Poluição pode limpar o ar

Alguns tipos de poluição do ar podem estar a ajudar o planeta ao criar doses extra de agentes limpadores da atmosfera, segundo uma investigação recente agora conhecida.

Um estudo laboratorial demonstrou como os óxidos de azoto, geralmente um poluente de origem agrícola, podem ajudar a formar radicais hidroxilo, um limpador natural da nossa atmosfera suja. No entanto, ao faze-lo os óxidos também produzem mais ozono troposférico, um dos principais componentes do smog.

Esta investigação deve ajudar a melhorar os modelos da química atmosférica e sugerir melhores formas de controlar a poluição do ar nas grandes cidades.

O radical hidroxilo é uma molécula muito reactiva mas de vida curta que contém um átomo de hidrogénio e outro de oxigénio (-OH). É conhecido como o detergente da baixa atmosfera (troposfera) porque está envolvido na maioria das reacções que decompõem compostos orgânicos voláteis (COV), como os poluentes hidrocarbonados da vida citadina.

Na atmosfera, a luz do Sol degrada o ozono produzindo átomos de oxigénio excitados, os quais, por sua vez, atacam a água originando radicais hidroxilo. Estes reagem com os hidrocarbonetos ou com o monóxido de carbono, degradando-os e limpando a atmosfera.

Ainda assim, o radical hidroxilo não é só coisas boas. Nos céus poluídos com níveis altos de óxidos de azoto (NOx), um produto secundário da reacção de limpeza pode criar mais ozono, um componente do smog.

Por isso as políticas com o objectivo de reduzir a poluição por NOx são muito importantes, deixando os radicais hidroxilo naturais a limpar os COV. Mas é claro que as coisas não são assim tão simples.

Amitabha Sinha, da Universidade de San Diego, Califórnia, descobriu uma parte anteriormente subestimada mas importante da química do radical hidroxilo: a poluição por NOx pode ajudar a formar mais detergente atmosférico.

Ele recriou as reacções atmosféricas em laboratório e descobriu que o dióxido de azoto, quando excitado por comprimentos de onda de luz semelhantes aos observados quando o Sol está baixo no horizonte, podem decompor a água da mesma forma que o ozono faz para produzir o radical hidroxilo. Nestas alturas do dia, este processo pode aumentar a concentração do detergente atmosférico em 50%.

sto também significa que a poluição por NOx produz mais ozono do que antes se pensava, no entanto. “Em cidades com grande quantidade de hidrocarbonetos biogénicos, como Atlanta, as concentrações de ozono irão aumentar mais rapidamente", diz Paul Wennberg, químico atmosférico do Instituto de Tecnologia da Califórnia em Pasadena.

"Se incluirmos esta reacção nos modelos não altera de forma profunda a visão das medidas de controlo da poluição", diz Wennberg. Os políticos precisam de bons modelos para determinar o que fazer em diferentes cidades com diferentes poluentes, diz ele.

"Este resultado é muito inesperado", diz Dwayne Heard, químico atmosférico da Universidade de Leeds. Ele salienta que o resultado de Sinha se baseia apenas no momento em que o Sol está baixo no horizonte. Isto torna difícil avaliar como os níveis de radicais hidroxilo e de ozono se irão alterar numa cidade ao longo do dia. “Precisamos de olhar para 24 horas, pois o processo pode produzir uma fracção significativa de OH ao pôr do Sol e ao meio-dia ter uma contribuição pouco importante."

Mas o resultado aplica-se muito bem às regiões polares, onde o Sol passa longos períodos de tempo junto ao horizonte. A reacção recém-descoberta pode ajudar a explorar discrepâncias entre os modelos e as medidas, diz Heard, que acabou de regressar do Árctico.

A nova reacção já tinha sido sugerida antes mas tinha sido considerada pouco importante. Em 1997, um grupo do Instituto Max Planck para a Química de Mainz, Alemanha, também tinha sugerido que esta reacção podia estar a acontecer mas a um ritmo muito inferior e por isso muito menos significativo do que Sinha vem agora sugerir.

Os modelos atmosféricos, que já têm que ter milhares de reacções em linha de conta, serão ainda mais complicados com esta descoberta.

Fonte: Simbiotica

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