Mastigação e Nutrição

Muito se tem estudado sobre a influência da mastigação sobre a nutrição. A questão central entre mastigação e nutrição reside no fato de que, se o indivíduo não possui dentes suficientes, os alimentos não são mastigados adequadamente e o alimento é ingerido sem a trituração necessária. Este fato poderia acarretar ao indivíduo uma baixa ingestão de nutrientes essenciais? Esta é uma resposta que se faz necessária, pois, como é sabido, a perda gradual dos dentes é um fato à medida que o indivíduo envelhece. E mesmo a falta de alguns poucos dentes já torna a mastigação comprometida. Este artigo faz um estudo e mostra as pesquisas mais recentes sobre este assunto.

Como se Processam a Mastigação e a Deglutição

É importante tecer considerações sobre a mastigação e como se processa a deglutição dos alimentos. Os incisivos e caninos, são dentes anteriores e cortam os alimentos. Os pré-molares e molares, são dentes posteriores e trituram os alimentos. Para que a mastigação ocorra, músculos como o masséter e o pterigoídeo interno entram neste processo de movimentação da mandíbula (maxilar inferior). Estes músculos localizam-se, respectivamente, na parte externa e interna da mandíbula. O alimento sólido é misturado com a saliva, que contém um componente mucoso, e facilita a suavidade da progressão do alimento. Na ausência de secreção salivar, a deglutição só é possível para os alimentos líquidos ou semilíquidos. A fase da mastigação é voluntária (o indivíduo a realiza por vontade própria). A fase da deglutição é involuntária (independe da vontade do indivíduo).

A fase voluntária, que é a mastigação, começa quando o indivíduo considera que a consistência da massa alimentar está adequada à deglutição. Tendo tomado esta decisão ele põe os dentes do maxilar inferior com os do superior e fixa a base da língua contraindo os músculos. Então, o bolo alimentar, mastigado é movido para trás, pela elevação da ponta da língua. Quando o alimento atinge a faringe (garganta), é iniciada a fase involuntária em que o alimento é deglutido em direção ao esôfago e estômago. Movimentos do esôfago, chamados de movimentos peristálticos, levam o alimento do esôfago para o estômago.

As Evidências Científicas

Um estudo da Universidade de Iowa, EUA, mostrou que perda dos dentes influencia a eficiência e a função mastigatória (1). Um outro estudo, da Universidade de Boston, EUA, examinou a ingestão nutriente em relação ao número de dentes, tipo de prótese e função mastigatória entre 638 homens. Foi encontrado que as ingestões nutrientes de calorias ajustadas diminuia com o status prejudicado da dentição (2).

O Estudo de Saúde Bucal e Nutrição, em Boston, EUA mostrou que pessoas que usavam próteses consumiam carbohidratos e sucrose mais refinados. À medida que o número de dentes diminuia, fibras e cálcio também diminuiam, enquanto o colesterol subia. Estes fatores podem ter uma implicação significativa para a saúde geral (3). De acordo com estudo feito por equipe da Universidade de Genebra, Suíça, a má mutrição em idosos hospitalizados está primariamente associada com a perda recente de dentes ou falta de apetite (4).

A dieta de indivíduos com dentes tenderam a ser superior à dos indivíduos desdentados, como indicado por um consumo mais baixo de gordura e colesterol e um consumo mais alto de proteina e todas as vitaminas e minerais (significativamente, ou quase, pela vitamina A, ácido ascórbico, cálcio e riboflavina) (6).

Conclusões

É correto, face às evidências científicas, concluirmos que a ausência de dentes, principalmente os posteriores, acarreta ao indivíduo uma baixa ingestão de nutrientes essenciais. Significativas porcentagens de pessoas com 65 anos ou mais têm dificuldade ou não conseguem comer pelo menos 4 de 16 comidas (7), e que condições orais precárias estão associadas com a deficiência nutricional em pessoas de bastante idade (8). Estes dados foram resultados de pesquisas realizadas, respectivamente, pelo Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da Faculdade de Medicina de Londres e pela Divisão de Gerontologia da Universidade de Genebra, na Suíça.

Face a tudo isto, os dentistas precisam considerar cuidadosamente a importância de seus pacientes idosos mantendo pelo menos uma parte da dentição natural e prover informação adequada sobre as adaptações nutricionais às próteses (5).



Cláudio Roberto Palombo
Cirurgião Dentista
Pesquisador Associado do NIB/UNICAMP


Bibliografia

1 - Ettinger RL. Changing dietary patterns with changing dentition: how do people cope? Spec Care Dentist 1998 Jan-Feb;18(1):33-9.

2 - Krall E, Hayes C, Garcia R. How dentition status and masticatory function affect nutrient intake. J Am Dent Assoc 1998 Sep;129(9):1261-9.

3 - Papas AS, Joshi A, Giunta JL, Palmer CA. Relationships among education, dentate status, and diet in adults. Spec Care Dentist 1998 Jan-Feb;18(1):26-32.

4 - Dormenval V, Mojon P, Budtz-Jorgensen E. Associations between self-assessed masticatory ability, nutritional status, prosthetic status and salivary flow rate in hospitalized elders. Oral Dis 1999 Jan;5(1):32-8.

5 - Papas AS, Palmer CA, Rounds MC, Russell RM. The effects of denture status on nutrition. Spec Care Dentist 1998 Jan-Feb;18(1):17-25.

6 - Greksa LP, Parraga IM, Clark CA. The dietary adequacy of edentulous older adults. J Prosthet Dent 1995 Feb;73(2):142-5.

7 - Sheiham A, Steele JG, Marcenes W, Finch S, Walls AW. The impact of oral health on stated ability to eat certain foods; findings from the National Diet and Nutrition Survey of Older People in Great Britain. Gerodontology 1999 Jul;16(1):11-20.

8 - Mojon P, Budtz-Jorgensen E, Rapin CH. Relationship between oral health and nutrition in very old people. Age Ageing. 1999 Sep;28(5):4.


Em Inglês

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