Oceano Antárctico está a absorver menos CO2

A capacidade do oceano Antárctico de remover dióxido de carbono da atmosfera está a ser reduzida pelas alterações climáticas, dizem os investigadores ambientais.

Se a tendência continua, a capacidade deste 'sumidouro de carbono' para lidar com as emissões dos gases de efeito de estufa de origem humana pode ser seriamente comprometida.

Cerca de metade do dióxido de carbono que passa para a atmosfera é absorvida pelos oceanos mundiais logo, com o aumento das emissões de gases de efeito de estufa, a quantidade absorvida pelos oceanos devia aumentar proporcionalmente mas esta nova investigação sugere que o oceano Antárctico não está a acompanhar a subida nas emissões.

As águas antárcticas são um importante sumidouro para o dióxido de carbono, graças às correntes oceânicas e às temperaturas baixas, pensa-se que sejam responsáveis por cerca de 15% da capacidade de armazenamento oceânico de carbono.

Investigadores liderados por Corinne Le Quéré, do Max Planck Institute of Biochemistry de Martinsried, Alemanha, recolheram dados de 11 estações costeiras de seguimento na Antárctica e em várias ilhas do oceano Antárctico para medir a quantidade de dióxido de carbono que está a ser armazenado e libertado pelo oceano. De seguida compararam estas medições com os níveis de dióxido de carbono atmosférico para verificar a alteração de performance do sumidouro de carbono.

Desde 1981, a percentagem de carbono atmosférico que o oceano Antárctico pode conter tem vindo a decrescer. A tendência sugere que, para cada década, a capacidade anual do oceano armazenar carbono desceu em 0,08 gigatoneladas, comparado com a expectativa. Em média, o oceano armazena entre 0,1 e 0,6 gigatoneladas por ano.

Esta é uma pequena quantidade comparada com as cerca de 8 gigatoneladas de dióxido de carbono lançadas para o ar todos os anos pelas actividades humanas mas todo o declínio é importante, os oceanos são um importante sumidouro a longo prazo. Se os humanos poderem controlar as emissões de dióxido de carbono a longo prazo, os oceanos mundiais devem sequestrar entre 70% e 80% do total das emissões antropogénicas da era industrial.

A principal causa da alteração parece ser um aumento relativamente rápido da força média do vento sobre o oceano Antárctico, relata Le Quéré. Estes ventos mais fortes, que se pensa serem conduzidos pela depleção da camada de ozono sobre as regiões Antárcticas, reviram o oceano e trazem mais dióxido de carbono dissolvido das profundezas.

Isso foi inesperado, diz Le Quéré, mas quando os investigadores colocaram os seus dados num modelo de computador e removeram estes ventos fortes, descobriram que realmente a maioria da redução da eficiência do sumidouro desaparecia.

Um aumento da temperatura média global está já previsto que vá piorar o efeito pois águas mais quentes contêm menos gases.

"A possibilidade de que num mundo mais quente o sumidouro oceânico mais forte esteja enfraquecido é preocupante", comenta Chris Rapley, director do British Antarctic Survey de Cambridge.

O oceano Antárctico é o único corpo de água em que esta tendência foi detectada com certeza e quantificada, diz Le Quéré, apesar de estudo a curto prazo sugerirem que algo semelhante está a acontecer no Atlântico norte.

Se o fenómeno está a acontecer em todo o mundo, vai com certeza afectar os esforços para estabilizar os gases de efeito de estufa atmosféricos.

A redução das capacidades de sumidouro vão fazer com que sejam mais complicados os esforços internacionais para estabelecer objectivos alcançáveis na estabilização dos níveis de gases de efeito de estufa mas Le Quéré diz que esses esforços precisam de ser redobrados e não se ficar pela aceitação de que os níveis serão superiores no futuro.

Saber mais:

British Antarctic Survey

Max Planck Institute for Biochemistry


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