VIDEO: Ecovilas - IPEC - Pirenopólis

A cidade de Pirenopólis, em Goiás, é para lá de tradicional, com igrejinha, casario barroco e vida pacata. Mas o campo é uma aldeia futurista, com abóbadas misteriosas, casulos gigantes, placas metálicas e armações psicodélicas. Quando foi que isso tudo apareceu?

"Foi quando eu percebi que era necessário mudar a minha vida para que o mundo mudasse", conta o ecologista André Soares, que construiu, na zona rural de Pirenópolis, uma vila inteiramente adequada ao princípio da permacultura, uma junção das palavras "permanência" e "cultura".

"O princípio fundamental é assumir responsabilidades pela nossa própria existência. Eu aprendi com a permacultura que nós não podemos viver uma vida de dependência, uma vida em que o resto do mundo tenha que cuidar de nós", explica André.

A primeira sensação é de estranheza, como se você estivesse no cenário de um daqueles filmes antigos de ficção científica ou então numa comunidade esotérica habitada por excêntricos desconectados do mundo. Mas, logo depois, você percebe justamente o contrário: em tudo há senso prático e busca por aplicação na vida concreta das pessoas, sempre procurando conforto, porque vida sustentável nada tem a ver com vida primitiva.

Enquanto André vistoria a propriedade, a mulher dele, a australiana Lucia Legan, está na internet em busca de novas tecnologias ambientais disponíveis ao redor do mundo. É o que se poderia chamar de um casal ecológico. Um casal não: uma família ecológica!

"Até hoje essa filha é ecológica. Ela foi criada dentro dos princípios da permacultura desde o momento de seu nascimento até hoje. Com 16 anos, ela é um produto da vida sustentável", conta André.

A estudante Laila Soares ajuda a mãe no escritório do Instituto de Permacultura e Ecovila do Cerrado. "Uma filha ecológica seria você se preocupar com o meio ambiente e fazer alguma coisa. Não só falar, mas praticar ao mesmo tempo", esclarece.

Praticar é o que fazem a família Soares e os voluntários que vêm do mundo inteiro. Um sistema de calhas, tubos e cisternas capta e armazena a água da chuva, só o que se bebe no local. Água da fonte é para gerar energia, que também vem do sol. Tudo é pensado para aproveitar os recursos disponíveis.

"A arquitetura tem que ser um reflexo do meio. Vivemos no cerrado, onde temos terra em abundância e madeira em escassez. Assim como nos países onde esse tipo de arquitetura evoluiu, a madeira é escassa e a terra é abundante", constata André







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O superadobe


Flávio Oliveira era um pedreiro tradicional, goiano criado na roça e nos rodeios da região. Mas, depois que foi para a ecovila, aprendeu que gente pode imitar passarinho, fazer o que o joão-de-barro faz.

"Essa tecnologia pode ser trabalhada com solos arenosos e argilosos, não exige muita qualidade. Quanto mais pobre o solo melhor para construir", ressalta Flávio.

É o superadobe! Basta encher de terra um saco de polietileno, material biodegradável que se desmancha com o tempo. Depois, é só dar umas batidinhas com a marreta de borracha e empilhar um saco no outro para construir a casa.

"O custo desse material é quase zero. Você compra simplesmente o saco", diz Flávio, que ajudou a construir boa parte das casas da vila. "Nós trabalhamos bastante com a forma redonda porque assim ganhamos maior estabilidade na parede. Não tem colunas. Você não precisa usar prumo na parede, então, consegue trabalhar mais facilmente. É uma massa mais forte porque a gente usa 10% de cimento", explica.

O estudante Felipe Horst foi outro que se encantou com os métodos de construção sustentáveis. Ele deixou o apartamento dos pais, em Porto Alegre, e uma vida que já não lhe agradava mais. "Minha vida era com a de qualquer jovem que estuda na faculdade e gasta demais, agride demais. Mesmo sem querer, agride", conta.

Ao chegar à ecovila, Felipe começou a trabalhar no escritório e passou ver o mundo de outro jeito. "É aquela coisa de pensar o que você vai fazer, ter uma responsabilidade sobre tudo o que faz e o que produz de resíduo".

Mudou tanto que hoje não entende como é que uma pessoa não pensa no que faz. A começar pelo banheiro.

"Ele faz a coisa mais lógica do mundo: não mistura as fezes humanas com água, porque isso não tem sentido. É um banheiro sem água. Não tem cheiro nenhum. É desenhado para ser confortável como qualquer outro sanitário. Não tem descarga e é muito simples: nós estamos substituindo a água por um resíduo convencional da marcenaria, a serragem. Água, só para lavar a mão", explica André. "Eu não diria que isso é a solução para as cidades, porque a maior parte das casas já tem um sanitário instalado com água. Por que não reusar a água das pias no sanitário?".

Os resíduos ficam armazenados num depósito. "Como é uma placa metálica voltada para o sol, a temperatura vai subir a quase 65ºC e praticamente eliminar todos os patógenos nas primeiras horas. Qualquer risco de transmissão de doença é eliminado rapidamente pelo sol", diz André.

É a cadeia da permacultura. As plantas completam o trabalho do solo, drenando o que vem dos chuveiros, das pias, das cozinhas e dos poucos banheiros que ainda têm água.

"A água entra como qualquer outro esgoto e passa por uma série de células. A partir daí, ela vai circulando dentro de garrafas e passando por outras células, se tornando cada vez mais aeróbica. É um filtro biológico, um substrato com raízes de plantas. Toda a ação de microrganismos vai começar a fazer a remoção desses minerais", explica André.


São as raízes das plantas que fazem a limpeza do esgoto. "A gente vê que a água vai ficando cada vez mais clara e cada vez mais reutilizável. E chegamos a um último estágio, em que a água já pode ser exposta, onde temos peixes", conta André.






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A idéia já chegou a um condomínio perto de Goiânia: uma ecovila com as primeiras casas já construídas. O aposentado José Berenguel e a mulher, Áurea, quando jovens, até que viveram perto da natureza, no interior de São Paulo, onde nasceram, mas nunca tinham dado importância para isso.

"Na realidade, a gente vivia na ecologia, mas nem dava valor", diz dona Áurea.
Depois de uma vida inteira sem se preocupar para onde ia o esgoto, de onde vinha a água, se desperdiçavam ou não, os Berenguel encontraram um motivo para morar numa ecovila.

"O medo do amanhã, principalmente para os filhos e netos. Preparar o local onde eles possam ter uma vida sadia, com segurança. Um lugar bom", diz seu José.

Construíram uma casa confortável, mas toda equipada para captar a água da chuva, que eles vão usar até para beber. Se o casal já se vê com cabeça de ecologistas?

"Acho que o tempo vai dizer. A intenção é essa", responde seu José.

Quem entende de permacultura diz que não é difícil e que não é preciso morar numa ecovila ou se isolar numa comunidade rural.

André acredita que é possível transferir a vida da ecovila para uma cidade grande como São Paulo. "Muitas pessoas já estão fazendo isso. Muitas pessoas que freqüentam aqui e capturam os princípios. Porque, na verdade, nós estamos falando de princípios de vida e de pensamento – mudando a sua vida, a vida com os vizinhos, a vida da comunidade. Isso é perfeitamente possível", afirma o ecologista.

MAIS INFORMAÇÕES:

- André Soares – ecologista e coordenador do Ecocentro de Pirenópolis (GO)
Site: www.ecocentro.org E-mail: ipec@ecocentro.org





Video de apresentação do Ecocentro IPEC - Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado, localizado em Pirenópolis, Goiás, Brasil. Visite WWW.ECOCENTRO.ORG

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