moda sustentavel
Sua roupa agride a natureza?
Tecidos orgânicos, corantes inofensivos e técnicas que protegem o meio ambiente começam a emplacar na linha de produção
Por Cristiane Ballerini
Revista Claudia - 04/2008
As marcas líderes de roupas ecológicas tiveram um crescimento de 70% nas vendas em 2006. Esse é o resultado de uma pesquisa feita no Reino Unido e divulgada pelo jornal Daily Telegraph. O que nós temos com isso? Muito. A indústria têxtil está entre as quatro que mais consomem recursos naturais, como água e combustíveis fósseis, de acordo com o Environmental Protection Agency, órgão americano que monitora a emissão de poluentes no mundo. Somente a cultura de algodão é responsável por cerca de 30% da utilização de pesticidas na Terra, contaminando o solo e os rios. Ou seja, a busca por matérias-primas alternativas e renováveis é hoje um dos principais desafios do setor. E está mais do que na hora de o Brasil - e nós, consumidoras brasileiras - entrar para valer nessa moda verde. O bom é que já tem gente daqui fazendo bonito.
[img01]A grife brasileira Osklen, do Rio de Janeiro, desde sua criação, em 1989, experimenta novos usos para materiais já conhecidos. No momento, a marca desenvolve uma sandália de dedo feita de PVC reciclado e também uma sacola de juta que levará dois anos para se degradar no meio ambiente - tremenda conquista, se comparada aos 100 anos necessários, no mínimo, para a degradação natural de uma sacola plástica.
"Tem gente que já chega às nossas lojas perguntando pelos produtos ecológicos", conta Nina Braga, diretora do Institutoe, vinculado à grife. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos idealizada pelo estilista Oskar Metsavaht, criador da marca, que mapeia matérias-primas de origem sustentável no país. "Nosso objetivo é oferecer informação para que outras marcas possam trabalhar com materiais que respeitam a biodiversidade, como tecidos orgânicos, artesanato produzido por cooperativas e reciclados", esclarece Nina. Metsavaht também apoiou um projeto para monitorar baleias por satélite desenvolvido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2005, e a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, em 2006. Além dele, estilistas como Gloria Coelho, Lino Villaventura e Fause Haten já criaram peças com materiais sustentáveis: sim, é possível preservar a natureza com elegância.
IMPACTO NO BOLSO
Por enquanto, é preciso mais do que consciência ambiental para optar pela moda ecológica. Devido à escala de produção pequena e à oferta inconstante de matéria-prima, boa parte desses produtos é cara. Uma camiseta de algodão feita de tecido orgânico, por exemplo, custa três vezes mais do que uma produzida pelos métodos tradicionais. Mas algumas iniciativas começam a mudar esse panorama.
Desde o ano passado, parceria entre Hanesbrands, dona da marca Zorba no Brasil, a rede varejista Wal-Mart e a Embrapa permite a fabricação de roupas sustentáveis a preços populares. São camisetas, calcinhas, cuecas e bodies para bebês confeccionados com algodão cru ou orgânico, além de outras fibras, como o bambu. "O Brasil ainda não tem auto-suficiência em produção de algodão orgânico", explica Adriana Ramalho, diretora de desenvolvimento do Wal-Mart. "Por isso, buscamos fibras alternativas. A estratégia é colaborar com a produção e o desenvolvimento de novas tecnologias e manter o preço acessível para ganhar em escala. Assim, tentamos romper com o padrão de que a roupa ecologicamente correta precisa custar mais."
Com o crescente interesse do público - a cueca de fibra de bambu vendeu 20% acima da expectativa -, a empresa promete novidades com outras fibras em estudo, como o milho e a soja. "É uma tendência ligada à democratização da moda e à consciência ambiental. A camiseta mais vendida da linha é a que traz o símbolo da reciclagem. Isso mostra que as pessoas querem ser vistas como antenadas, já que ser sustentável está na moda", diz Milena Rossi, coordenadora de estilo do Wal-Mart.
No caso do bambu, que também substitui o algodão em 26 modelos da coleção da marca carioca Redley, as vantagens ambientais são evidentes: uma plantação de pinus leva sete anos para produzir 3 mil árvores; já o bambu precisa de três anos para produzir 10 mil árvores no mesmo espaço, ainda dispensa o uso de pesticidas, não causa erosão e só requer água para crescer. Mas os especialistas alertam: nem sempre as roupas feitas de fibras alternativas podem ser consideradas "produtos sustentáveis". Se o cultivo implicar a derrubada de florestas, envolver mão-de-obra infantil, exploração de trabalhadores rurais ou exigir muito combustível no transporte, os danos ambientais e sociais anulam os benefícios. Por isso, informação é fundamental para quem quer comprar produtos ecológicos. "Com o tempo", prevê Beatriz Saldanha, uma das fundadoras do Partido Verde no Brasil, "o consumidor exigirá que os dados de procedência e produção estejam à vista, como já acontece com alguns produtos alimentícios estrangeiros."
