Crudivoro no Hospital III
Vou hoje ter alta depois de mais de uma semana de joelho inchado aqui no Hospital do Barlavento, em Portimão.
Conclusão - depois de várias análises sem resultados significativos - o ortopedista crê que tenha sido um problema metabólico devido às guloseimas de natal que eu não resisti e acabei comendo na "onda" de "uma vez não faz mal". Eventualmente terá sido ácido-úrico que se acumulou no joelho.
Falando em guloseimas tenho reparado nos "miminhos" que os meus companheiros de quarto recebem quase todos os dias. Doces e mais doces que os familiares e amigos trazem, para alem do café com leite que é servido normalmente pelo serviço do hospital, para alem do sumo de fruta em pacote c/açúcar, - enfim ao fim do dia o meu parceiro do lado consome mais de 60g de açúcar. Este amigo já sofreu uma operação ao coração e agora encontra-se há mais de um mês em observação para eventualmente ser operado - não sabe bem ao quê. Enfim mas o que me parece caricato é de facto o que ele e a maioria das pessoas come e bebe. O problema vem da medicina tradicional não ver o corpo como um todo e tratar separadamente cada membro ou parte do nosso organismo. E deixa-se uma pessoa durante tempo indefinido (enquanto fazem análises, etc) a "inchar", com uma má alimentação numa cama de hospital, ao fim de poucos dias já nem conseguem evacuar e depois tem que lhes dar "Microlax" (um enema rectal quimico) para poderem finalmente aliviar os intestinos.
Aqui se vê a grande diferença de medicinas como a "ayurveda" que trata o corpo (e não só) de forma holistica, como um todo e a alimentação é uma parte essencial de qualquer tratamento.
É claro que aqui a responsabilidade não é só do hospital nem dos médicos mas principalmente da nossa educação e do sistema onde vivemos que não promove os bons hábitos de saúde. É mais fácil para o cidadão comum deixar a responsabilidade nas mãos dos médicos e apesar dos conselhos que se possam dar, estas pessoas continuam afectivamente "agarradas" aos miminhos dos doces e certos outros "petiscos".
Engraçado que noutra cama tenho um companheiro com mais de 80 anos. Partiu o fémur depois de uma prova de vinho em que a cadeira onde se ia sentar não estava no local imaginado (é que o vinho distorce muitas vezes a distância) - não é engraçado ele ter partido a perna mas sim o facto de ele continuar a falar do vinho e me querer convencer a prová-lo depois de sairmos todos do hospital.
Tudo isto para falar da relação daquilo que ingerimos, quer sólido ou liquido e o lado emocional ligado ao convívio social que é necessário manter mas que sem dúvida precisa ser repensado.
Precisamos de encontrar soluções para estes momentos importantíssimos e onde tantas vezes, facilmente entramos em excessos. Não podemos nos abster de partilhar e conviver com os outros independentemente das nossas opções. Não devemos excluir ninguém por ter este ou aquele hábito alimentar. Mas nem sempre é fácil resistir a tentações e provar o "petisco" que os outros nos preparam com carinho e que nos faz mal depois. Enfim tudo isto faz parte da evolução - um dia as pessoas farão dos momentos de festa momentos de oferecer também coisas saudáveis - será uma forma de demonstrar a amizade e o amor que demonstramos pelos outros. Até lá é preciso estar atento para não acabarmos, como me aconteceu, passando uns dias no hospital.
Muita Saúde!!!
Luís Guerreiro
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