Nutrição Ativa e Lus Guerreiro - Perguntas e Respostas no Orkut

Olá Luiz,
Primeiramente quero te felicitar pela coragem em adotar essa conduta alimentar bem peculiar e em certas ocasiões difícil de seguí-la.
A sua vantagem maior é falta quase que total de perda nutritiva de seus alimentos, pois, como se sabe, com cozimento, a maior parte dos nutrientes, vitaminas e minerais são perdidas.
Porém, na minha opinião, a alimentação crudívora também pode ter seus contras, como a limitação no consumo de certos alimentos importantes como a carne bovina e o pão. Outro ponto contra é a sanidade dos alimentos, já que o cozimento também é uma forma de combater possíveis microorganismos patológicos contidos em alguns alimentos.
Sinceramente, nunca me deti a fundo neste tema, mas prometo me informar sobre ele até para preparar algum material esclarecedor para o site Nutrição Ativa.
Att,
Simone Biacchi


Oi Simone,

Muito obrigado pela resposta.

Sabia que estava na comunidade certa - e posso dizer até que enfim consegui estabelecer um diálogo com nutricionistas. Na maioria das comunidades sobre nutrição esse diálogo parece impossível pois alguns dos seus membros (na maioria recem formados ou estudantes de nutrição)passam o tempo com guerras de "eu é que sei" como se fossem donos da verdade no que toca à questão nutricional.

Vou basear a minha resposta na minha experiência pessoal e no estudo teórico que tenho feito há mais de 4 anos - por favor entenda que não estou a defender uma tese mas sim a apresentar alguns pontos que penso passam ao lado do estudo da nutrição em geral.

É interessante e importante a sua questão quando fala em "limitação no consumo de certos alimentos importantes como a carne bovina e o pão".

Os estudos sobre povos que baseiam a sua alimentação em carnes vermelhas, outros produtos de origem animal e pão ("normal") revelam que essas populações sofrem mais de doenças crónicas comparativamente a populações onde esse consumo é reduzido. Sabemos perfeitamente as doenças de coração estão directamente ligadas a dietas ricas em produtos animais.
Já para não falar na nossa semelhança genética com outros primatas inteiramente vegetarianos. A dieta de qualquer animal corresponde à sua estrutura fisiológica. Analisando a anatomia e a fisiologia dos animais carnívoros e seres humanos, percebemos grandes diferenças.

Em relação ao pão. Alguns crudivoros comem pão que é feito a partir de trigo inteiro germinado, moído e cozido a menos de 45ºC, preservando assim toda a riqueza nutricional do alimento e ao mesmo tempo libertando o trigo de inibidores de enzimas e transformando a proteína em amino-ácidos simples facilmente digeridos. Ao ponto de indivíduos alérgicos ao gluten poderem comer esse pão sem reacções adversas.O pão crudivoro seria um assunto interessante para estudo.

Em relação à higiene

A carne depois do abate entra imediatamente em decomposição e pode verificar-se isso fácilmente pelo seu cheiro caracteristico - cadaverina (associada à decomposição de corpos), putrescina (à decomposição de carne), aqui poderia por a questão é higiénico comer algo que cheira mal? Já para não falar em hormonas de crescimento, antibióticos, agro-quimicos, etc encontrados na carne que consumimos indiscriminadamente.
Os crudivoros são apologistas de uma agricultura orgânica sem uso de quimicos ou, em casos mais extremos sem utilizaçãso de fertilizantes de origem animal pois estes são responsáveis pela proliferação de bactérias e fungos prejudiciais ao ser humano. Desta forma os alimentos são mais naturais e em termos de higiene não tem comparação com artigos provenientes da produção massiva.
Os crudivoros usam muitas sementes e grão germinados - estes são ricos em nutrientes e quando criados pelo próprio são uma garantia contra contaminação - são higienicamente superiores a qualquer artigo embalado, processado ou proveniente de fontes fora do controle do consumidor.

Um outro perigo da alimentação com carne, é a presença de doenças não detectadas, ou até mesmo ignoradas pelos produtores, em animais de corte. Frequentemente, se um animal tem algum tipo de tumor em algumas parte do corpo, esta parte é extraída, e o resto do corpo é colocado no mercado. Ou pior ainda, os próprios tumores são incorporados à preparação de salsichas e passam a ser chamados de "partes".

Cadeia alimentar...

Há na natureza uma longa cadeia de comedores. As plantas produzem o seu próprio alimento a partir da luz solar, da água e do ar, os animais comem plantas, animais maiores e os seres humanos alimentam-se dos animais menores. Situar-se no final da cadeia alimentar não é uma vantagem. Actualmente os campos estão sendo tratados com produtos químicos venenosos, e estes campos servem de alimento para os animais que comem plantas. Estas substâncias químicas vão acumular-se no tecido gorduroso do animal durante toda sua vida. Quando o homem ingere esta carne recebe toda a concentração destas substâncias, acumuladas no organismo do animal durante anos.

Outra desvantagem é que, como assimilação de nutrientes não se realiza com uma eficiência de 100%, isto é, nem todo o alimento ingerido é assimilado ou utilizado para produzir energia, e boa parte da energia transforma-se em calor, em cada nível da cadeia alimentar verifica-se uma perda de material e de energia.

Segundo indicam investigações recentes, as pessoas que seguem uma dieta rica em carne têm um risco acrescido de virem a sofrer doenças cancerígenas. O relatório indica diversos estudos que responsabilizam directamente o consumo de carne, em especial a "vermelha", com certos tipos de cancro, principalmente o do cólon.

O estudo de um grupo de habitantes do Nebraska permitiu concluir que os que comiam mais carne tinham um risco 3.6 vezes superior de sofrerem cancro do esófago, e duas vezes maior de sofrerem cancro do estômago, quando comparados com pessoas que seguiam dietas mais saudáveis. Os que consomem lacticínios em grandes quantidades têm o dobro do risco de qualquer uma das formas de cancro, segundo um estudo publicado na edição de Janeiro (2002) do American Journal of Clinical Nutrition.
Mary Ward, Honglei Chen e outros investigadores no National Cancer Institute, na Tuts University, Boston, inquiriram 124 pessoas com cancro de estômago, outras tantas com cancro do esófago e 449 pessoas sem nenhuma das doenças. O inquérito incluía questões detalhadas acerca dos seus hábitos alimentares, e caracterizava-os como "saudáveis", "ricos em carne" e "ricos em leite", entre outros.
A dieta "saudável" continha quantidades mais elevadas de frutos, vegetais e grãos. Além disso o estudo permitiu ainda concluir que a dieta dos entrevistados que eram saudáveis era em geral mais pobre em calorias.

"Em contraste com este padrão de dieta saudável o padrão de dieta dos mais ávidos comedores de carne inclui também menor ingestão de frutos, pão e cereais", consta do relatório apresentado.
33% dos pacientes com cancro do estômago e 35% dos pacientes com cancro do esófago seguiam uma dieta rica em carne ou em leite.

Referências:
http://saude.sapo.pt/gc/298806.html

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