Ao lado do sócio, João Fortes, Beatriz desenvolveu, há 17 anos, a técnica para a fabricação do Treetap®, o couro vegetal, feito com tecido 100% algodão banhado em borracha extraída da seringueira nativa e vulcanizada em estufas especiais. Foi preciso investir 1 milhão de dólares e alguns anos de pesquisa para criar um material bonito, durável e que viabilizasse o sustento e a permanência das famílias de seringueiros na Amazônia. "Eles são os guardiões da floresta. Como vivem do manejo sustentável da região, sua presença é garantia de que não haverá desmatamento", explica Beatriz. Hoje, a Treetap® virou nome do negócio e emprega 50 famílias. Já foi premiada pelo Banco Mundial e pela Fundação Getulio Vargas e pretende expandir sua atuação este ano, vendendo matéria-prima para outras marcas.
GENTE GRANDE
Na maior empresa de vestuário do Brasil, a Hering, as questões ambientais chegaram à linha de produção. Marcelo Toledo, gerente da área de desenvolvimento de estamparia, diz que a empresa fica atenta aos detalhes no processo de fabricação. Muitos corantes pretos, por exemplo, deixam resíduos de enxofre na água, dificultando a limpeza dos efluentes. Preferimos pagar mais caro e utilizar um corante preto mais seguro", revela Marcelo. Na marca infantil da Hering, a PUC, há uma linha "rústica", que não emprega corantes e usa o mínimo de produtos químicos e alvejantes. Agora, a empresa estuda limpar e amaciar o algodão com argila. O tratamento dos jeans, lavados com cloro e outros produtos agressivos para o meio ambiente, também poderá passar por mudanças. Empresas menores, a pedido da Hering, já produzem parte dos jeans com desbotamento por gás ozônio. "A idéia é repassar os novos conhecimentos para outras linhas da empresa", afirma Marcelo.
Na hora de comprar, informe-se sobre a procedência dos produtos e deixe clara sua preferência pelos sustentáveis. Se uma indústria utiliza mão-de-obra infantil ou polui os rios, boicote seus produtos. Exercer seu poder de consumidora é uma ótima forma de pressionar os fabricantes a adotar tecnologias que não agridam o meio ambiente e a sociedade.
GUARDA-ROUPA VERDE
Planeje antes de comprar
Nada de compra por impulso. Você gasta dinheiro, perde espaço no armário e causa impacto ambiental pela fabricação e transporte das mercadorias.
Evite a lavagem a seco
Máquinas de lavar a seco usam tetracloroetileno, substância cancerígena. Procure o wet cleaning ou CO2 líquido. Muitas peças que antes eram lavadas a seco já podem ser lavadas à mão, especialmente de seda, lã e linho; olhe a etiqueta.
Lave bem
Para economizar energia, água e sabão, junte bastante roupa antes de ligar a máquina. Escolha sabão e tira-manchas biodegradáveis e livres de fosfato. Ao comprar lavadora e ferro, verifique se o produto tem o selo Procel de Economia de Energia Elétrica.
Diga sim aos brechós
E a bazares, feirinhas e até trocas entre amigas: são ótimas pedidas.
Vista orgânicos com selo
Prefira sempre as roupas confeccionadas com tecidos orgânicos que possuam selo de autenticação.
Encontre nova utilidade
Reinvente o uso de roupas e acessórios antigos. Seu armário guarda peças com potencial fashion. Para ajustes, vá à costureira. Doe o que não usa mais.
Escolha roupas "éticas"
Várias empresas aumentam os lucros com práticas ilegais e antiéticas, como o subemprego. Saiba como atuam os fabricantes de suas roupas. Valorize os que respeitam o meio ambiente e a sociedade.
