Bambu é o futuro
Resistente ao cultivo, essa planta pode salvar o planeta - e revolucionar a jardinagem
Anne raver
O bambu é uma planta antiga e resistente, que aparece nos mitos da criação, mas também em vasos dos terraços de Manhattan. Nasce em touceiras e se reproduz por rizomas, o que é ótimo para a formação de um bosque, mas não funciona se a intenção é usá-lo como um anteparo que não avance para o quintal do vizinho. Por esse vigor, os ambientalistas o elegeram o vegetal capaz de salvar a terra.
O bambu é incansável no seqüestro do dióxido de carbono e na sua troca por oxigênio. É uma planta robusta, que fabrica seus próprios componentes antibacterianos e se desenvolve muito bem sem pesticidas. Além disso, suas fibras porosas podem produzir tecidos que respiram e são tão macios como seda.
Hoje, embora haja uma explosão de produtores de tecidos na China e no Japão - onde o bambu é criado em fazendas e processado -, essa indústria ainda é inexistente nos Estados Unidos. Na sua edição de maio, a revista National Geographic prediz que o bambu poderá “algum dia competir com o Rei Algodão”.
Resistência ao cultivo
Apesar do clamor mundial por mais bambu, o estoque é pequeno. Planta que geralmente floresce uma vez a cada 60 a 120 anos e depois morre; fornece poucas sementes para a reprodução; e tentar criá-la pela divisão dos exemplares existentes é ainda mais difícil. Assim, quando Jackie Heinricher e Randy Burr imaginaram uma forma de cultivar bambu em tubos de laboratório - vendendo seus primeiros 2 mil exemplares em 2004 para centros de jardinagem locais, em Skagit Valley, Washington - provocaram uma comoção no mundo da horticultura. “É engraçado, porque o bambu é uma planta que tem reputação de se espalhar pelo universo e, no entanto, é a mais difícil de criar”, diz a bióloga Jackie, no centro de produção de sua empresa, a Boo-Shoot Gardens, em Mount Vernon, ao norte de Seattle.
Jackie, que cresceu rodeada por bambus (seu pai plantou um bambuzal dourado em torno de sua casa em Olympia, Washington), tentou criar a planta pela primeira vez no final dos anos 90, em uma pequena estufa de sua casa nos arredores de Anacortes, onde fundou a Boo-Shoot Gardens, em 1998. “Desde cedo fiquei interessada em bambus… Sabia que eles eram muito bonitos, mas impossíveis de reproduzir”, diz. Imediatamente, ela percebeu o quanto era difícil cultivá-los quando tentou dividir alguns de seus espécimes raros e viu-os morrer. Por isso, persuadiu Randy Burr, o proprietário do vizinho B&B Laboratories, a ajudá-la.
Burr e seu laboratório estavam no negócio há quase 30 anos, com uma cultura de 1.300 m² e 3.700 m² de estufas. A B&B trabalhava com culturas, como a de rododendros, couves e samambaias, que ele produziu em Boston, em 1973, para um viveiro em Oxanard, Califórnia. “Mas bambu era mais difícil”, diz ele, retrocedendo para os últimos oito anos de tentativas de uma infinita combinação de variedades para obter bambu em tubos de ensaio.
Opção ao gramado
As fibras de bambu são uma fonte renovável para produção de tecidos, alimento e papel. Plantações experimentais, financiadas pelo Departamento de Agricultura entre 1933 e 1965 no Alabama, mostraram quão promissor o vegetal pode ser: ele produz 14 toneladas de madeira por acre, contra 8 do pinho - uma das mais importantes fontes de madeira dos Estados Unidos. Muitas das suas variedades podem, agora, ser produzidas em vasta escala, o que revolucionará a indústria da jardinagem. Outros países, como a Bélgica, também estão explorando a cultura de laboratório, mas a Boo-Shoots parece estar liderando.
“Há uma tremenda tendência na indústria de jardinagem para usar bambu no paisagismo”, diz Nicholas Staddon, diretor da Monrovia, empresa com cinco pontos de venda nos Estados Unidos. “E Jackie está trabalhado em variedades desconhecidas ou impossíveis de serem produzidas por outro método.”
Criar bambu com sementes ou por divisão resulta em plantas de diferentes tamanhos, formas e cores. Mas cada espécie, crescendo aos milhares em Mount Vernon, é surpreendentemente uniforme. Jackie e eu caminhamos ao longo de tabuleiros cheios de Borinda boliana - bambu de touceiras, cujas canas de um azul-pálido, enquanto novas, tornam-se púrpura depois - e Fargesia rufa, com canas alaranjadas que formam bons biombos ou cercas.
Há também coberturas de solo, como a Pleioblastus viridistriatus, cujas folhas de amarelo-âmbar contrastam com o verde-escuro. “As pessoas começam a usá-las como alternativa ao gramado”, diz Jackie, correndo os dedos pelas folhas suaves. “Pode-se andar sobre elas e, se forem aparadas com cortador de grama, ficarão minúsculas.”
Fonte: [ Estado de São Paulo ]
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