Se o Serviço Americano de Fauna e Pesca não anunciar finalmente a sua há muito adiada decisão sobre a listagem do urso polar como espécie ameaçada, de acordo com a Acta das Espécies Ameaçadas, até segunda-feira, os conservacionistas estão decididos a obrigá-los a faze-lo através de uma acção judicial.

Mas a ameaça de acções legais pode estar a ajudar a impedir o anúncio, dizem alguns observadores.

Seja qual for a situação, pelo menos um grupo vai ficar insatisfeito e deverá contestar a ciência por trás da decisão. Esta situação tem alimentado um fluxo contínuo de questões para a equipa científica à medida que a recomendação vai percorrendo o caminho ao longo do processo de aprovação.

"O Serviço Americano de Fauna e Pesca vê a situação como um marco histórico", diz Scott Schliebe, cientista do projecto do urso polar do serviço, sediado em Anchorage, Alasca. É a primeira decisão acerca do destino potencial de uma espécie com base em projecções climáticas.

A World Conservation Union lista o urso polar como 'vulnerável', o que significa que enfrenta um risco elevado de extinção na natureza. No Canadá e na Rússia está listado como 'espécie que merece preocupação' e a decisão americana pode afectar os negócios internacionais sobre as actividades no Árctico.

Funcionários do serviço deviam ter, inicialmente, apresentado a sua decisão a 9 de Janeiro de 2008 mas anunciaram que precisavam de mais tempo para avaliar devidamente a situação.

Após considerar a ciência e mais de 670 mil comentários do público, Schliebe e os seus colegas enviaram uma recomendação para os funcionários superiores do serviço nos escritórios centrais de Washington DC, e uma recomendação foi passada ao Departamento do Interior há mais de uma semana. No entanto, até agora nenhuma decisão foi anunciada.

A decisão depende de se os ursos polares têm probabilidade elevada de se tornarem ameaçados num futuro previsível. A ameaça principal é a perda do gelo oceânico, de que os ursos dependem para caçar focas. Para prever o destino dos ursos, o serviço pediu ao US Geological Survey (USGS) que ajudasse a determinar a extensão provável do gelo marinho no futuro e de que forma os ursos poderiam responder a essas alterações.

O USGS previu que dois terços dos ursos, incluindo todos os do Alasca, teriam desaparecido em meados deste século e que o gelo de Verão provavelmente iria desaparecer de quase todo o Árctico por volta de 2100. Mas os modelos que foram analisados variavam na predição do recuo do gelo. "Todos os modelos, pela sua natureza, têm alguma incerteza", diz Schliebe, mas esse é o principal argumento dos que se opõem à listagem de 'ameaçado'.

"As incertezas acumulam-se", diz Ken Taylor, comissário-adjunto do departamento de fauna e pesca do Alasca. O governo do Alasca, o único estado americano com ursos polares selvagens, opõe-se à listagem. A governadora Sarah Palin diz que a preocupa que a listagem impeça o desenvolvimento do seu estado, incluindo as perfurações para gás e petróleo.

Uma carta para o serviço de fauna e pesca do gabinete de Palin alegava que o último relatório "está a exagerar os modelos de alterações climáticas para além da sua capacidade de produzir aproximações razoáveis das condições prováveis".

O gabinete de Palin cita uma frase do relatório que descreve que tipo de modelo foi escolhido para prever o gelo marinho futuro: "Mesmo que os modelos climáticos contivessem uma representação perfeita de toda a física e dinâmica dos sistemas climáticos, a imprevisibilidade inerente impedir-nos-ia de emitir previsões detalhadas sobre alterações climáticas a mais de uma década de distância." Se é esse o caso, argumenta o gabinete de Palin, o futuro previsível não vai além dos 10 anos e essa visão a tão curto prazo deixaria os ursos não listados como ameaçados.

Isso deturpa completamente a natureza das projecções do gelo marinho, refere Eric DeWeaver, cientista climático da Universidade do Wisconsin em Madison, que ajudou a escolher os modelos a considerar e escreveu o relatório. "Não se trata de uma previsão detalhada, não se consegue obter isso dos modelos climáticos."

Em vez de previsões detalhadas, os modelos fornecem cenários, como a extensão da cobertura de gelo e a probabilidade com que cada um ocorre ao longo de um período específico de tempo. Ele salienta que todos os modelos previram pelo menos uma perda de 30% de gelo marinho até meados do século. "Estamos a tentar reflectir tanto como pudemos o consenso da comunidade climática", diz DeWeaver.

A decisão sobre se listar ou não os ursos polares como ameaçados será a primeira de série de testes à forma como os modelos climáticos estão a ser capazes de ser persuasivos no estabelecimento de novas políticas.

Algumas outras espécies polares foram já propostas para listagem com a mesma base: uma dependência crítica do gelo marinho em desaparecimento. Durante os últimos 18 meses, foram apresentadas petições sobre as focas listadas, as morsas do Pacífico e muitas espécies de pinguins.

Três grupos ambientalistas vão tomar medidas legais se a decisão não for anunciada na segunda-feira, diz Kassie Siegel, que tem vindo a liderar o esforço por parte do Centro de Diversidade Biológica. “Iremos processá-los por volta de 10 de Março se por essa altura ainda não tiverem anunciado a decisão."

Fonte: Simbiotica

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