Invista em peças artesanais
Apóie iniciativas de artesãos que criam com base em reciclados. Fontes Portal TreeHugger [www.treehugger.com] e Instituto Akatu [www.akatu.org.br]. Veja também o Manaul de Etiqueta do Planeta Sustentável [http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/cartilha/]
Leia também:
A nova moda
[http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/noticia/atitude/conteudo_245161.shtml]
moda sustentavel
Tecidos orgânicos, corantes inofensivos e técnicas que protegem o meio ambiente começam a emplacar na linha de produção
As marcas líderes de roupas ecológicas tiveram um crescimento de 70% nas vendas em 2006. Esse é o resultado de uma pesquisa feita no Reino Unido e divulgada pelo jornal Daily Telegraph. O que nós temos com isso? Muito. A indústria têxtil está entre as quatro que mais consomem recursos naturais, como água e combustíveis fósseis, de acordo com o Environmental Protection Agency, órgão americano que monitora a emissão de poluentes no mundo. Somente a cultura de algodão é responsável por cerca de 30% da utilização de pesticidas na Terra, contaminando o solo e os rios. Ou seja, a busca por matérias-primas alternativas e renováveis é hoje um dos principais desafios do setor. E está mais do que na hora de o Brasil - e nós, consumidoras brasileiras - entrar para valer nessa moda verde. O bom é que já tem gente daqui fazendo bonito.
[img01]A grife brasileira Osklen, do Rio de Janeiro, desde sua criação, em 1989, experimenta novos usos para materiais já conhecidos. No momento, a marca desenvolve uma sandália de dedo feita de PVC reciclado e também uma sacola de juta que levará dois anos para se degradar no meio ambiente - tremenda conquista, se comparada aos 100 anos necessários, no mínimo, para a degradação natural de uma sacola plástica.
"Tem gente que já chega às nossas lojas perguntando pelos produtos ecológicos", conta Nina Braga, diretora do Institutoe, vinculado à grife. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos idealizada pelo estilista Oskar Metsavaht, criador da marca, que mapeia matérias-primas de origem sustentável no país. "Nosso objetivo é oferecer informação para que outras marcas possam trabalhar com materiais que respeitam a biodiversidade, como tecidos orgânicos, artesanato produzido por cooperativas e reciclados", esclarece Nina. Metsavaht também apoiou um projeto para monitorar baleias por satélite desenvolvido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2005, e a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, em 2006. Além dele, estilistas como Gloria Coelho, Lino Villaventura e Fause Haten já criaram peças com materiais sustentáveis: sim, é possível preservar a natureza com elegância.
IMPACTO NO BOLSO
Por enquanto, é preciso mais do que consciência ambiental para optar pela moda ecológica. Devido à escala de produção pequena e à oferta inconstante de matéria-prima, boa parte desses produtos é cara. Uma camiseta de algodão feita de tecido orgânico, por exemplo, custa três vezes mais do que uma produzida pelos métodos tradicionais. Mas algumas iniciativas começam a mudar esse panorama.
Desde o ano passado, parceria entre Hanesbrands, dona da marca Zorba no Brasil, a rede varejista Wal-Mart e a Embrapa permite a fabricação de roupas sustentáveis a preços populares. São camisetas, calcinhas, cuecas e bodies para bebês confeccionados com algodão cru ou orgânico, além de outras fibras, como o bambu. "O Brasil ainda não tem auto-suficiência em produção de algodão orgânico", explica Adriana Ramalho, diretora de desenvolvimento do Wal-Mart. "Por isso, buscamos fibras alternativas. A estratégia é colaborar com a produção e o desenvolvimento de novas tecnologias e manter o preço acessível para ganhar em escala. Assim, tentamos romper com o padrão de que a roupa ecologicamente correta precisa custar mais."
Com o crescente interesse do público - a cueca de fibra de bambu vendeu 20% acima da expectativa -, a empresa promete novidades com outras fibras em estudo, como o milho e a soja. "É uma tendência ligada à democratização da moda e à consciência ambiental. A camiseta mais vendida da linha é a que traz o símbolo da reciclagem. Isso mostra que as pessoas querem ser vistas como antenadas, já que ser sustentável está na moda", diz Milena Rossi, coordenadora de estilo do Wal-Mart.
No caso do bambu, que também substitui o algodão em 26 modelos da coleção da marca carioca Redley, as vantagens ambientais são evidentes: uma plantação de pinus leva sete anos para produzir 3 mil árvores; já o bambu precisa de três anos para produzir 10 mil árvores no mesmo espaço, ainda dispensa o uso de pesticidas, não causa erosão e só requer água para crescer. Mas os especialistas alertam: nem sempre as roupas feitas de fibras alternativas podem ser consideradas "produtos sustentáveis". Se o cultivo implicar a derrubada de florestas, envolver mão-de-obra infantil, exploração de trabalhadores rurais ou exigir muito combustível no transporte, os danos ambientais e sociais anulam os benefícios. Por isso, informação é fundamental para quem quer comprar produtos ecológicos. "Com o tempo", prevê Beatriz Saldanha, uma das fundadoras do Partido Verde no Brasil, "o consumidor exigirá que os dados de procedência e produção estejam à vista, como já acontece com alguns produtos alimentícios estrangeiros."
