EM DEFESA DA COMIDA – UM MANIFESTO, Michael Pollan

Nota - Luis Guerreiro: O texto que se segue (a azul) está publicado na integra. Não defendo o consumo de produtos animais por isso aconselho a leitura só como informação e não como recomendação. Também não estou a aconselhar a compra do livro...
Quem quizer realmente mudar a alimentação para uma forma mais saudável poderá encontrar aqui imensos artigos sobre alimentação viva.

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Coma apenas o que a sua avó reconheceria como comida


"Coma comida. Não em excesso. Principalmente vegetais." Eis a primeira recomendação de Michael Pollan, autor de O dilema do onívoro, em seu novo livro Em defesa da comida - Um manifesto, que a editora Intrínseca lança no Brasil.

Sucesso de vendas nos Estados Unidos, a obra, publicada em janeiro de 2008 e que, desde então, mantém-se em primeiro lugar na lista de best-sellers do New York Times, conquistou crítica e leitores por propor a volta à alimentação tradicional, orgânica e saudável dos nossos avós e a valorização do ato social e cultural de comer. Michael Pollan dá dicas de como qualquer um pode se alimentar com "comida de verdade".

Com um texto simples, de fácil compreensão, mas aprofundado, crítico e politizado, Pollan disseca as contradições do marketing da indústria alimentícia, que movimenta 32 bilhões de dólares nos Estados Unidos, e a produção de alimentos norte-americana e suas suspeitas relações com cientistas, sistema de saúde, órgãos governamentais de regulamentação e a mídia.

Em uma reportagem convincente e envolvente, ficamos estarrecidos com fatos como a nova alegação nutricional da agência norte-americana para regulamentação de alimentos e medicamentos (FDA) de que comer batatas fritas de determinada marca, por serem feitas com gordura poliinsaturada, pode ajudar a reduzir o consumo de gorduras saturadas, protegendo, portanto, o sistema cardiovascular. "Assim, uma famigerada porcaria pode passar pelo crivo da lógica nutricionista e sair do outro lado com aspecto de comida saudável", informa Pollan.

O autor explica como, a partir da década de 60, quando cientistas condenaram a gordura animal, só vemos a comida a partir de uma lógica nutricionista. O problema é que esses estudos científicos mudam e se contradizem com muita freqüência.

Um exemplo são os resultados de duas pesquisas de instituições renomadas nos EUA (Instituto de Medicina da Academia Nacional de Ciências e Harvard) sobre as gorduras ômega-3, publicados em 2006. Enquanto o primeiro estudo não encontrou provas conclusivas de que a substância fizesse muito bem ao coração, o outro trouxe a notícia promissora de que comer determinadas porções de peixe por semana (ou tomar cápsulas de óleo de peixe) diminui em mais de um terço o risco de morte por ataque cardíaco.

Segundo Pollan, como conseqüência dessa notícia, não tardará o momento em que cientistas da indústria da alimentação, visando a aumentar as vendas para o público preocupado com as doenças cardíacas, adicionarão óleo de peixes e algas a alimentos totalmente terrestres, como pães e massas, leite, iogurtes e queijos, sob a alegação de seus benefícios para a saúde do coração.

Essas observações nos rótulos dos alimentos industrializados, aliás, também são condenadas pelo escritor. E o argumento é simples: "alegações desse tipo num produto alimentício são forte indício de que não se trata de fato de comida", explica. Michael Pollan acredita que alimentos frescos e integrais são melhores do que os industrializados. É o que significa a recomendação "coma comida", citada logo no início.

Embora existam milhares de substâncias comestíveis com aparência de comida no supermercado, tratam-se na, verdade, de bombas de açúcares, gorduras e muito sal. E não estamos falando apenas de fast-foods. Barras de cereais, bebidas energéticas, doces, entre outras delícias "inocentes", altamente industrializadas, produzidas em resposta aos anseios públicos por uma "alimentação mais saudável", que muitas vezes alegam não terem gorduras trans, colesterol ou calorias, apresentam altas doses de corantes, conservantes, glucose de milho e outras várias substâncias artificiais, que além de não fazerem bem ao organismo, não alimentam.

