Descoberto o gene da implacabilidade?

Os ditadores egoístas podem dever, em parte, o seu comportamento aos genes, de acordo com um estudo que alega ter descoberto uma associação genética com a implacabilidade.

O estudo pode ajudar a explicar as tendências gananciosas daqueles com um lado maquiavélico, desde ditadores nacionais aos 'pequenos Hitlers' que encontramos todos os dias nos nossos locais de trabalho.

Investigadores da Universidade Hebraica de Jerusalém descobriram uma ligação entre um gene chamado AVPR1a e o comportamento implacável num exercício económico conhecido por 'Jogo do Ditador'.

O exercício permite aos jogadores comportarem-se altruisticamente ou como ditadores gananciosos, como o antigo presidente do Zaire Mobutu, que pilhou a riqueza mineral do seu país para se tornar um dos homens mais ricos do mundo enquanto os seus cidadãos sofrem as consequências da pobreza extrema.

Os investigadores não compreendem o mecanismo pelo qual o gene influencia o comportamento. Pode significar que para alguns o velho adágio "é melhor dar que receber" não é verdade, diz o líder da equipa Richard Ebstein. Os centros de recompensa no cérebro dessas pessoas podem retirar menos prazer de actos altruístas, sugere ele, levando-os a ter comportamentos egoístas.

Ebstein decidiu estudar o AVPR1a por este gene ser conhecido por produzir receptores para a vasopressina, uma hormona envolvida no altruísmo e nos comportamentos 'pro-sociais', no cérebro. Estudos com cães da pradaria já tinham demonstrado que esta hormona é importante na manutenção da forte união existente nos grupos sociais destes roedores.

A equipa de Ebstein propôs-se descobrir se as diferenças na forma como este receptor é expresso no cérebro humano tornariam diferentes pessoas mais ou menos generosas.

Para o descobrir, testaram amostras de DNA de mais de 200 estudantes voluntários, antes de lhes pedir que jogassem o Jogo do Ditador (os voluntários não sabiam o nome do jogo, para o seu comportamento não ser influenciado).

Os estudantes foram divididos em dois grupos: 'ditadores' e 'recebedores', os chamados participantes 'A' e 'B'. A cada ditador foi dito que poderiam receber 50 shekels (cerca de €10) mas eram livres de partilhar o que quisessem com um recebedor que nunca tinham conhecido. Portanto, as fortunas dos recebedores dependiam inteiramente da generosidade do ditador.

Cerca de 18% de todos os ditadores ficaram com o dinheiro, relata Ebstein na revista Genes, Brain and Behavior. Cerca de um terço dividiram o dinheiro ao meio e uns generosos 6% deram-no todo.

Não houve relação entre o género dos participantes e o seu comportamento, relata a equipa, mas havia uma associação com o comprimento do gene AVPR1a: as pessoas tinham maior tendência para serem egoístas quanto mais pequena fosse a sua versão do gene.

Não é claro de que forma o comprimento do AVPR1a afecta os receptores de vasopressina mas pensa-se que em vez de controlar o número de receptores possa controlar onde, no cérebro, eles se encontram. Ebstein sugere que os receptores de vasopressina no cérebro de pessoas com a versão curta do AVPR1a podem estar distribuídos de forma a fazer com que sejam menos recompensados pelo acto de dar.

Ainda que o mecanismo não seja claro, diz Ebstein, a equipa tem quase a certeza de que as ditaduras egoístas e gananciosas têm uma componente genética. Seria mais fácil confirmar esta hipótese se os grandes ditadores tivessem deixado vivos gémeos idênticos, para verificarmos se eles seriam tão implacáveis como os irmãos que conhecemos.

Ainda assim, os investigadores devem ser cautelosos com a utilização de uma ferramenta pouco precisa como o Jogo do Ditador para tirar conclusões sobre a generosidade humana, diz Nicholas Bardsley, da Universidade de Southampton, estudioso destes jogos.

A sua investigação sugere que jogadores que regularmente dão dinheiro como ditadores também não se importam nada de tirar dinheiro a outros em jogos que envolvam tirar em vez de dar. Isto sugere que os jogadores aparentemente mais altruístas no jogo de Ebstein podem, de facto, ser motivados pelo simples desejo de participar mais activamente no jogo, talvez por acharem que é o deles se espera.

Se isso for verdade, então a aparente implacabilidade dos ditadores pode não ser motivada por ganância pura e simples mas antes pela falta de competências sociais, que não lhes permite avaliar o é deles esperado.

Isso encaixa certamente com a imagem de um ditador ingénuo ainda que arrogante, sem noção da falta de adequação das suas acções e atitudes. Essas figuras têm surgido com surpreendente regularidade ao longo da história, desde imperadores romanos a Napoleão Bonaparte, Benito Mussolini, Saddam Hussein ou Robert Mugabe, que se agarra tenazmente ao poder em face de resultados eleitorais duvidosos.

Fonte: Simbiotica

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