Ao lado do sócio, João Fortes, Beatriz desenvolveu, há 17 anos, a técnica para a fabricação do Treetap®, o couro vegetal, feito com tecido 100% algodão banhado em borracha extraída da seringueira nativa e vulcanizada em estufas especiais. Foi preciso investir 1 milhão de dólares e alguns anos de pesquisa para criar um material bonito, durável e que viabilizasse o sustento e a permanência das famílias de seringueiros na Amazônia. "Eles são os guardiões da floresta. Como vivem do manejo sustentável da região, sua presença é garantia de que não haverá desmatamento", explica Beatriz. Hoje, a Treetap® virou nome do negócio e emprega 50 famílias. Já foi premiada pelo Banco Mundial e pela Fundação Getulio Vargas e pretende expandir sua atuação este ano, vendendo matéria-prima para outras marcas.
GENTE GRANDE
Na maior empresa de vestuário do Brasil, a Hering, as questões ambientais chegaram à linha de produção. Marcelo Toledo, gerente da área de desenvolvimento de estamparia, diz que a empresa fica atenta aos detalhes no processo de fabricação. Muitos corantes pretos, por exemplo, deixam resíduos de enxofre na água, dificultando a limpeza dos efluentes. Preferimos pagar mais caro e utilizar um corante preto mais seguro", revela Marcelo. Na marca infantil da Hering, a PUC, há uma linha "rústica", que não emprega corantes e usa o mínimo de produtos químicos e alvejantes. Agora, a empresa estuda limpar e amaciar o algodão com argila. O tratamento dos jeans, lavados com cloro e outros produtos agressivos para o meio ambiente, também poderá passar por mudanças. Empresas menores, a pedido da Hering, já produzem parte dos jeans com desbotamento por gás ozônio. "A idéia é repassar os novos conhecimentos para outras linhas da empresa", afirma Marcelo.
Na hora de comprar, informe-se sobre a procedência dos produtos e deixe clara sua preferência pelos sustentáveis. Se uma indústria utiliza mão-de-obra infantil ou polui os rios, boicote seus produtos. Exercer seu poder de consumidora é uma ótima forma de pressionar os fabricantes a adotar tecnologias que não agridam o meio ambiente e a sociedade.
GUARDA-ROUPA VERDE
Planeje antes de comprar
Nada de compra por impulso. Você gasta dinheiro, perde espaço no armário e causa impacto ambiental pela fabricação e transporte das mercadorias.
Evite a lavagem a seco
Máquinas de lavar a seco usam tetracloroetileno, substância cancerígena. Procure o wet cleaning ou CO2 líquido. Muitas peças que antes eram lavadas a seco já podem ser lavadas à mão, especialmente de seda, lã e linho; olhe a etiqueta.
Lave bem
Para economizar energia, água e sabão, junte bastante roupa antes de ligar a máquina. Escolha sabão e tira-manchas biodegradáveis e livres de fosfato. Ao comprar lavadora e ferro, verifique se o produto tem o selo Procel de Economia de Energia Elétrica.
Diga sim aos brechós
E a bazares, feirinhas e até trocas entre amigas: são ótimas pedidas.
Vista orgânicos com selo
Prefira sempre as roupas confeccionadas com tecidos orgânicos que possuam selo de autenticação.
Encontre nova utilidade
Reinvente o uso de roupas e acessórios antigos. Seu armário guarda peças com potencial fashion. Para ajustes, vá à costureira. Doe o que não usa mais.
Escolha roupas "éticas"
Várias empresas aumentam os lucros com práticas ilegais e antiéticas, como o subemprego. Saiba como atuam os fabricantes de suas roupas. Valorize os que respeitam o meio ambiente e a sociedade.
