Bio-Combustíveis a partir de Monocultivos afetam População e Natureza

Por: Articulação Soja -Brasil
09/03/2007

Os membros da Articulação Soja -Brasil, baseados em sua experiência e análise dos fatos que vêm ocorrendo nas últimas décadas com a expansão do agronegócio, em especial da soja, tanto no Brasil quanto nos países vizinhos, expressam aqui sua preocupação com relação aos impactos ambientais, sociais e culturais que serão provocados pela aceleração do plantio de vegetais para a produção de combustíveis.
Em primeiro lugar, queremos lembrar os altos custos ambientais e sociais resultante dos extensos monocultivos utilizados para a produção de matérias primas agrícolas em escala industrial.
Não é possível considerar apenas os benefícios que o uso desses bio-combustíveis trarão à redução do efeito estufa. A devastação provocada no meio ambiente e nas populações dos países produtores, para sua produção, deve ser contabilizada previamente, para que seja evitada, pois ela resultará em aumento tanto do efeito estufa quanto da exclusão social e econômica a que essas populações são submetidas pelo avanço do capital no campo.
A produção de agro-combustíveis não pode reduzir as áreas plantadas para o abastecimento da população com gêneros alimentícios, pois a segurança alimentar deve ser a primeira prioridade de qualquer governo. Então, é essencial que o avanço dessa nova fronteira agrícola seja dirigida para locais já desmatados, em terras que estejam sem uso ou degradadas, o que pressupõe a realização de um ordenamento territorial emergencial e destinação de financiamento para a sua recuperação. Não podemos admitir que a produção de agro-combustíveis avance em terras que produzem alimentos e em áreas com cobertura vegetal natural.
As características de produção e comercialização desses combustíveis certamente seguirão o padrão atual de altíssima concentração, em poucas corporações. No Brasil e na América Latina, por sua capacidade de organização e de logística, além dos recursos técnicos e financeiros, a Petrobrás pode assumir um papel importante no mercado de combustíveis. Sendo uma empresa que pertence ao povo brasileiro, sua atuação deve se basear em padrões éticos e de responsabilidade, não podendo contribuir para a destruição do meio ambiente e das populações da região.
A redução do efeito estufa deve se dar pela mudança nos padrões de consumo de toda população mundial com níveis de renda mais elevados, especialmente daquelas dos países mais ricos. Há que privilegiar e investir no transporte público ao invés de prosseguir estimulando o uso e produção de automóveis, quaisquer que sejam os combustíveis utilizados.
É preciso reduzir, também, o consumo excessivo de carnes entre as camadas mais ricas da população de todos países, que já registram uma epidemia de obesidade objeto de campanha da Organização Mundial de Saúde. Essa demanda é que tem impulsionado o agronegócio, em especial o da soja, e provocado grandes impactos ambientais e sociais na região.
É preocupante a contradição de um governo que fala de cuidado com o meio ambiente e ao mesmo tempo estimula a destruição da Amazônia e do Cerrado através do agronegócio, da mineração e da exportação de madeiras a granel, tudo em busca de um crescimento econômico excludente e concentrador de riquezas e de renda.
O Brasil e suas empresas podem aproveitar, sim, a oportunidade para produzir combustíveis de base agrícola, mas de forma consciente acerca dos impactos ambientais e sociais desse processo, respeitando as populações locais e conservando o meio ambiente na região.
A monocultura da cana no Nordeste e Sudeste/Sul, se tem sido excelente para donos de engenhos e usinas de açúcar e etanol, tem sido nociva aos trabalhadores e ao meio ambiente. Isso se repete em outras regiões como o Cerrado e a Amazônia, com monoculturas de dendê, soja e milho, e se ampliará com a demanda de seu uso para produção de combustíveis.
É preciso não deixar se seduzir por delírios grandiloqüentes, por participar na formações de cartéis mundiais, pois esse "novo" negócio prosseguirá nas mãos das poucas empresas que já controlam o mercado de commodities.
Finalmente, enfatizamos que é preciso adotar políticas e processos que façam com que a exploração de nossos recursos naturais beneficiem efetivamente as populações do Brasil e dos países da região, com respeito ao meio ambiente o que, na verdade, significa nos preocuparmos também com aqueles que ainda estão por vir.

(*) Articulação Soja –Brasil

Coordenação: ECOA, Fetraf-Sul, Fórum Carajás, Fundação CEBRAC, Greenpeace, ICV.
Secretaria Executiva: Fundação CEBRAC
Contatos: Andréa Lobo: 61 3327-8085
Maurício Galinkin: 61 8407-8262

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