A vida menos verde do vizinho



Se alguém pensa que a equação soja e desmatamento é uma exclusividade da Amazônia brasileira, é bom olhar para os vizinhos. A Argentina, que no mês passado enfrentou uma greve de 21 dias de produtores rurais contra o aumento de tarifas de exportação para carne e grãos, já enfrenta um desmatamento acumulado de 16 milhões de hectares, o que corresponde a cinco vezes o tamanho da Bélgica.

Aqui no Brasil, repercutiram muito as notícias da crise que afetou o abastecimento nos supermercados e levou os argentinos às ruas e ao famoso "panelaço", mas pouco se falou sobre o grave viés socioambiental. Segundo a Fundação Proteger (ONG local), só nos últimos quatro anos, o desmatamento acelerou em 42%. No mesmo período, bosques, florestas e Pampas deram lugar a 1 milhão de hectares de áreas plantadas com soja, o que equivale a aproximadamente sete vezes a área da cidade de São Paulo.

A crise que abalou o governo de Cristina Kirchner é, portanto, muito mais complicada do que aparenta. Revela também uma relação que costuma se reproduzir em diferentes partes do mundo: degradação ambiental e pobreza. As cinco cidades mais pobres do país (La Banda-Santiago del Estero, Concordia, Corrientes, Resistencia e Santa Fé) estão na área sojeira. A produção intensiva e altamente mecanizada expulsa produtores familiares e engrossa os bolsões de miséria urbana.

Organizações ambientalistas, como o Greenpeace, aproveitaram a baderna para reivindicar também uma agenda socioambiental (foto). Querem que se aprove uma lei de bosques que proíba novos desmatamentos durante um ano até que se faça um Zoneamento-Econômico-Ecológico em toda a Argentina. Mas as perspectivas não são das mais animadoras... Se os ruralistas hermanos conseguem paralisar o país, barrar estradas, afetar o mercado de alimentos durante quase um mês, tudo isso por conta de um aumento de tarifas, estarão um dia dispostos a aceitar qualquer restrição ambiental?

Fonte: Planeta Sustentável - 07/04/2008



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