Invista em peças artesanais
Apóie iniciativas de artesãos que criam com base em reciclados. Fontes Portal TreeHugger [www.treehugger.com] e Instituto Akatu [www.akatu.org.br]. Veja também o Manaul de Etiqueta do Planeta Sustentável [http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/cartilha/]
Leia também:
A nova moda
[http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/noticia/atitude/conteudo_245161.shtml]
As marcas líderes de roupas ecológicas tiveram um crescimento de 70% nas vendas em 2006. Esse é o resultado de uma pesquisa feita no Reino Unido e divulgada pelo jornal Daily Telegraph. O que nós temos com isso? Muito. A indústria têxtil está entre as quatro que mais consomem recursos naturais, como água e combustíveis fósseis, de acordo com o Environmental Protection Agency, órgão americano que monitora a emissão de poluentes no mundo. Somente a cultura de algodão é responsável por cerca de 30% da utilização de pesticidas na Terra, contaminando o solo e os rios. Ou seja, a busca por matérias-primas alternativas e renováveis é hoje um dos principais desafios do setor. E está mais do que na hora de o Brasil - e nós, consumidoras brasileiras - entrar para valer nessa moda verde. O bom é que já tem gente daqui fazendo bonito.
Carlos Cubi
A grife brasileira Osklen, do Rio de Janeiro, desde sua criação, em 1989, experimenta novos usos para materiais já conhecidos. No momento, a marca desenvolve uma sandália de dedo feita de PVC reciclado e também uma sacola de juta que levará dois anos para se degradar no meio ambiente - tremenda conquista, se comparada aos 100 anos necessários, no mínimo, para a degradação natural de uma sacola plástica.
"Tem gente que já chega às nossas lojas perguntando pelos produtos ecológicos", conta Nina Braga, diretora do Institutoe, vinculado à grife. Trata-se de uma associação sem fins lucrativos idealizada pelo estilista Oskar Metsavaht, criador da marca, que mapeia matérias-primas de origem sustentável no país. "Nosso objetivo é oferecer informação para que outras marcas possam trabalhar com materiais que respeitam a biodiversidade, como tecidos orgânicos, artesanato produzido por cooperativas e reciclados", esclarece Nina. Metsavaht também apoiou um projeto para monitorar baleias por satélite desenvolvido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em 2005, e a Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, em 2006. Além dele, estilistas como Gloria Coelho, Lino Villaventura e Fause Haten já criaram peças com materiais sustentáveis: sim, é possível preservar a natureza com elegância.
IMPACTO NO BOLSO
Por enquanto, é preciso mais do que consciência ambiental para optar pela moda ecológica. Devido à escala de produção pequena e à oferta inconstante de matéria-prima, boa parte desses produtos é cara. Uma camiseta de algodão feita de tecido orgânico, por exemplo, custa três vezes mais do que uma produzida pelos métodos tradicionais. Mas algumas iniciativas começam a mudar esse panorama.
Desde o ano passado, parceria entre Hanesbrands, dona da marca Zorba no Brasil, a rede varejista Wal-Mart e a Embrapa permite a fabricação de roupas sustentáveis a preços populares. São camisetas, calcinhas, cuecas e bodies para bebês confeccionados com algodão cru ou orgânico, além de outras fibras, como o bambu. "O Brasil ainda não tem auto-suficiência em produção de algodão orgânico", explica Adriana Ramalho, diretora de desenvolvimento do Wal-Mart. "Por isso, buscamos fibras alternativas. A estratégia é colaborar com a produção e o desenvolvimento de novas tecnologias e manter o preço acessível para ganhar em escala. Assim, tentamos romper com o padrão de que a roupa ecologicamente correta precisa custar mais."
Com o crescente interesse do público - a cueca de fibra de bambu vendeu 20% acima da expectativa -, a empresa promete novidades com outras fibras em estudo, como o milho e a soja. "É uma tendência ligada à democratização da moda e à consciência ambiental. A camiseta mais vendida da linha é a que traz o símbolo da reciclagem. Isso mostra que as pessoas querem ser vistas como antenadas, já que ser sustentável está na moda", diz Milena Rossi, coordenadora de estilo do Wal-Mart.
No caso do bambu, que também substitui o algodão em 26 modelos da coleção da marca carioca Redley, as vantagens ambientais são evidentes: uma plantação de pinus leva sete anos para produzir 3 mil árvores; já o bambu precisa de três anos para produzir 10 mil árvores no mesmo espaço, ainda dispensa o uso de pesticidas, não causa erosão e só requer água para crescer. Mas os especialistas alertam: nem sempre as roupas feitas de fibras alternativas podem ser consideradas "produtos sustentáveis". Se o cultivo implicar a derrubada de florestas, envolver mão-de-obra infantil, exploração de trabalhadores rurais ou exigir muito combustível no transporte, os danos ambientais e sociais anulam os benefícios. Por isso, informação é fundamental para quem quer comprar produtos ecológicos.
