Baleias francas em risco mais uma vez


A onda de subida dos preços dos combustíveis fósseis deve acentuar o conflito entre a industria americana de gás e petróleo e os interesses das baleias migratórias, após dois anúncios federais ambas as partes pretendem a mesma zona do mar de Bering.

A região em disputa, parte da baía de Bristol ao largo da costa do Alasca, é uma das zonas que mais interesse tem despertado ultimamente nos prospectores, apesar da sua localização pouco hospitaleira, mas os conservacionistas alertam para o facto de a perfuração e actividades relacionadas irem ameaçar as baleias ameaçadas que nadam nessas águas. Os dois anúncios oficiais, ambos no mesmo dia, tornaram estas posições muito claras.

O Registo Federal é onde as agências americanas anunciam formalmente regras e afixam avisos. A edição de 8 de Abril contém dois mapas da região, um num anúncio delineando uma área ao largo da costa onde se propõem perfurações de petróleo e gás, outro num anúncio delineando o último 'habitat crítico' para as baleias francas do norte do Pacífico Eubalaena japonica, de acordo com a Acta de Espécies Ameaçadas americana. As regiões assinaladas nos dois mapas sobrepõem-se.

"Em linguagem simples a Acta das Espécies Ameaçadas diz que nenhuma agência federal pode destruir ou modificar de forma adversa habitats críticos", diz Brendan Cummings, director de programa no Centro de Biodiversidade de Tucson, Arizona, um grupo de advogados que defende nos tribunais uma melhor protecção federal das espécies ameaçadas. "Não vejo como uma pessoa minimamente razoável possa alegar que colocar plataformas de perfuração e detectores sísmicos, alguns dos sons mais altos nos oceanos, não o vá fazer."

Cummings notou a coincidência no Registo Federal e emitiram um comunicado à imprensa salientando o estatuto de ameaçado destas baleias. Os conservacionistas estimam que existam menos de 100 baleias a viver ao largo da costa americana, com talvez mais algumas centenas no mar de Okhotsk.

As baleias francas têm sido as favoritas dos baleeiros, que lhes atribuíram o nome por fáceis de capturar e muitas ricas em óleo. Agora parece que as poucas baleias que restam podem ser vítimas dos apetites americanos por gás natural.

A razão é o dinheiro, diz Phil Clapham, chefe do Programa de Avaliação e Ecologia de Cetáceos do Laboratório Nacional de Mamíferos Marinhos de Seattle, Washington. "É tudo por causa dos lucros imensos que resultam das explorações de petróleo e gás."

Clapham está a liderar uma série de projectos de investigação sobre as baleias francas que decorrem desde a actualidade até 2011, a data prevista para a emissão de licenças de perfuração às companhias que melhor pagarem.

"A lei não proíbe automaticamente as actividades comerciais num habitat crítico", diz ele. De facto, se o governo conseguir demonstrar que as actividades de perfuração não ameaçarão as baleias, as licenças serão emitidas. De acordo com o Serviço de Gestão de Minerais, a agência que licencia os direitos minerais governamentais em águas federais, podem existir 8 triliões de metros cúbicos de gás natural sob 2,3 milhões de placa continental e oceânica na zona.

A agência terá terá que demonstrar que as tipicamente lentas baleias serão minimamente afectadas pela perfuração. Muito pouco se sabe acerca do efeito das actividades de perfuração nas baleias francas do norte do Pacífico mas pode ser inferida alguma coisa a partir das suas parceiras do Atlântico Eubalaena glacialis que, até à muito pouco tempo, eram consideradas da mesma espécie.

As baleias francas do Atlântico têm principalmente que lidar com o tráfico marítimo e a pesca. "Ficam emaranhadas nas redes de pesca e são frequentemente abalroadas por navios", diz Clapham. "Não sabemos até que ponto estas situações podem estar a afectar as baleias francas do Pacífico norte mas gostávamos de o descobrir. Ficar enredada deixa cicatrizes e pode-se avaliar a frequência com que isso acontece ao analisá-las."

As ameaças específicas das perfurações incluem derrames de crude e os estudos sísmicos, que utilizam canhões de ar para analisar o que está debaixo do fundo do mar. Os ruídos fortes podem alterar o comportamento das baleias que estão constantemente em comunicação ou mesmo ensurdece-las. A construção e a operação das plataformas de perfuração também vai aumentar o tráfico marítimo e se uma baleia for abalroada geralmente morre, diz Clapham.

"Ainda é muito cedo", diz Robin Casy, porta-voz do Serviço de Gestão de Minerais. "Não está nada garantido, este é o primeiro passo. Temos um pouco mais de três anos para fazer uma avaliação."

Casy diz que alguma da terra pode ser removida da área de venda com a chegada das informações das pesquisas de Clapham. "O nosso processo funciona como uma pirâmide invertida", diz ela. "Começamos com uma área grande e depois vamos reduzindo."

A agência de Casy tem apresentado, mais ou menos, uma licença para compra por ano ao largo da costa do Alasca nos últimos cinco anos mas, com a subida dos preços do petróleo e o degelo do Árctico, podem existir grandes pressões para acelerar o passo, especialmente depois de 2012, quando o actual plano de cinco anos terminar.

O Serviço de Gestão de Minerais aceita comentários sobre a proposta até 8 de Julho.

Fonte: Simbiotica

Saber mais:

Designation of Critical Habitat for North Pacific Right Whale

Marine Mammals and Noise: A Sound Approach to Research And Management

Declínio das baleias do Pacífico é um mistério

Inverno com perdas devastadoras para as baleias francas do Atlântico norte

O ensurdecedor ruído dos oceanos

Provas de que sons humanos prejudicam baleias




Loja Alimentação Viva

Comentários

Postagens mais visitadas