Outra recomendação de Pollan diz respeito a esses elementos artificiais cujos nomes mal se consegue dizer. "Evite comidas contendo ingredientes cujos nomes não se possa pronunciar", explica. Portanto, diante de uma lista de substâncias como "diglicerídeos hidrolizados", melhor não arriscar, porque não se trata de comida, mas de química. Produtos que, em geral, duram muito. Logo, outra dica do autor é "não coma nada que não possa um dia apodrecer" – porque se nem fungo quis comer, significa que não é comida!

Michael Pollan ataca, fundamentalmente, a dieta ocidental, que é mantida pela indústria alimentícia e se alastra com a globalização. A dieta ocidental se baseia em carboidratos refinados, como farinha branca e açúcar, que assim como o óleo vegetal refinado, são produtos da ciência alimentícia moderna. Essa dieta é apontada pelo autor como principal culpada pelas doenças crônicas de que temos sido vítimas na atualidade, como diabetes, AVC, câncer, doenças cardiovasculares, obesidade e outros males.

Antes de mais nada, uma alimentação saudável está baseada em alimentos frescos, encontrados em hortifrútis e feiras, onde a comida pode ser reconhecida de forma simples – rúcula, cenoura, ovo, carne, peixe etc. De preferência, de maneira equilibrada, sendo a carne um acompanhamento e não prato principal, por exemplo. De acordo com Pollan, ocorre nos Estados Unidos um paradoxo: as pessoas estão obcecadas por nutrição e dieta, mas continuam comendo mal. Uma nação de ortoréxicos.

O problema é que toda essa preocupação subtrai o prazer do ato de comer e, aposta o autor, a saúde e a felicidade em geral. Daí o paradoxo dos franceses (ou italianos, japoneses, chineses etc.), que adoram sua comida pesada, mas tem baixos índices de doenças cardíacas e os outros males crônicos da atualidade. A resposta de Pollan é simples: a dieta norte-americana, ocidental, é a única na qual o corpo humano não consegue se manter saudável.

Em defesa da comida defende, na verdade, uma relação saudável com a produção de comida (com respeito à terra) e com o prazer de se alimentar bem, de preferência com uma comida tradicional, feita em casa. Reforçar os valores culturais e familiares do ato de se alimentar. "Estamos entrando numa era de alimentação pós-industrial; pela primeira vez em uma geração é possível deixar para trás a dieta ocidental sem ter também que deixar para trás a civilização. (...) Este livro é o manifesto de alguém que come, um convite para que você se una ao movimento que está renovando nosso sistema alimentício em nome da saúde", explica Pollan.


MICHAEL POLLAN, autor de O dilema do onívoro, best-seller considerado um dos 10 melhores livros de 2006 pelo New York Times, publicou The Botany of Desire e Second Nature. Professor de jornalismo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, foi editor-executivo da revista Harper's, e colabora com a revista dominical do New York Times.


Recomendações de Michael Pollan para uma alimentação saudável:


1. Não coma nada que sua avó não reconhecesse como comida.

2. Evite comidas contendo ingredientes cujos nomes você não possa pronunciar.

3. Não coma nada que não possa um dia apodrecer.

4. Evite produtos alimentícios que aleguem vantagens para sua saúde.

5. Dispense os corredores centrais dos supermercados e prefira comprar nas prateleiras periféricas.

6. Melhor ainda: compre comida em outros lugares, como feiras livres ou mercadinhos hortifrútis.

7. Pague mais, coma menos.

8. Coma uma variedade maior de alimentos.

9. Prefira produtos provenientes de animais que pastam.

10. Cozinhe e, se puder, plante alguns itens de seu cardápio.

11. Prepare suas refeições e como apenas à mesa.

12. Coma com ponderação, acompanhado, quando possível, e sempre com prazer.



"Um livro inestimável e intenso."

The New York Times


"Neste livro memorável, Pollan constrói um argumento convincente não só contra o filé, mas contra toda a dieta ocidental."

The Washington Post

"Pollan produziu outro grande livro. Não é apenas uma reflexão. Procura responder questões, e não levantá-las."

Salon.com

Em defesa da comida – Um manifesto, Michael Pollan

Tradução de Adalgisa Campos da Silva

275 páginas

Lançamento: 5 de setembro de 2008

Fonte: http://www.jornow.com.br/jornow/noticia.php?idempresa=1107&num_release=813

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