"Com o tempo", prevê Beatriz Saldanha, uma das fundadoras do Partido Verde no Brasil, "o consumidor exigirá que os dados de procedência e produção estejam à vista, como já acontece com alguns produtos alimentícios estrangeiros."
Ao lado do sócio, João Fortes, Beatriz desenvolveu, há 17 anos, a técnica para a fabricação do Treetap®, o couro vegetal, feito com tecido 100% algodão banhado em borracha extraída da seringueira nativa e vulcanizada em estufas especiais. Foi preciso investir 1 milhão de dólares e alguns anos de pesquisa para criar um material bonito, durável e que viabilizasse o sustento e a permanência das famílias de seringueiros na Amazônia. "Eles são os guardiões da floresta. Como vivem do manejo sustentável da região, sua presença é garantia de que não haverá desmatamento", explica Beatriz. Hoje, a Treetap® virou nome do negócio e emprega 50 famílias. Já foi premiada pelo Banco Mundial e pela Fundação Getulio Vargas e pretende expandir sua atuação este ano, vendendo matéria-prima para outras marcas.
GENTE GRANDE
Na maior empresa de vestuário do Brasil, a Hering, as questões ambientais chegaram à linha de produção. Marcelo Toledo, gerente da área de desenvolvimento de estamparia, diz que a empresa fica atenta aos detalhes no processo de fabricação. Muitos corantes pretos, por exemplo, deixam resíduos de enxofre na água, dificultando a limpeza dos efluentes. Preferimos pagar mais caro e utilizar um corante preto mais seguro", revela Marcelo. Na marca infantil da Hering, a PUC, há uma linha "rústica", que não emprega corantes e usa o mínimo de produtos químicos e alvejantes. Agora, a empresa estuda limpar e amaciar o algodão com argila. O tratamento dos jeans, lavados com cloro e outros produtos agressivos para o meio ambiente, também poderá passar por mudanças. Empresas menores, a pedido da Hering, já produzem parte dos jeans com desbotamento por gás ozônio. "A idéia é repassar os novos conhecimentos para outras linhas da empresa", afirma Marcelo.
Na hora de comprar, informe-se sobre a procedência dos produtos e deixe clara sua preferência pelos sustentáveis. Se uma indústria utiliza mão-de-obra infantil ou polui os rios, boicote seus produtos. Exercer seu poder de consumidora é uma ótima forma de pressionar os fabricantes a adotar tecnologias que não agridam o meio ambiente e a sociedade.
GUARDA-ROUPA VERDE
Planeje antes de comprar
Nada de compra por impulso. Você gasta dinheiro, perde espaço no armário e causa impacto ambiental pela fabricação e transporte das mercadorias.
Evite a lavagem a seco
Máquinas de lavar a seco usam tetracloroetileno, substância cancerígena. Procure o wet cleaning ou CO2 líquido. Muitas peças que antes eram lavadas a seco já podem ser lavadas à mão, especialmente de seda, lã e linho; olhe a etiqueta.
Lave bem
Para economizar energia, água e sabão, junte bastante roupa antes de ligar a máquina. Escolha sabão e tira-manchas biodegradáveis e livres de fosfato. Ao comprar lavadora e ferro, verifique se o produto tem o selo Procel de Economia de Energia Elétrica.
Diga sim aos brechós
E a bazares, feirinhas e até trocas entre amigas: são ótimas pedidas.
Vista orgânicos com selo
Prefira sempre as roupas confeccionadas com tecidos orgânicos que possuam selo de autenticação.
Encontre nova utilidade
Reinvente o uso de roupas e acessórios antigos. Seu armário guarda peças com potencial fashion. Para ajustes, vá à costureira. Doe o que não usa mais.
Escolha roupas "éticas"
Várias empresas aumentam os lucros com práticas ilegais e antiéticas, como o subemprego. Saiba como atuam os fabricantes de suas roupas. Valorize os que respeitam o meio ambiente e a sociedade.
Invista em peças artesanais
Apóie iniciativas de artesãos que criam com base em reciclados. Fontes Portal TreeHugger [www.treehugger.com] e Instituto Akatu [www.akatu.org.br]. Veja também o Manaul de Etiqueta do Planeta Sustentável [http://planetasustentavel.abril.uol.com.br/cartilha/]
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A nova moda
[
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