Pitagorismo e Vegetarianismo - Que relações?


Supostamente, Pitágoras foi um filósofo matemático do séc.VI a.C (570-571) e terá sido o filósofo que mais marcou esta era, em termos de racionalidade. A defesa do vegetarianismo não passa, no fundo, de um princípio provável da teoria por ele fundada, ou seja, o Pitagorismo.
A teoria apontada como Pitagorismo é, na realidade, uma teoria muito importante para a história da matemática. Mas sobre Pitágoras pouco ou nada se sabe, pois tanto a sua vida como a sua morte foram um mistério e alguns historiadores apontam até para a hipótese de ele nunca ter existido. Exilado durante a maior parte da sua vida, o pensador praticou, numa primeira fase, os rituais órficos da religião que se implantou na Grécia, mas fundou posteriormente o pitagorismo, corrente que viria a ser um pouco mais radical do que a primeira.

Da corrente órfica herdou a crença na reencarnação. Segundo se crê, há quem diga que ele chegou a defender o vegetarianismo, atitude coerente a tomar, devido aos costumes acérrimos da sua anterior comunidade, entre os quais se previam, principalmente, a abstinência de carne (nomeadamente galos brancos), de certos peixes e de favas.
A forte auto-disciplina, que já tinha sido imposta por essa comunidade, exigia uma vida em silêncio, onde a meditação e a reflexão sérias sobre a vida e o mundo eram uma constante. Pitágoras encontrava assim o tempo suficiente para dedicar-se aos estudos da filosofia, matemática e ciências naturais, na sua generalidade.
A prática do vegetarianismo surge, assim, a partir da fama destes costumes. Mas pode ser justificada como uma necessidade exterior de se rebelar contra o poder instituído face à política de governação (devido às exibições de morte de animais na arena que eram aplaudidas pelos políticos atenienses) e, simultaneamente, pelas teorias filosóficas apresentadas para a prática deste tipo de alimentação.
A opção pela abstinência de carne é, sobretudo, baseada na argumentação de defesa pela vida animal, evitando assim a carnificina exercida sobre os mamíferos de quatro patas, os quais poderiam ser, segundo as suas crenças na reencarnação, vidas humanas passadas ou futuras, já que a metempsicose (termo que designa estar para lá da alma - psyché gr.) ou transmigração das almas dá-se ao nível hierarquicamente inferior ou superior, conforme o grau de perfeição de cada ser. Logo, o vegetarianismo surge também aliado a uma certa prática de defesa do ambiente, pois poderemos encarnar quer numa planta, quer num animal.
O Orfismo, entretanto, que veio a ser considerada como religião pública entre os atenienses, preconizava os seguintes princípios: primeiro, o corpo humano deve libertar-se das imperfeições e, como tal, de todas as impurezas, para poder ascender a um grau superior; segundo, toda a vida que começa nunca acaba, pois está sempre a reencarnar na natureza, iniciando assim um novo ciclo; terceiro e por último, ter em conta que o homem, através das práticas ritualizadas da doutrina, poderá ascender à verdadeira transcendência, rompendo assim com o ciclo da natureza, tornando-se em perfeita harmonia com o Todo. Segundo fontes credíveis, esta corrente tem uns certos laivos de budismo, pois também procura a perfeição do ser humano, unindo-o a Buda, que, neste caso, assumem a forma dos deuses do politeísmo.
Ora, tendo por ambição fundar uma ética e uma reforma políticas, Pitágoras terá sido convidado a sair de Crotona, devido ao seu temperamento e convicções radicais, pois o Pitagorismo constituía uma maior ameaça por ser uma comunidade secreta do que por ser conhecida, levando ainda mais ao extremo os costumes punitivos que já se praticavam no Orfismo. Consta, inclusive, que esta corrente era mesmo uma "confraria secreta", na qual só entravam os que nela eram admitidos, confinando assim o Pitagorismo a um pequeno número de "eleitos". Contudo, eram já trezentos o número de jovens que viviam de acordo com as regras do Pitagorismo e que mantinham os bens em comum, à margem de toda a sociedade. Viviam isolados e não podiam quebrar o voto de silêncio, sob pena de expulsão da confraria. Segundo se diz também, Pitágoras ordenava sacrifícios aos deuses, aludindo às comemorações do deus Apolo em Delfos.
Por todas estas coisas e devido ao enorme secretismo que rodeava a corrente, pouco se sabe em concreto sobre todos os seus usos e costumes, e mesmo sobre a própria vida de Pitágoras. As únicas marcas da passagem do seu tempo são escritos de Filolau, mas que nada provam, pois poderia ter sido tão-somente a teoria deste, descrita noutra personagem meramente inventada. Seja como fôr, o Pitagorismo terá sido a religião de mistérios que mais se difundiu no Ocidente, tendo, supostamente, concorrido com outros líderes ou reformadores religiosos da época, como foram os casos de Gautama Buda, Zoroastro (Zaratustra), Confúcio e Lao Tsé. Pitágoras deve ter conhecido estas correntes de perto, pois terá viajado muito, inclusive em peregrinações. Conforme viveu em datas e partes incertas, também morreu, provavelmente, entre 497-496 a.C, em Metaponto.

Citações mais conhecidas:

Atribuídas ao próprio Pitágoras:

"Pensem o que quiserem de ti; faze aquilo que te parece justo".

"O que fala, semeia - o que escuta, recolhe".

"Ajuda teus semelhantes a levantar sua carga, mas não a carregues".

"Com ordem e com tempo encontra-se o segredo de fazer tudo e tudo fazer bem".


Comentários:

Sobre usos e costumes pitagóricos (fontes provenientes de Aristóteles):

"Não passe por cima de uma balança": significa para não ser ambicioso;

"Não atice o fogo com uma espada": significa para não humilhar com palavras duras um homem a rebentar de cólera;

"Não desfolhe a coroa": significa para não violar as leis;

"Não devore o coração": significa para não se atormentar com o sofrimento;

"Não sente numa ração de trigo": significa para não se viver na ociosidade;

"Quando viajar, não volte atrás": significa quando estiver para morrer, não se deve apegar à vida terrena.

Sobre a doutrina:

"O que ele dizia aos seus companheiros, ninguém o pode referir com segurança; é que entre eles reinava um invulgar silêncio. Mesmo assim, tornou-se universalmente conhecido o seguinte: em primeiro lugar, que ele afirma que a alma é imortal; depois, que ela se muda para outras espécies de seres animados; além disso, que os acontecimentos ocorrem em determinados ciclos, e que nunca nada é absolutamente novo; e por fim, que todos os seres vivos devem ser considerados como aparentados. Segundo parece, Pitágoras foi o primeiro a introduzir essas crenças na Hélade.", (Porfírios)

Uma outra opinião nos foi transmitida acerca da alma... Dizem eles que a alma é uma espécie de harmonia; já que esta é uma mescla e composição de contrários, e o corpo é constituído de contrários., (Aristóteles)


Referências:

Dicionário de Filosofia do Blackburn
O Espiritualismo Ocidental, por Carlos António Fragoso Guimarães (disponível on-line em http://www.geocities.com/Vienna/2809/espiritual.html )
http://www.mundodosfilosofos.com.br/pitagoras.htm
http://warj.med.br/areas.htm (pesquisa sobre Pitagóricos em Filosofia/Religião)

Fonte: http://www.centrovegetariano.org/index.php?article_id=204

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