Dietas Ayurvédicas e Yóguicas



Segue-se um interessante artigo sobre alimentos crus na Yoga e na Ayurveda.
Penso que é possível para qualquer um viver exclusivamente de alimentos não processados, crus mas todas as perspectivas são válidas e importantes quando temos que fazer escolhas.
Eu pessoalmente como cerca de 80% cru reservando os 20% para alimentos que gosto mas não podem de forma alguma ser utilizados sem cozimento. É a minha escolha actual e é pessoal, cada um deverá escutar o seu corpo e tentar descobrir as necessidades do mesmo consoante a sua constituição, idade, local onde vive, etc.

Boa leitura!



Hoje em dia, há muitas dúvidas a respeito do papel das dietas que utilizam alimentos crus no Yoga, no Ayurveda e no vegetarianismo em geral. Algumas pessoas relacionam a dieta vegetariana com apenas alimentos crus. A dieta vegetariana inclui todos os produtos alimentícios que não utilizam carne, inclusive aqueles que são cozidos para se tornarem digeríveis.
Geralmente, o Ayurveda recomenda que dietas a base de alimentos crus tenham como propósito principal a desintoxicação em um curto período de tempo, não sendo simplesmente uma dieta de vários dias. A principal razão seria por que alimentos crus são mais difíceis de serem digeridos e não fornecem mais nutrientes do que os alimentos cozidos. O Ayurveda recomenda dietas específicas para equilibrar nossos doshas. Essas dietas são feitas principalmente a base de grãos inteiros, legumes, raízes de vegetais, sementes e castanhas, com quantidades apenas secundárias de alimentos crus – o que poderiam ser chamadas de dietas vegetarianas "nutritivas" ou "balanceadas".
Entretanto, a visão ayurvédica de que alimentos cozidos são melhores tem feito algumas pessoas pensarem, segundo essa perspectiva da medicina ayurvédica, que o alimento cru é ruim. Em virtude da ligação entre o Ayurveda e o Yoga, podem pensar que dietas que utilizam alimentos crus não são dietas yóguicas. Contudo, se observarmos os textos tradicionais, iremos certamente verificar que os alimentos crus recebem uma atenção especial. A dieta yóguica é tradicionalmente chamada de dieta das frutas e das raízes (phala mula), embora possa incluir também grãos e laticínios. Yogues em recolhimento subsistem a base de alimentos encontrados na natureza, como parte de seus próprios regimes espirituais e como forma de se conectarem com as forças da natureza.
Os alimentos crus aumentam os elementos ar e éter no corpo e na mente, os componentes de Vatta. Alimentos cozidos são melhores para o aumento dos elementos terra e água, os componentes de Kapha, e também para aumentar o fogo, o elemento de Pitta. Assim, os alimentos cozidos se tornam mais fáceis de serem digeridos e melhores para construir o corpo, porém alimentos crus se tornam melhores para promover nossas sensibilidades sutis do prana e da mente.
A dieta yóguica enfatiza o desenvolvimento dos elementos ar e éter, não somente para desintoxicação, mas, também para a abertura da mente, cuja natureza é principalmente desses elementos. Por esta razão, ela recomenda o uso de alimentos crus e também o jejum. A redução da massa corporal permite a expansão e o desenvolvimento da mente, diminui nossa consciência corporal e aumenta o controle emocional.
Além de considerar os diferentes tipos constitutivos, que é o foco principal da dieta ayurvédica, a dieta yóguica considera também o papel do prana. Alimentos crus são ricos em prana, que é exatamente o elemento que o yogue procura para desenvolver como sendo a mais elevada fonte de energia da mente. Esses alimentos também trazem a força do prana para o corpo. Os alimentos crus ainda fazem parte de uma dieta yóguica tradicional que visa a limpeza do nadis ou canais, que acontece por meio do aumento de prana. Dizem que os grandes yogues são capazes de viverem somente de ar ou prana. Outros podem viver apenas de água, ou ainda de poucas frutas, leite ou ghee (manteiga clarificada) somente.
