Qualidade do ar, transporte e os impactos na saúde da população

Mais de 50 pessoas participaram do debate "Qualidade do ar e mobilidade urbana em São Paulo", promovido pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente, a ONG Rua Viva e o Movimento Nossa São Paulo

SAÚDE
Texto de Luanda Nera

A discussão sobre o panorama geral da qualidade do ar em São Paulo e os efeitos na saúde da população, com enfoque no modelo de mobilidade urbana adotado na cidade, atraiu a atenção do público que lotou o auditório da ONG Ação Educativa no último dia 23 de julho. Mais de 50 pessoas participaram do debate "Qualidade do ar e mobilidade urbana em São Paulo", promovido pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente, a ONG Rua Viva e o Movimento Nossa São Paulo. O evento faz parte das ações de preparação para o Dia Sem Carro, em 22 de setembro.

"Muitos subestimam os efeitos da poluição na saúde. A poluição gera mudanças comportamentais, doenças e pode até levar à morte. A água, antes de ser consumida, é tratada para evitar contaminação. Mas ainda não dá para comprar ar engarrafado!" Essas e outras declarações foram emitidas pelo professor Paulo Saldiva, chefe do departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP, que há mais de 30 anos estuda o impacto da poluição na saúde e é um dos mais renomados especialistas no assunto.

Durante o evento, ele criticou a falta de atenção concedida ao problema por parte dos governos e exemplificou: "Não são feitos estudos ambientais para avaliar os efeitos da poluição na vida de todos nós. Ninguém, por exemplo, deveria morar a menos de 200 metros de uma grande avenida. O padrão de qualidade do ar tem que proteger a saúde da população. Mas a realidade é que todos nós paulistanos, fumantes ou não, inalamos de dois a três cigarros todos os dias".

A grande circulação de automóveis na cidade - principal responsável pela poluição da capital paulista - provoca a morte de quatro pessoas todos os dias. O pior: são os mais pobres que sofrem mais e, conseqüentemente, morrem mais. É o que Paulo Saldiva chamou de "injustiça ambiental". "Quem está perto do centro tem mais condições financeiras para comprar remédios e pagar por melhor assistência. Além disso, os carros que por lá trafegam são mais modernos e poluem menos", detalhou. Estima-se que as pessoas mais carentes morrem 6 vezes mais por causa da poluição do que as ricas.

Transporte urbano: grande vilão

Se os efeitos da poluição na saúde dos moradores das grandes cidades já estão comprovados, também é consenso que o atual modelo de transporte adotado pelas grandes cidades brasileiras é o grande vilão. Apenas na cidade de São Paulo, onde são licenciados 1 mil carros por dia, são lançados a cada 3 meses precursores de ozônio em quantidade equivalente a de um ano de funcionamento de uma termoelétrica.

"Não há mais espaço para automóveis nas grandes capitais. A frota da capital paulista é de 5 milhões de automóveis, mas apenas 3,5 milhões circulam. No horário de pico, são cerca de 700 mil que estão nas ruas. Se todos saíssem ao mesmo tempo, aconteceria um colapso!", estima Nazareno Stanislau Affonso, coordenador do Movimento Nacional Pelo Direito do Transporte Público de Qualidade Para Todos e diretor do instituto Rua Viva, ONG responsável pel a campanha do "Dia Mundial Sem Carro".

Nazareno Stanislau também destacou o problema crônico das mortes no trânsito, que provoca tragédias diárias em todo o País. "No período entre o acidente do avião da Gol e o da TAM, cerca de 400 pessoas morreram em acidentes aéreos. Só no trânsito, no mesmo período, foram 12 mil", alerta Nazareno. "Os cidadãos precisam diminuir seu vício pelo automóvel. Existem outros meios mais saudáveis e melhores para o bem-estar do que o carro", concluiu.
Poluição X saúde

- No Instituto do Coração, de cada 100 consultas no pronto-socorro, 12 são atribuídas à poluição do ar. De 5% a 6% das mortes naturais de idosos são aceleradas pela poluição;

- O risco de ter câncer de pulmão morando numa cidade como São Paulo é 10% maior do que em outro local;

- A moto emite 20 vezes mais poluentes do que um carro novo. Enquanto um carro roda em média 30 km por dia, as motos de entrega percorrem até 180 km. Assim, uma moto pode poluir tanto quanto 120 carros.

- Estima-se que os níveis atuais de poluição da cidade de São Paulo promovam uma redução de cerca de um ano e meio de vida em seus moradores;

- A poluição de São Paulo provoca impacto sobre cada habitante equivalente à inalação de cerca de 3 cigarros por dia.

- Os custos dos efeitos crônicos da poluição do ar são substanciais. Na cidade de São Paulo, as estimativas mais conservadoras apontam para valores de US$ 400 milhões por ano.

Fonte: Dr. Paulo Saldiva, patologista da Faculdade de Medicina da USP

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