Vírus humanos passam para primatas selvagens

Os cientistas que estudam grandes símios ameaçados de extinção em África podem ser uma bênção complicada: sendo verdade que eles podem ajudar a afugentar os caçadores furtivos, também transportam com eles doenças perigosas, revela um novo estudo agora conhecido.

A pesquisa revelou que recentes surtos de doenças respiratórias entre as populações de gorilas e chimpanzés tiveram origem em investigadores de grandes símios e em ecoturistas. No entanto, ao mesmo tempo a presença humana detém os caçadores furtivos, favorecendo o aumento do efectivo populacional.

"Isto mostra, na nossa opinião, que temos um efeito positivo mais forte que o negativo", diz o principal autor do estudo, Fabian Leendertz, epidemiologista da vida selvagem no Instituto Robert Koch de Berlim.

Entre 1999 e 2006 três grupos de estudo de chimpanzés no Parque Nacional Taï na Costa do Marfim sofreram um total de cinco surtos de doenças respiratórias. Praticamente todos os chimpanzés mostraram sintomas da doença e muitos chegaram mesmo a morrer.

Análises genéticas de culturas de vírus recolhidas dos chimpanzés mortos revelaram que os agentes patogénicos eram humanos. "Ficámos um pouco chocados porque esta foi a primeira vez que foi realmente provado que um agente patogénico causador de doença aguda tenha saltado de nós para os grandes primatas e tenha causado danos", diz Leendertz.

Tony Goldberg, um ecologista de doenças na Universidade do Illinois em Urbana-Champaign, não esteve envolvido no estudo mas comenta: "Há muito que sabemos que os primatas selvagens sofrem epidemias de doenças respiratórias e há muito que se suspeitava que os vírus respiratórios humanos eram os culpados, mas nunca tínhamos tido a prova cabal até agora."

Os vírus encontrados nos primatas selvagens estão associados a doenças respiratórias infantis em humanos. À medida que as pessoas envelhecem e desenvolvem imunidade, têm tendência para ser cada vez menos afectadas, pelo que os propagam tão facilmente como uma vulgar constipação sem sintomas visíveis.

"Podemos ter um turista ou um investigador que não sente qualquer tipo de sintoma e ainda assim está a transportar um dos vírus", explica Goldberg.

Dado que não se consegue detectar quem pode ser infeccioso, Leendertz considera agora os campos de investigação de grandes símios 'áreas contaminadas'. Para conter a transmissão, membros da sua equipa de investigação começaram a usar máscaras e banhos para botas e vestuário nas orlas dos campos. No interior do campo todos utilizam diferentes vestuário e botas.

Os primatas selvagens também transmitem doenças às pessoas. Surtos de ébola, uma febre hemorrágica muito grave, frequentemente fatal, têm surgido em África, quase certamente após uma pessoa ter contactado com um primata selvagem infectado. Inclusive, a origem do vírus HIV foi seguida até um grupo de chimpanzés nos Camarões.

"É uma situação complicada porque ... podemos gostar muito deles, podemos estudá-los, chamá-los pelo nome mas ao mesmo tempo somos fonte de grande perigo para eles", diz Leendertz.

Ainda que os investigadores e os ecoturistas estejam dispostos a adoptar medidas de higiene, as populações nativas que vivem nas redondezas podem continuar a expor os animais aos vírus, pois muitos chimpanzés penetram nas povoações.

"Ao contrário do que se pensa, estes primatas estão a partilhar território com os humanos", diz Goldberg. Alguns peritos, por isso, defendem que nos devemos focar em medidas de saúde pública para as pessoas que vivem perto de parques nacionais. "A ideia é que se podermos melhorar a saúde pública humana, indirectamente estaremos a melhorar a saúde e a conservação dos primatas selvagens."

Esta não é a primeira vez que os nossos agentes patogénicos perturbam os ecossistemas. Numa situação, gorilas morreram de infecções com chatos, provavelmente por terem mexido em vestuário humano.

Em 1994, no Parque Nacional Serengeti, mil de 3500 leões morreram de esgana, contraída a partir de mabecos contaminados, que, por sua vez, adoeceram devido ao contágio através de cães domésticos.

Também os elefantes asiáticos do Nepal estão a ver o seu efectivo populacional seriamente afectado devido à tuberculose humana.

"Estamos numa situação em que o espaço começa a ser limitado e estamos a aproximarmo-nos cada vez mais", diz Leendertz. "Estes habitats remotos já não são assim tão remotos quanto isso."


Fonte: Simbiotica

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