Alterações climáticas subestimadas?

Alegações de que o Painel Internacional sobre as Alterações Climáticas (IPCC) subestimou gravemente o desafio e os custos da estabilização das emissões de gases de efeito de estufa no século XXI estão a alimentar uma nova polémica entre os investigadores climáticos e de energia.

O perito em política climática Roger Pielke Jr, o climatólogo Tom Wigley e o economista Christopher Green apresentam, num artigo de opinião publicado na revista Nature, a sua opinião de que os cenários de emissões que o IPCC produziu há perto de uma década, e ainda vulgarmente usados, são excessivamente optimistas.

Eles salientam que a maioria dos cenários 'tudo como antes' de emissões do IPCC assumem uma certa quantidade de alterações tecnológicas 'espontâneas'. Mas eles argumentam que a dimensão desta alteração assumida é irrealista e induz em erro os políticos e o público acerca do papel crucial das políticas no encorajamento do desenvolvimento de novas tecnologias que impeçam as perigosas alterações climáticas.

Um pedaço tão grande destes tão precisos melhoramentos a nível de eficiência energética está incluído nestes cenários 'tudo como antes' que o grau de alteração que exija esforço especial parece artificialmente pequeno, argumentam eles.

De acordo com os seus próprios cálculos, os cenários do IPCC dão a ideia de que o desafio técnico de estabilizar as emissões de gases de efeito de estufa em cerca de 500 partes por milhão, uma concentração que os cientistas pensam impedirá que as temperaturas médias globais subam mais de 2°C, é cerca de um quarto da sua verdadeira dimensão.

Richard Tol, economista ambiental e de energia no Economic and Social Research Institute de Dublin, também refere que o IPCC subestimou os custos da tecnologia e salienta que o custo da mitigação contra as alterações climáticas aumenta com o passar do tempo. Se Pielke e os seus colegas estiverem certos, o custo de controlar o aquecimento global pode ser multiplicado por um factor de 16, diz Tol.

“O artigo é uma verdadeira bomba", diz Marty Hoffert, antigo presidente do Departamento de Ciência Aplicada da Universidade de Nova Iorque. “Explode completamente com a ideia que já existe tecnologia suficiente para resolver o problema do clima e da energia e que o aquecimento global pode ser corrigido com incentivos de mercado."

Os críticos destas considerações dizem que a noção de alterações tecnológicas espontâneas é realista. Salientam que os 0,6% de aumento da intensidade energética que a maioria dos cenários 'tudo como antes' do IPCC assume que ocorra autonomamente estão de acordo com as tendências históricas. Em média, a intensidade energética global aumentou mais de 1% ao ano nas últimas 3 décadas, e a maioria do aumento ocorreu na ausência de políticas sobre as alterações climáticas dignas de nota.

“Os pressupostos acerca da taxa de alterações tecnológicas nos cenários foram rigorosamente revistos e são aceites pelos peritos sobre o tema", diz Bert Metz, co-presidente do Grupo de Trabalho III sobre a mitigação das alterações climáticas do IPCC.

Mas pouco ou nenhum melhoramento na intensidade energética foi registado na presente década e nos últimos anos a média global até piorou. Esta situação deve-se ao aumento das exigências energéticas em países como a Índia e a China, onde energia barata e suja é a mais usada.

Metz diz que compreende que o crescimento económico e energético real pode ser diferente dos pressupostos do IPCC, o que pode dificultar o atingir dos níveis de estabilização. Em 2006, o IPCC começou a desenvolver novos cenários a longo prazo das emissões, que serão produzidos ao longo dos próximos anos.

Os cenários que o IPCC publicou em 2000, ainda utilizados no último relatório de 2007, abrangiam 35 possibilidades de emissões. Os vários cenários atingem emissões cumulativas muito diferentes (e variações de temperatura global) em 2100. As emissões reais do período 2000 a 2008 apenas encaixam nos cenários de emissões mais elevadas, os chamados 'cenários A1' de aumento de crescimento económico.

O argumento de Pielke e colegas pode explicar porque as emissões em todo o mundo estão a crescer mais rapidamente que nunca, e porque muitos países industrializados não conseguem cumprir os seus relativamente modestos objectivos no âmbito do Protocolo de Quioto, diz Hoffert.

