Conferência de Bali busca acordo climático

Conferência de Bali busca acordo climático global em 2009


Cerca de 190 nações vão se reunir a partir de segunda-feira na ilha de Bali, na Indonésia, para levar adiante o "frágil entendimento" de que a luta contra o aquecimento global precisa ser estendida a todos os países, com um acordo mundial a ser fechado em 2009.


As conversas entre 3 e 14 de dezembro num idílico resort fortemente vigiado, envolvendo mais de 10 mil delegados, visam iniciar negociações para chegar, dentro de dois anos, a um novo acordo da ONU que deve incluir os países que não aderiram ao Protocolo de Kyoto.


Até agora, apenas 36 países industrializados signatários do Protocolo de Kyoto obedecem aos limites impostos às emissões de gases válidos até 2012. Mas os relatórios sombrios lançados pela ONU este ano, avisando sobre a chegada de mais ondas de calor, secas e a ascensão do nível do mar, dizem que é urgentemente necessária a adoção de limites em todo o mundo.


Entretanto, calcular as parcelas justas de redução de emissões, principalmente da queima de combustíveis fósseis, lançadas por países ricos e os pobres será um quebra-cabeças tremendo.


Num relatório feito após um conjunto de conversações promovidas pela ONU para estudar novas maneiras de combater as mudanças climáticas desde 2005, o australiano Howard Bamsey e a sul-africana Sandea De Wet disseram: "Não ouvimos ninguém contestar a idéia de que os países desenvolvidos precisam liderar o esforço de redução".


Eles disseram que existe um consenso de que é preciso fazer mais, mas há discordâncias sobre como isso deve ser realizado. Alguns países se dispõem a reduzir mais as emissões de gases, outros disseram que as promessas existentes precisam ser cumpridas e há os que pediram incentivos para se unir ao esforço de redução.


As perspectivas de se chegar a um pacto global foram reforçadas pela decisão tomada pelo presidente norte-americano, George W. Bush, de que os EUA participarão em 2012.

Bush se opõe ao tratado de Kyoto, que vê como ameaça ao crescimento econômico dos EUA e algo que exclui injustamente os países pobres da obrigação de cumprir metas.


"Gostaríamos de ver um mapa do caminho traçado em Bali", disse Paula Dobrinsky, subsecretária de Estado norte-americana para Democracia e Assuntos Globais. "Queremos ir a Bali com abertura e flexibilidade."


As Nações Unidas querem que um novo pacto seja acordado em conferência da ONU a ser realizada em 2009 em Copenhague - quando Bush já terá deixado a Casa Branca. É provável que muitos países queiram esperar para ver qual será a linha seguida pelo próximo presidente dos EUA.


Por Alister Doyle e Gerard Wynn

Fontes: Terra
Reuters

Derretimento abre passagem entre Europa e Ásia

A ESA, a agência espacial européia, divulgou um gráfico do Oceano Ártico que mostra a abertura de uma passagem marítima entre Europa e Ásia, historicamente conhecida por ser intransponível, segundo informações da AFP, nesta sexta-feira.

De acordo com a imagem, captada pelo satélite Envisat ASAR, a Passagem Noroeste está com o caminho aberto devido ao derretimento recorde das geleiras. O fênomeno afetou também a Passagem Nordeste que está parcialmente bloqueada.

Segundo a ESA, foram registrados os maiores níveis de derretimento, desde que a agência começou a monitorar a região no início de 1978. Um dos principais responsáveis pelo degelo é o aquecimento global.




No gráfico, a cor laranja representa a Passagem Noroeste, agora livre do gelo; a cor azul mostra a Passagem Nordeste parcialmente bloqueada

China divide posto de vilã e heróina do aquecimento

O grande paradoxo da China é que, dentro de pouco anos, o país será ao mesmo tempo o maior responsável pelas emissões de poluentes e o que mais se esforça para reduzir suas emissões e seu consumo de energia. Exemplo de pais que chegou tarde a um modelo de desenvolvimento caduco inventado pelos ocidentais, a China se vê obrigada a combinar, em uma corrida esquizofrênica, industrialização e desindustrialização, emissão de poluentes e defesa do meio ambiente.

