Porque é que os chimpanzés comem terra?

Os chimpanzés do Uganda foram avistados a comer terra juntamente com punhados de folhas. Isto pode ajudar a aumentar as propriedades anti-malária das plantas, dizem os investigadores.

Muitos animais, incluindo o Homem, comem deliberadamente solo, uma prática conhecida por geofagia. Ainda que as pessoas e os animais possam não se aperceber disso, a principal razão para isso é que comer terra pode ter benefícios para a saúde.

O solo contém oligoelementos, como o ferro, e pode ajudar a conter a diarreia, absorver toxinas e facilitar a digestão. Comer terra também pode reduzir as dores da fome durante períodos de carência de alimentos.

Agora, no entanto, parece que o solo também pode aumentar as propriedades farmacêuticas dos alimentos.

Sabrina Krief, veterinária do Museu de História Natural de Paris, notou que os chimpanzés do Parque Nacional de Kibale comiam frequentemente solo imediatamente antes ou depois de comerem folhas de Trichilia rubescens.

Após descobrir que as folhas continham compostos novos anti-malária, os investigadores sugeriram que os chimpanzés se estavam a automedicar.

A equipa colheu 14 amostras de solo semelhantes ao comido pelos chimpanzés, bem como folhas de T. rubescens da mesma zona. De seguida replicaram a mastigação e a digestão usando um almofariz e tratamentos com ácido e calor.

Testaram o solo, as folhas e a combinação solo e folhas contra as estirpes resistentes aos medicamentos do parasita da malária Plasmodium falciparum. Apenas a mistura de solo e folhas tinha uma actividade anti-malária significativa, relatam eles na última edição da revista Naturwissenschaften.

A equipa também analisou as amostras utilizando cromatografia líquida de alto desempenho (HPLC), o que revelou que a mistura das folhas com o barro reduzia a quantidade de compostos das folhas disponíveis do ponto de vista biológico, presumivelmente porque eles se ligavam às partículas do solo.

Krief pensa que os compostos anti-malária aderem menos ao barro do que outros compostos químicos da folha, logo tornam-se mais concentrados na mistura de solo e folhas. No entanto, a equipa não isolou os compostos anti-malária nos seus testes logo não podem confirmar isto.

O farmacêutico Michael Wink, da Universidade de Heidelberg, Alemanha, sugere outro mecanismo. Pode ser que ao reagir com o solo os compostos anti-malária sejam activados: “Para mim, isso parece-me mais plausível."

Mais estudos são necessários, diz ele, para identificar e quantificar os compostos que estão em causa e determinar o que realmente se passa.


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