficava me perguntando por que a gente                    come muito mais do que precisa. Comendo menos, porém de forma                    saudável, consegui um nível de energia maior do que o normal                    e, no fim dos sete dias, fiquei bem animado ao subir na                    balança e ver que havia perdido três quilos de gorduras e                    toxinas acumuladas. Enfim, foi muito bom. Estou até com                    vontade de continuar e completar meu "um mês higienista".                    Agora, até os 100 anos, não garanto nada. 
                   
 
                                     Semana higienista
                  O cardápio a seguir foi elaborado pelo especialista                    Fernando Carneiro Travi. Como sugere o higienismo, só há duas                    refeições por dia, almoço e janta, que devem acontecer entre                    11h e 20h. Mas você pode comer dois tipos de frutas (não                    misturar as doces com as ácidas) ou tomar um copo de suco                    natural no mínimo meia hora antes das refeições. Como não há                    contagem de calorias, as quantidades são livres. Recomenda-se                    comer até sentir-se satisfeito, mas sem exageros.                    1. almoço: abacate amassado                    com tomates picados, cebola e alho amassado, azeite e                    salsinha. Temperar a gosto. Acompanham cenoura em tiras e                    alface. jantar: purê de batata com agrião. O purê é feito só                    com batatas amassadas, sem leite. 
                   2. almoço: salada verde e                    tomate com 100 gramas de queijo fresco. Azeite e limão para                    temperar. jantar: sopa de legumes. Cozinhar abóbora, cebola,                    cenoura e couve-flor e bater tudo no liquidificador. Temperar                    com parmesão. 
                   3. almoço: salada verde com                    maçã picada, uvas-passas e um punhado de castanhas (do Pará ou                    de caju). jantar: seis bananas nanicas bem maduras assadas com                    casca (até a casca ficar escura). 
                   4. almoço: saladas com molho                    de tahine. Ingredientes: tahine, alho amassado, limão e água                    para diluir. Acompanha abóbora no vapor (casca verde). jantar:                    salada de frutas ácidas e meio ácidas com amêndoas.                    
                   5. almoço: bater no                    processador cenoura, cebola e um punhado de sementes cruas de                    girassol e comer com saladas a gosto. jantar: sopa de cebola                    com pão integral picado e passado na manteiga. Para a sopa,                    frite rapidamente um pouco de cebola picada no azeite, cozinhe                    cebolas e abóbora e depois bata no liquidificador. Depois                    junte a cebola frita e os croutons de pão. 
                   6. almoço: creme de tomates                    crus e saladas verdes com molho de azeite, cebolinha e                    pimentão vermelho. Para o creme, descasque e tire as sementes                    de meio quilo de tomates, processe-os com alho amassado e um                    punhado de sementes de girassol que foram deixadas uma hora na                    água. jantar: figos secos, bananas secas e tâmaras com                    amêndoas. 
                   7. almoço: saladas com broto                    de feijão, tomate e cebola, temperado com limão e azeite, e um                    grande abacate picado. jantar: sopa de beterraba com creme de                    leite. Cozinhar as beterrabas e uma cebola, liquidificar com                    água quente e uma colher de sopa de mel, acrescentar o creme                    de leite ao servir.                  
                  Para saber mais
                Fernando Carneiro Travi: 










(11) 3749-9646
                Spa Maria Bonita: 










(21) 2537-0203
 
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