Convenção desencoraja 'fertilização' do oceano
Os participantes na Convenção de Londres, um tratado internacional que governa a poluição oceânica, concordaram que a 'fertilização' do oceano em larga escala ainda não se justifica, dadas as lacunas no conhecimento científico.
A convenção, que regula actividades como a despejar de lixo no mar, ainda não tinha tomado posição sobre a questão de despejar nutrientes no oceano com o objectivo de promover o crescimento do plâncton.
Esse tipo de projecto tem sido proposto para ajudar a aumentar a produtividade dos oceanos e assim aumentar a absorção de dióxido de carbono da atmosfera, combatendo as alterações climáticas. Mas os críticos alertam que pouco se sabe acerca dos efeitos ecológicos do despejar de grandes quantidades de nutrientes no mar.
No seu encontro em Londres na semana passada, a convenção apoiou as preocupações veiculadas em Junho pelo seu grupo de aconselhamento científico acerca dos possíveis efeitos das actividades de fertilização em larga escala.
Representantes de 35 países concordaram que todas as formas de fertilização oceânica devem estar sob a fiscalização da convenção. Concordaram em estudar o assunto mais a fundo e criar regras que governem esse tipo de procedimento, de preferência até ao próximo ano. As regras serão vinculativas para os países que assinaram o tratado mas até lá, urgem as autoridades marítimas nacionais a usar "a máxima cautela" na consideração de propostas para operações de fertilização dos oceanos em larga escala.
Os grupos ambientalistas aplaudiram a decisão. “Ficámos muito satisfeitos com a decisão", diz David Santillo, da unidade científica da Greenpeace em Exeter, Reino Unido. “Esta intenção de regular a fertilização dos oceanos tem muito peso político, e a ideia de que esse tipo de operação não deve prosseguir neste momento é a mensagem clara que esperávamos obter."
No passado, experiências científicas já criaram florescimentos de algas ao despejar ferro ou outros nutrientes em zonas do oceano mas as descobertas acerca da captura de carbono e dos efeitos sobre os ecossistemas marinhos foram ambíguas. Os métodos ainda não foram aplicados em larga escala ou a nível comercial.
Várias companhias privadas, incluindo a Planktos com sede em Foster City, Califórnia, planeiam fertilizar zonas do oceano com ferro, tendo em vista gerar créditos de carbono verificáveis que possam ser vendidos nos mercados em vias de desenvolvimento de emissões de gases de efeito de estufa.
A companhia australiana Ocean Nourishment Corporation em New South Wales também planeia testar a ideia, nesse caso usando ureia como fertilizante à base de azoto. A companhia pretende despejar 500 toneladas de ureia dissolvida no mar Sulu entre o Bornéu e as Filipinas.
“Não temos uma data precisa para a realização da experiência", diz John Ridley, director de gestão da corporação. “É parte do nosso programa para demonstrar a exequibilidade da fertilização do oceano." A companhia ainda não apresentou uma candidatura formal ao Departamento de Pescas e Recursos Aquáticos das Filipinas, com vista à obtenção de permissão para a realização do teste.
A declaração da Convenção de Londres não irá, por si própria, interferir com as experiências planeadas pela Planktos e pela Ocean Nourishment Corporation, que actualmente são apenas reguladas pelos países que supervisionam as águas em questão.
Mas os ambientalistas continuam as conversações em busca de uma moratória voluntária nação a nação sobre todas as operações de fertilização até que a regulamentação internacional esteja implementada.
Muitos também estão a apelar às organizações internacionais que estabeleçam regras para outro tipo de actos que interfiram em larga escala com a 'propriedade global comum' que é o ar e a água. “Apelamos aos governos que estão sob a égide da Convenção sobre as Alterações Climáticas das Nações Unidas em Bali no próximo mês para seguirem o caminho da Convenção de Londres e coloquem todas as tecnologias de geoengenharia sob fiscalização internacional", diz Jim Thomas, do ETC de Ottawa, Canadá.
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