Sua condição de "fábrica do mundo", sob o paradigma da divisão internacional de trabalho, oferece ainda outros paradoxos. Cerca de 27% do consumo atual de energia do país se destinam, hoje, à produção de bens que serão vendidos fora da China, de acordo com um estudo da academia chinesa de ciências sociais e do grupo ambientalista WWF. Mas as emissões geradas por esses 27% são contabilizadas como parte das atividades econômicas chinesas.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE), em 2030 a China emitirá duas vezes mais gases responsáveis pelo efeito-estufa do que os Estados Unidos (o equivalente a 28% das emissões mundiais), terá um dos maiores parques automobilísticos do planeta, responderá por 30% da demanda adicional de energia surgida daqui até lá e por metade das emissões dos países em desenvolvimento. Ao mesmo tempo, a China será líder em energias renováveis. No ano passado, o país investiu US$ 10 bilhões dos US$ 50 bilhões que o planeta dedicou a esse segmento. É o país que mais gasta com isso, depois da Alemanha, e dentro de três anos a expectativa é de que tenha superado Europa, Japão e América do Norte como principal fabricante de células fotovoltaicas e equipamentos para energia solar, o que reduziria os preços desses produtos no mercado mundial até torná-los competitivos sem necessidade de subsídios governamentais. A lei chinesa de energias renováveis dispõe que em 2030 o país gere 30% de sua energia sem utilizar combustíveis fósseis.

Mas nada disso vai impedir que o país contamine mais a cada ano, porque as previsões de aumento de seu consumo e demanda energética são tão gigantescas que anulam quaisquer benefícios derivados dos ganhos de eficiência energética ou do uso de fontes renováveis. A demanda de eletricidade vai aumentar em razão de 7,6% anuais até 2015, e em cerca de 5% ao ano de lá até 2030. E esse frenesi todo será alimentado por carvão. Em 2030, o carvão, que hoje atende 74% das necessidades chinesas de energia, continuará a ser o principal recurso energético da Ásia, coma Índia e China responsável por 60% do aumento nas emissões de dióxido de carbono.

O que alimenta esse frenesi é o anseio de um quinto da população do planeta por deixar de ser pobre. A principal prioridade da China é o crescimento. Em 2020, a força de trabalho chinesa será de mais de 900 milhões de pessoas, 300 milhões a mais que a força de trabalho agregada de todos os países desenvolvidos.

Gerar emprego para essa massa, em meio a uma enorme onda de urbanização, é a prioridade nacional. Desde 1978, a China optou por uma estratégia de urbanização, algo que havia evitado até então. Entre 1978 e 2003, a população urbana triplicou, atingindo os 520 milhões. Cerca de 400 milhões de camponeses a mais devem migrar para as cidades do país nos próximos 30 anos. Os cidadãos urbanos consomem 3,5 vezes mais energia do que seus homólogos rurais.

A preocupação de não colocar em risco o desenvolvimento econômico ou a estabilidade do regime não deixa muito espaço de manobra à China. Isso explica a insistência em um crescimento sustentado de 7%, para que o avião não caia. Qualquer compromisso que venha a ser aceito em termos de controle de emissões será visto como ameaça ao desenvolvimento, e é por isso que a China chega a Bali rechaçando todas as medidas que limitem suas emissões de dióxido de carbono. O país alega que não tem responsabilidade histórica pelo aquecimento global, e distingue entre as "emissões de luxo" dos países desenvolvidos e as "emissões de sobrevivência" dos países em desenvolvimento.

A opinião pública do país demonstra grande ignorância no que tange à questão das alterações climáticas. "O país discute, acima de tudo, o impacto do aquecimento global sobre sua situação específica, mais do que as conseqüências mundiais do fenômeno", diz o professor Jiang Jiasi, da Universidade de Pequim. No que tange às atitudes de consumo, a maioria absoluta da população chinesa emprega energia de maneira muito frugal, gastando pouco e reciclando muito. Dois terços da população participam da economia de mercado de maneira apenas marginal. Mas, por outro lado, os consumidores mais ricos do país costumam desperdiçar muito. A opção pelos carros de grande porte é muito mais comum na China do que na Europa. E nos jantares de cerimônia do país, é raro que não sobre pelo menos metade da comida.

"As alterações climáticas são responsabilidade dos ricos de todo o mundo, entre os quais os ricos chineses": o professor Pan Jiahua, que comanda a delegação extra-oficial enviada pela China a Bali, concorda com essa afirmação, e acrescenta que "os países desenvolvidos deveriam liderar pelo exemplo".

Tradução: Paulo Migliacci ME

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