Intolerância à lactose

A estimativa é de que 60% da população mundial tenha algum grau de intolerância ao leite – problema mais comum ligado à bebida. “Tudo começaria por volta dos 5 anos, quando, geralmente, o organismo humano começa a diminuir a produção de uma enzima chamada lactase, responsável pela digestão da lactose, o açúcar do leite”, diz a nutricionista Vanderlí Marchiori, fitoterapeuta, especialista em alimentação funcional e colaboradora do Conselho Regional de Nutrição, em São Paulo. A reação não é percebida sempre. Muita gente só descobre a intolerância mais tarde, quando deixa o alimento de lado e nota que a saúde e a pele melhoram. Quando não é digerida, a lactose passa por um processo de fermentação no intestino e se transforma em “comida” para fungos e outros microorganismos típicos da flora intestinal, que se multiplicam causando doenças e deixando as bactérias do bem, como os lactobacilos, em desvantagem. Quando isso acontece, o corpo dá sinais: intestino preso, dores abdominais, flatulência, dores de cabeça e dermatite atópia – uma alergia de pele que provoca manchas avermelhadas e coceira. Como as vitaminas e outros nutrientes essenciais dependem de um intestino sadio para ser absorvidos, o bom funcionamento do organismo como um todo acaba sendo afetado.


alergia às proteínas


Para a turma do contra, a intolerância à lactose não é o problema mais sério relacionado ao leite. “Complicada mesmo é a alergia às proteínas, principalmente a betalactoglobulina e a caseína. O organismo humano não tem enzimas que possam digerir essas substâncias”, diz a nutricionista Denise Madi Carreira. Há dez anos, ela resolveu pesquisar o leite depois de, a pedido do pediatra, eliminá-lo da alimentação de seu filho, de 12 anos, que, até então, sofria de rinite, sinusite e bronquite. Depois disso, o garoto nunca mais precisou tomar remédio. “O leite estimula a produção de muco, que, em excesso, está relacionado a uma série de problemas respiratórios”, explica George Eliane Silva, clínico geral, homeopata e nutrólogo. Sua opinião é compartilhada por vários profissionais que defendem a restrição ao consumo de leite.
Denise continua estudando o assunto até hoje e uma de suas conclusões é que as proteínas do leite não digeridas alteram a parede intestinal, responsável pela absorção dos nutrientes. “Essa alteração permite que as moléculas tóxicas, que seriam excretadas, entrem na corrente sanguínea, deixando o organismo mais vulnerável a doenças.” Por isso, alguns médicos e nutricionistas optam por retirar não só o leite como todos os laticínios da dieta de seus pacientes alérgicos. Ao contrário do que acontece com a lactose, não existe um processo industrial que faça a pré-digestão das proteínas. A alergia às proteínas lácteas não é diagnosticada com facilidade, e não há um exame 100% confiável. Muitas vezes, quando identificada, a doença já afetou o organismo.
Segundo a nutróloga Berenice Wilke, da Associação Brasileira de Medicina Complementar, todo leite animal (vaca, cabra e búfala) pode causar alergia por ser de difícil digestão. Uma saída seria substituí-lo pelo de soja (aquele do tipo original, sem sabor de fruta). Ele tem teor de proteína semelhante ao do leite de vaca e existem versões enriquecidas com cálcio. Maria Luiza não concorda e rebate com dados de mais uma pesquisa a favor da bebida. “O CLA, um ácido graxo presente na gordura do leite, tem propriedades anticancerígenas.” Como você vê, a discussão só está começando.
até depressão?

É no intestino que boa parte da serotonina, o neurotransmissor responsável pela sensação de bem-estar e pela diminuição do apetite por carboidratos, é produzida. Quando as funções do intestino são prejudicadas — seja pela presença indigesta de um alimento ou por outro tipo de distúrbio —, a produção de serotonina fica comprometida. E a falta dessa substância no organismo está associada à depressão. “Se a causa do problema não é combatida, não adianta tomar antidepressivo”, diz Joaquim Ambrósio Trebbi Gonçalves, do Hospital da Beneficência Portuguesa, em São Paulo. Médico ortomolecular e especialista em cardiologia, nutrição e medicina intensiva, ele é o supervisor técnico do livro Leite: Alimento ou Veneno? (editora Ground), do americano Robert Cohen, recém-lançado no Brasil. Na publicação, Cohen, psicólogo especializado em psicobiologia, lista outras doenças que poderiam ser desencadeadas pelo consumo de leite. O autor relaciona, inclusive, diversos tipos de tumor ao acúmulo no organismo dos hormônios do crescimento bovino, usados para aumentar a produção de leite. Essa relação aparece também no livro O Leite Que Ameaça as Mulheres, do francês Raphaël Nogier (Ícone Editora). Pesquisas recentes, feitas na Austrália e divulgadas pela Sociedade Brasileira de Diabetes, levantaram a suspeita de que a proteína do leite pode ser um gatilho para o diabetes tipo 1 em pessoas que já tenham uma predisposição para a doença. Mas são estudos iniciais, ainda sem confirmação definitiva. O médico grego Fedon Alexander Lindberg escreve no livro A Dieta dos Deuses (Editora Gente) que, consumido com moderação, o leite pode fazer parte de uma dieta balanceada desde que o organismo o tolere bem. Mas avisa: “Nenhum outro animal ingere leite de espécies diferentes após o período de lactação”. E conclui: o ser humano se mantém saudável sem consumir leite. Afinal, 1,2 bilhão de habitantes da China sobrevivem muito bem sem laticínios. Sua preocupação é o risco de osteoporose? Segundo Fedon, os escandinavos, grandes consumidores da bebida, apresentam freqüente incidência de perda de massa óssea.


