Operações madeireiras na floresta tropical ameaçam tartarugas

As operações madeireiras nas florestas tropicais equatoriais estão a ter um efeito secundário totalmente ignorado sobre a fauna marinha.

Os cientistas descobriram que os troncos perdidos durante o transporte através dos rios estão a entulhar as praias do Gabão, impedindo as tartarugas marinhas, já ameaçadas de extinção, de nidificar.

O Gabão, um país na África ocidental pouco menor que Itália, é lar de uma das maiores populações de tartarugas de couro Dermochelys coriacea do mundo. A espécie está listada como 'criticamente ameaçada' na Lista Vermelha das espécies ameaçadas da World Conservation Union.

As praias atlânticas do Gabão são um local particularmente importante de acasalamento e nidificação para as tartarugas de couro, bem como para várias outras espécies de tartarugas marinhas ameaçadas. A população já sofreu um declínio em resultado da caça furtiva, das pescas e do turismo descontrolados na zona.

Mas agora os investigadores descobriram que milhares de troncos abandonados ou perdidos pelas operações madeireiras industriais que se realizam mais a norte estão a representar outro risco mortal para estes animais.

Os troncos deixados na praia podem representar um obstáculo intransponível para as fêmeas adultas que tentam fazer ninho ou para as suas crias acabadas de sair do ovo e que tentam alcançar a relativa segurança do mar.

Na praia Pongara, que já está fortemente atulhada com os troncos trazidos pelo mar, as tentativas bem-sucedidas de fazer ninho sofreram já um declínio de 14%, relatam os cientistas num artigo publicado na revista Oryx.

“Trata-se de um problema muito sério", diz James Spotila, perito em conservação de tartarugas da Universidade Drexel em Filadélfia, que não esteve envolvido no estudo. “A taxa de mortalidade das tartarugas marinhas já é demasiado elevada e as praias cheias de troncos são um stress adicional sobre elas, reduzindo ainda mais a população."

Mais de 500 mil árvores, principalmente Okoumé Aucouméa klaineana usada na construção e no fabrico de contraplacado, são cortadas todos os anos nas enormes florestas tropicais do Gabão. As estradas são raras e em mau estado, pelo que os troncos são unidos uns aos outros e colocados em barcaças no rio Ogooué em direcção ao Atlântico.

Mas o transporte fluvial da madeira é cheio de desperdícios. Na sua viagem até à costa, onde são cortados em tábuas ou carregados em navios para exportação (principalmente para a China e outros países asiáticos), muitos troncos separam-se dos seus feixes e perdem-se. As árvores abandonadas à deriva no rio e ao largo da costa já se tornaram um perigo para a navegação de tal forma sério que os nativos do Gabão deixaram de navegar à noite.

Os investigadores, liderados por William Laurance, do Smithsonian Tropical Research Institute de Balboa, Panamá, usaram uma pequena aeronave para fazer um censo dos troncos perdidos no Gabão durante as épocas reprodutoras de 2002-03 e 2003-04. Contaram 11 mil troncos, no valor estimado de US$11 milhões, e mais de 30% da praia Pongara estava inacessível devido à madeira abandonada.

Os troncos perdidos afectam as tartarugas de várias formas, dizem os cientistas. Algumas fêmeas desistem completamente de fazer o ninho, outras fazem-no demasiado perto da água, onde os ovos podem ser facilmente destruídos pelas marés altas. Mais ainda, muitas ficam entaladas entre troncos ou ficam tão desorientadas que se deslocam para o interior em vez de voltar ao mar depois de pôr os ovos.

O problema pode não estar limitado ao Gabão ou à madeira. “Madeira flutuante, destroços e lixo plástico estão a afectar as populações de tartarugas em muitos locais, desde a Costa Rica à Papua Nova Guiné", diz Laurance.

As autoridades do Gabão estão, de forma geral, conscientes do problema, continua ele, mas uma solução simples não está à vista. A maioria das praias não são acessíveis por estrada logo é difícil fazer chegar maquinaria pesada. Limpar as praias com bulldozers pode fazer mais mal que bem de qualquer forma, particularmente durante a época de nidificação.

Laurance recomenda que se ponha em prática um programa de remoção dos troncos perdidos supervisionado por peritos conservacionistas. A organização francesa Aventures Sans Frontières, por exemplo, que contribuiu para a realização deste estudo, esporadicamente segue as praias gabonesas.

“Não se quer que isto seja feito ser supervisão", diz Laurance. “Pretende-se que as pessoas responsáveis percebam de tartarugas, de forma a procederem com as devidas precauções."

Fonte: simbiotica.org

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