Descobertas novas pistas acerca do gene da longevidade
O mistério do motivo porque comer menos aumenta a longevidade está mais perto de ser resolvido.
Estudos mostraram que uma severa restrição de calorias prolonga de forma acentuada a vida em ratos e em muitas outras espécies mas as razões para isso permaneciam esquivas. Mas agora, investigadores americanos que trabalham com vermes nemátodos descobriram um gene associado a este estranho efeito.
Futuramente, a descoberta pode levar à descoberta de drogas que imitem as consequências da restrição de calorias mas não obriguem a regimes de jejum severos.
As propriedades de prolongamento da vida da redução da ingestão de calorias foram primeiro descobertas na década de 30 do século passado, quando ratos de laboratório alimentados com uma dieta muito severa passaram a sobreviver mais tempo que os seus amigos bem alimentados.
Desde então, este efeito tem sido observado em organismos tão diversos como as leveduras, as moscas, vermes e cães.
As consequências para os humanos da redução da ingestão de calorias em cerca de 60% mas mantendo o nível de nutrientes essenciais ainda não são claros, apesar dos seguidores desta dieta extrema serem numerosos.
Andrew Dillin, autor do artigo publicado na revista Nature e professor associado no Salk Institute for Biological Studies, refere: "Se reduzirmos demasiado o alimento, passamos para a fome e vivemos menos. Se comermos demais passamos para a obesidade e vivemos menos. As restrições na dieta correspondem a um ponto intermédio difícil de localizar. Desde há 72 anos que o sabemos mas não percebemos como funciona."
Um estudo com vermes nemátodos Caenorhabditis elegans revelou que o gene pha-4 desempenha um papel crucial nesta situação. A equipa descobriu que vermes a quem se removia o gene pha-4 não viviam mais tempo mesmo com uma dieta restrita. Mas também descobriram que fazendo a experiência inversa, aumentando a expressão do gene pha-4 nos vermes, aumentava a longevidade quando havia uma dieta restrita.
"Este é o primeiro gene que descobrimos ser absolutamente essencial para a resposta da longevidade à restrição de dieta", explica Dillin. "Finalmente temos evidências genéticas para deslindar o programa molecular necessário para aumentar a longevidade em resposta à restrição de calorias."
Apesar do estudo ter sido levado a cabo com vermes, a descoberta também pode ser importante para outras espécies.
Os mamíferos, incluindo o Homem, têm genes muito semelhantes ao pha-4, explica Dillin. Estes genes desempenham um papel importante no desenvolvimento e, mais tarde na vida na regulação do glucagom, uma hormona com papel importante na manutenção dos níveis de glicose no sangue, especialmente durante o jejum.
De facto, os cientistas acreditam que o factor que leva ao aumento da longevidade devido à restrição calórica pode estar associado ao reforço das possibilidades de sobrevivência em tempos de escassez.
"O gene pha-4 pode ser o primeiro a ajudar o animal a superar condições de stress e a viver muito tempo com uma dieta restrita", diz Dillin.
O próximo passo para os cientistas é analisar o efeito do gene noutras espécies.
Se a ligação com longevidade se aplicar ao Homem, pode abrir a porta ao desenvolvimento de drogas que imitem os efeitos da restrição de calorias e ainda assim permitam às pessoas manter a sua dieta normal, dizem os cientistas.
Richard Miller, do Instituto de Gerontologia da Universidade do Michigan, comenta: "É realmente difícil adivinhar se as associações que estamos a ver entre o sistema pha-4 e as restrições de calorias em vermes têm paralelo nos mamíferos, cujo reportório de resposta às várias formas de escassez de alimentos, a curto e a longo prazo, são de longe mais complexas que as dos vermes.
"Mas o artigo de Dillin fornece tanto motivação para a busca como pistas para onde procurar. Penso que é provável que seja influente, mesmo se as implicações para os mamíferos acabem por ser um beco sem saída."
Saber mais:
The Salk Institute for Biological Studies
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