vai faltar cálcio?
Sem dúvida, o leite (e derivados) é campeão absoluto de cálcio, mineral mais que importante para garantir ossos fortes. Mas, veja bem: não basta incluí-lo no cardápio. Para manter o equilíbrio ideal de cálcio, o organismo não depende apenas da ingestão mas também da absorção desse mineral. Segundo especialistas, o cálcio necessita de outros minerais como o boro, o magnésio e o manganês para ser fixado nos ossos. E a presença desses nutrientes depende diretamente de uma alimentação balanceada. As folhas escuras, como couve, brócolis, chicória, almeirão, escarola e mostarda, têm de sobra tanto o cálcio como os outros minerais citados. Um prato de sobremesa dessas verduras todos os dias, no almoço ou no jantar, dá conta de repor o cálcio que o corpo precisa. Outra alternativa, segundo a nutricionista Vanderlí Marchiori, é incluir nas receitas diárias uma pasta de gergelim chamada tahine, tempero de origem árabe encontrado nos supermercados. Ela sugere também o consumo diário de uma colher de sobremesa da mistura de sementes de linhaça, girassol (sem casca) e gergelim. Vanderlí ressalta que, quando o manganês, o magnésio e o boro são insuficientes, o cálcio fica circulando pelo organismo, podendo causar artrite, bursite e cálculos renais.


Nota: (Luis Guerreiro) - A melhor forma de consumir o leite é através do kefir que pré-digere o mesmo.


Adaptação de Luis Guerreiro


Fonte: boaforma.abril.com.br

Comentários

Anônimo disse…
Olá,
Tudo bem? Gostaríamos de te convidar a colocar os textos do Slow Food Brasil na lateral de seu blog. Se gostar da idéia, saiba como fazer isso nessa página: www.slowfoodbrasil.com/content/view/234/62/

Entre os blogs que já colocaram as notícias em seus sites estão: Come-se, Alimento para pensar, Orgânicos e Sustentáveis, Central do Cerrado, Comadre Fulozinha etc.

Abraços,
Equipe Slow Food Brasil
www.slowfoodbrasil.com
ComAmor disse…
Olá,

Luís, gostaria da sua ajuda no que respeita à seguinte situação:
A minha filha de três anos e meio, tem vindo a desenvolver sintomas que se encontram descritos neste texto,tais como inflamações na pele, cólicas, rinite alérgica estamos a pensar em retirar o leite e seus derivados. No entanto depara-se-nos um problema que é o seguinte: Que alimento(s)substitui o leite.
Uma das hipoteses seria o leite de soja. Mas as contra indicações, já identificadas num artigo, do seu sitio, levaram-nos a excluir essa hipotese.
O kefir, eu já o tomei e o seu sabor não émuito agradavél.
Assim ficámos sem opção para o substituo do leite.
Em resumo queremos retirar o leite da alimentação das nossas filhas, mas só quando existir uma(s) alternativa(s) ao leite.
Pode ajudar-nos com alguma alternativa mais para além das que eu enumerei? Eu agradecia muito uma solução.

Comum grande bem haja, até breve.
Luis Guerreiro disse…
A questão de tomar leite tem a ver geralmente com o cálcio. O leite pasteurizado que se consome normalmente é rico em cálcio inorgânico pois a acção do calor aglomera de novo as moléculas do cálcio para além de destruir enzimas e outros nutrientes que ajudam na sua absorção. Como é quase impossível obter leite cru em condições aceitáveis para consumo restam outras alternativas.
O gergelim ou sésamo é muito rico em cálcio e pode-se fazer um leite do mesmo bastando bater com água num liquidificador.
Existem muitos outros alimentos ricos em cálcio mas não esquecer que para o mesmo ser absorvido são necessários outros nutrientes.
As algas chegam a ter 13 vezes mais cálcio que o leite e sem equilibradas com outros minerais, vitaminas, etc que ajudam na absorção do cálcio.
A questão são os nossos hábitos alimentares que precisam ser repensados e eventualmente mudados. Estamos tão habituados ao leite que não vemos outras soluções.
A maioria das sementes, amêndoas, nozes, servem para fazer leite usando o mesmo processo que indiquei anteriormente.
Para melhorar o sabor destes leites podemos usar uma pitada de sal marinho (não industrial se possível) e um pouco de mel (crianças com idade superior ao 1 ano) - podemos também misturar banana.

Espero ter ajudado!

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