“É profundamente irónico que o IPCC, que tem sido acusado pelos que negam as alterações climáticas de exagerar a ameaça que enfrentamos, tenha diminuído, ou pelo menos obscurecido, a dificuldade no seu controlo", diz Hoffert.

Mas outros consideram que esse facto não tem importância porque as alterações tecnológicas estão agora a ser procuradas. “Não há dúvida que precisamos de reduções profundas nas emissões e de acção agressiva na inovação tecnológica", diz Robert Socolow, co-director da Carbon Mitigation Initiative da Universidade de Princeton em Nova Jérsia.

A maioria dos países membros da Organização para a Cooperação Económica e Desenvolvimento e os Estados Unidos, ainda que não o governo federal, já está comprometido a faze-lo, diz ele. Por esse motivo, preocuparmo-nos com o que vai acontecer se não houver alterações tecnológicas é algo obsoleto.

Fonte: Simbiotica


Estudo derruba ligação entre raios solares e aquecimento global

Cientistas britânicos produziram novas e convincentes provas de que a mudança climática atual não é causada por mudanças na atividade solar.

A pesquisa contradiz a teoria favorita dos "céticos" do aquecimento global, segundo a qual raios cósmicos vindos para a Terra - e não as emissões de carbono - determinam a quantidade de nuvens no céu e a temperatura no planeta.

A idéia é que variações na atividade solar afetam a intensidade dos raios cósmicos, mas cientistas da Universidade de Lancaster descobriram que não houve nenhuma relação significativa entre as duas variáveis nos últimos 20 anos.

Apresentando suas descobertas na revista científica "Environmental Research Letters", a equipe britânica explicou que foram usadas três diferentes maneiras para procurar uma correlação, e praticamente nenhuma foi encontrada.

Esta é a mais recente prova a colocar sob intensa pressão a teoria dos raios cósmicos, desenvolvida pelo cientista dinamarquês Henrik Svensmark, do Centro Espacial Nacional da Dinamarca.

As idéias defendidas por Svensmark formaram o principal argumento do documentário "The Great Global Warming Swindle" (A Grande Fraude do Aquecimento Global, em tradução livre), exibido pela televisão britânica, que intensificou os debates sobre as causas das mudanças climáticas atuais.

Caminho errado

"Começamos este jogo por causa do trabalho de Svensmark", disse Terry Sloan, da Universidade de Lancaster.

"Se ele está certo, então estamos no caminho errado tomando todas essas medidas caras para cortar as emissões de carbono; se ele está certo, podemos continuar a emitir carbono normalmente."

Os raios cósmicos são refletidos da superfície da Terra pelo campo magnético do planeta e pelo vento solar - correntes de partículas eletricamente carregadas vindas do Sol.

A hipótese de Svensmark é que, quando o vento solar está fraco, mais raios cósmicos penetram na atmosfera, o que aumenta a formação de nuvens e esfria o planeta. Quando os raios solares estão mais fortes, a temperatura na Terra sobe.

A equipe de Terry Sloan estudou essa relação analisando partes do planeta e períodos de tempo em que se registraram a chegada forte ou fraca de raios cósmicos. Eles então verificaram se isso afetou a formação de nuvens nesses locais e nesses momentos e não encontraram nada.

No curso de um dos ciclos naturais de 11 anos do Sol, houve uma frágil correlação entre a intensidade dos raios cósmicos e a quantidade de nuvens no céu. Mesmo assim, a variação dos raios cósmicos explicaria apenas um quarto das mudanças nas nuvens.

No ciclo seguinte, nenhuma relação foi encontrada.

O IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, na sigla em inglês), em sua avaliação sobre a questão feita no ano passado, concluiu que desde que as temperaturas começaram a aumentar rapidamente nos anos 70, os gases de efeito estufa produzidos pelo homem tiveram um peso 13 vezes maior no aquecimento global que a variação da atividade solar.

"Tentamos corroborar a hipótese de Svensmark, mas não conseguimos. Até onde podemos constatar, ele não tem nenhuma razão para desafiar o IPCC - o IPCC está certo. Então, é melhor continuarmos a cortar as emissões de carbono", disse Terry Sloan.

Fonte: Folha Online

Saber mais:

Painel Internacional sobre as Alterações Climáticas (IPCC)

Agência Internacional de Energia

Efeitos das alterações climáticas avaliados

Publicado relatório sobre alterações climáticas

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