A estratégia yóguica é aumentar o agni (fogo digestivo) por meio de práticas internas de forma que o Vatta não se exacerbe na prática de yoga. A prática correta do yoga, particularmente o pranayama, aumenta o agni (energia), nos dando assim a capacidade de digerir alimentos crus. Com o calor interno bem elevado, nós não ficamos tão dependentes do calor oriundo dos alimentos e conseguimos lidar melhor com uma dieta fria. O yogue que tem o fogo digestivo e prânico (vital) bem forte não tem problemas com alimentos crus, temperaturas altas e outros desequilíbrios físicos que normalmente leva a alguma doença. Entretanto, o Ayurveda busca tratar pessoas comuns que necessitam proteger-se dessas vicissitudes externas e de momentos difíceis da vida.
Entretanto, aqueles que não são completamente yogues, e raramente ascetas, provavelmente não terão a força digestiva para receber os vários tipos de alimentos crus, especialmente por longos períodos. E isso é realmente uma verdade para os tipos de Vatta que possuem uma habilidade digestiva variável ou fraca. Deve-se lembrar do potencial de que possuem uma habilidade digestiva variável ou fraca. E, do potencial de agravamento de Vata quando submetido a uma dieta yóguica tradicional. Porém os Kaphas, com seu baixo fogo digestivo e metabolismo lento, podem da mesma forma ficar enfraquecidos por terem ingerido bastante alimentos crus. Mesmo os tipos de Pitta irão achar que o alimento cru é muito leve para sustentar a vitalidade e a energia por um longo período de tempo, principalmente se eles estiverem fazendo uma atividade física muito intensa.
Muitas pessoas podem ainda se beneficiar de dietas periódicas a base de alimentos crus quando o propósito é a desintoxicação. Nós também necessitamos de uma quantia considerável de alimentos crus na nossa dieta, para adquirirmos as vitaminas, minerais e enzimas adequadas que são abundantes nesses alimentos. Alguns alimentos crus que são muito bons para acompanharem as refeições são os tipos de brotos.
Além disso, aqueles que querem purificar não apenas o corpo físico mas, também o corpo sutil, podem recorrer à ajuda de dietas com alimentos crus aliados aos ásanas (posturas físicas do yoga), pranayama (exercícios respiratórios), mantras (sons de poder) e meditação. Tal prática pode ser feita por um período de um a três meses dependendo da constituição de cada doscha. Qualquer pessoa que desejar seriamente mergulhar nas práticas do yoga deve considerar as tentativas preliminares de desintoxicação, principalmente combinado ao Pancha Karma (método ayurvédico de desintoxicação e purificação física). Como muitas pessoas estão acima do peso e possuem muitas toxinas no corpo, esses métodos de desintoxicação são geralmente as primeiras medidas a serem tomadas para buscar a saúde.
Há um teste muito simples para se evitar o perigo de uma possível desintoxicação em excesso com alimentos crus. As dietas com alimentos crus não tem como função suprimir nosso fogo digestivo, nos deixando sem o apetite saudável para nos sustentar. Paralelamente à dieta com alimentos crus, tente seguir uma disciplina para aumentar o fogo digestivo usando temperos como gengibre, pimenta, canela e manjericão ou a fórmula ayurvédica trikatu. Deve-se levar em consideração a capacidade que o fogo digestivo de cada pessoa pode suportar a ingestão de alimentos crus. Entretanto, a importância dos alimentos para o processo de purificação não deve ser deixada de lado. Quando maior o avanço nas práticas espirituais, menor será a rejeição por alimentos crus e a pessoa irá cada vez menos necessitar de comida.
Yogues avançados naturalmente utilizam bastante os alimentos crus em suas dietas além de grãos e laticínios. Eles preferem alimentos prânicos (vitais) a qualquer coisa processada ou cozida em demasia para, finalmente, abandonar completamente os alimentos cozidos. Ao ver a natureza como sua mãe, eles rejeitam comida enlatada ou processada. O progresso espiritual reflete uma sensibilidade crescente com relação à alimentação e requer alimentos que contenham prana e amor como ingredientes principais.


Acharya Deva Datta
Terapeuta Ayurveda
International Academy Of Ayurved
Trainer of Yoga Teacher



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