Alterações climáticas afectam gravemente cetáceos
O relatório, intitulado Whales in hot water?, salienta o crescente impacto das alterações climáticas sobre os cetáceos, onde se incluem alterações na temperatura do mar, na redução do teor de sal devido ao degelo e aumento da precipitação, subida do nível do mar, perda das calotas polares e seus habitats e o declínio das populações de krill em zonas chave.
O krill é um pequeno crustáceo que depende da presença de gelo no mar e é a principal fonte de alimento para a maioria dos grandes cetáceos.
O acelerar das alterações climáticas acrescenta perturbações significativas para além da poluição química e sonora, colisões com navios e afogamento por ficarem presos em redes perdidas, o que mata mil cetáceos por dia.
“As baleias, golfinhos e botos têm alguma capacidade de adaptação a alterações ambientais", diz Mark Simmonds, director internacional de ciência da WCDS, “mas o clima está actualmente a mudar a um ritmo tão elevado que não é claro até que ponto as baleias e os golfinhos serão capazes de se ajustar, pelo que acreditamos que muitas populações estejam muito vulneráveis às alterações previstas."
Os impactos das alterações climáticas são mais fortes nas regiões polares. De acordo com o relatório, os cetáceos que dependem das águas geladas dessas zonas para habitat e comida, como as belugas, os narvais e as baleias corcunda, devem ser dramaticamente afectados pela redução da área de mar coberta de gelo.
E se a cobertura de gelo diminui, passarão a existir mais actividades humanas, como a passagem de frotas comerciais, explorações de petróleo, gás e minérios, desenvolvimento urbano e actividades militares em zonas antes intocadas do Árctico.
“Isto vai resultar em riscos maiores de derrame de petróleo e de químicos, perturbações acústicas mais graves e mais colisões entre baleias e navios", diz a autora principal do relatório Wendy Elliott, do Programa Global de Espécies do WWF.
Outros impactos previsíveis das alterações climáticas referidos no relatório incluem: a redução do habitat disponível para várias espécies de cetáceos que não conseguem deslocar-se para águas mais frias (como os golfinhos de rio, por exemplo), a acidificação dos oceanos devida à absorção de crescentes quantidades de CO2, um aumento da susceptibilidade dos cetáceos a doenças e a redução do sucesso reprodutor, da taxa de sobrevivência e de saúde dos animais.
As alterações climáticas podem também ser o último prego no caixão para as últimas 300 baleias francas do Atlântico norte, com a sobrevivência das suas crias directamente relacionada com o efeito variabilidade climática sobre a abundância de presas.
O WWF e a WCDS estão a apelar aos governos que reduzam as emissões globais de CO2 em pelo menos 50% até meados deste século. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Alterações Climáticas mostrou que era possível parar o aquecimento global se as emissões mundiais começassem a reduzir-se antes de 2015.
As duas organizações conservacionistas apelaram também à IWC que facilitasse investigação sobre os futuros impactos das alterações climáticas sobre os cetáceos, incluindo um workshop específico sobre o tema no próximo ano. Pediram também à Comissão que elaborasse planos de conservação e gestão à luz da ameaça das alterações climáticas e aumentasse os esforços e os recursos para combater outras ameaças aos cetáceos.
Saber mais:
Whales in Hot Water -The Impact of A Changing Climate on Whales, Dolphins and Porpoises
Whale and Dolphin Conservation Society
Baleias Francas do Atlântico Norte - o empurrão final para a extinção?
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