A epidemia de diabetes
Uma epidemia de diabetes se espalha pelo Brasil e por muitos países.
Essa afirmação parece estranha porque costumamos empregar o termo epidemia apenas quando nos referimos às doenças infecto-contagiosas, mas a atual explosão de casos de diabetes obedece a todos os critérios epidemiológicos necessários para a caracterização de uma epidemia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) chama a atenção para o fato de que a incidência de diabetes aumenta não apenas nos países industrializados, mas também nos que adotaram estilos de vida e hábitos alimentares "ocidentalizados". A OMS estima que cerca de 5,1% da população mundial entre 20 e 79 anos sofra da doença. E faz previsões nada otimistas: o número atual de 194 milhões de casos duplicará até 2025.
Diabetes mellitus é uma condição crônica que surge quando o pâncreas se torna incapaz de produzir insulina (diabetes tipo 1 ou insulinodependente), ou quando o organismo não consegue fazer uso adequado da insulina produzida (tipo 2 ou não insulinodependente). Noventa por cento dos casos pertencem ao tipo 2, e apenas 10%, ao tipo 1.
Sabe-se que filhos de pais e mães diabéticos correm mais risco de desenvolver a doença e que algumas condições da vida intra-uterina também aumentam a probabilidade. Por exemplo, crianças nascidas com baixo peso correrão risco maior na vida adulta.
Embora fatores genéticos estejam claramente envolvidos em ambas as formas da doença, as causas de diabetes tipo 1, mais freqüente em crianças e adolescentes, permanecem mal elucidadas; já as do tipo 2, que se instalam preferencialmente na maturidade, estão ligadas ao excesso de peso, à obesidade, à inatividade física, às dietas ricas em gordura e em alimentos de alta densidade energética.
Fatores de risco
Nos últimos 20 anos, ficou demonstrado que a obesidade é um fator de risco determinante para o aparecimento de diabetes tipo 2 em todos os grupos raciais ou étnicos estudados. Mas, o risco pode variar de acordo com o grupo estudado. As populações indígenas, por exemplo, são particularmente suscetíveis à associação obesidade-diabetes: os índios Pima, do Arizona, conhecidos pela alta prevalência de obesidade, apresentam a maior incidência de diabetes do mundo (50% dos adultos são diabéticos).
No passado, pensávamos que o tecido gorduroso fosse simples depósito de gordura, encarregado de armazenar energia a ser disponibilizada quando o organismo dela necessitasse. Hoje sabemos que as células adiposas podem ser consideradas parte do sistema endócrino: produzem hormônios que caem na corrente sangüínea e vão afetar outros tecidos.
É o caso da lepitina, proteína descrita em 1994, dotada da propriedade de agir sobre o centro da saciedade no cérebro, com a finalidade de inibir o apetite, evitar a obesidade e, conseqüentemente, condições como o diabetes. Por razões desconhecidas, no entanto, indivíduos obesos, apesar de geralmente produzirem grandes quantidades de lepitina, são resistentes a seu efeito inibidor do apetite. Essa resistência mantém a obesidade e aumenta a chance de desenvolver diabetes.
Ação dos hormônios
Recentemente, foram descritos outros dois hormônios produzidos pelo tecido adiposo envolvidos no aparecimento da doença: resistina e adiponectina. O primeiro, como o nome indica, exerce ação oposta à da insulina, reduzindo sua capacidade de metabolizar glicose adequadamente e favorecendo, assim, o aumento das concentrações de açúcar no sangue. Já a adiponectina promove efeito oposto: facilita a ação da insulina, reduzindo o risco de diabetes.
Infelizmente, nas pessoas obesas a produção de resistina aumenta e a de adiponectina cai, criando uma composição hormonal que favorece o aparecimento da doença.
Além desses hormônios, os ácidos graxos produzidos generosamente pelas células gordurosas em excesso acabam se acumulando nos músculos encarregados de remover glicose da circulação, dificultando a atividade da insulina e aumentando a quantidade de açúcar na corrente sangüínea.
Por razões como essas, o risco de homens ou mulheres desenvolverem diabetes aumenta progressivamente com a quantidade de gordura em excesso. Curiosamente pessoas obesas com excesso de tecido adiposo acumulado na região abdominal correm mais risco de se tornarem diabéticas do que pessoas obesas com gordura distribuída uniformemente pelo corpo.
Mudanças no estilo de vida
A atual epidemia de obesidade que atinge a infância e os adolescentes tem provocado aumento assustador de diabetes do tipo 2, mesmo nessas faixas etárias anteriormente consideradas resistentes a essa forma da doença. É importante lembrar que um adolescente com excesso de peso tem 70% de chance de mantê-lo ou de se tornar obeso na vida adulta. Se um de seus pais sofrer de obesidade, a probabilidade então sobe para 80%.
Várias pesquisas demonstram que perdas de 5% a 10% do peso corpóreo podem prevenir ou pelo menos retardar o aparecimento de diabetes. Mudanças discretas no estilo de vida que incluam dieta e atividade física, também. Por exemplo, andar 30 minutos por dia pode reduzir 40% a 60% o risco de instalação da doença.
Andar apenas 30 minutos por dia para evitar uma doença que provoca perda da visão, ataques cardíacos, derrames cerebrais, amputações de membros e insuficiência renal capaz de exigir transplante de rim, é muito sacrifício?
Fonte:Drauzio Varela
Essa afirmação parece estranha porque costumamos empregar o termo epidemia apenas quando nos referimos às doenças infecto-contagiosas, mas a atual explosão de casos de diabetes obedece a todos os critérios epidemiológicos necessários para a caracterização de uma epidemia.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) chama a atenção para o fato de que a incidência de diabetes aumenta não apenas nos países industrializados, mas também nos que adotaram estilos de vida e hábitos alimentares "ocidentalizados". A OMS estima que cerca de 5,1% da população mundial entre 20 e 79 anos sofra da doença. E faz previsões nada otimistas: o número atual de 194 milhões de casos duplicará até 2025.
Diabetes mellitus é uma condição crônica que surge quando o pâncreas se torna incapaz de produzir insulina (diabetes tipo 1 ou insulinodependente), ou quando o organismo não consegue fazer uso adequado da insulina produzida (tipo 2 ou não insulinodependente). Noventa por cento dos casos pertencem ao tipo 2, e apenas 10%, ao tipo 1.
Sabe-se que filhos de pais e mães diabéticos correm mais risco de desenvolver a doença e que algumas condições da vida intra-uterina também aumentam a probabilidade. Por exemplo, crianças nascidas com baixo peso correrão risco maior na vida adulta.
Embora fatores genéticos estejam claramente envolvidos em ambas as formas da doença, as causas de diabetes tipo 1, mais freqüente em crianças e adolescentes, permanecem mal elucidadas; já as do tipo 2, que se instalam preferencialmente na maturidade, estão ligadas ao excesso de peso, à obesidade, à inatividade física, às dietas ricas em gordura e em alimentos de alta densidade energética.
Fatores de risco
Nos últimos 20 anos, ficou demonstrado que a obesidade é um fator de risco determinante para o aparecimento de diabetes tipo 2 em todos os grupos raciais ou étnicos estudados. Mas, o risco pode variar de acordo com o grupo estudado. As populações indígenas, por exemplo, são particularmente suscetíveis à associação obesidade-diabetes: os índios Pima, do Arizona, conhecidos pela alta prevalência de obesidade, apresentam a maior incidência de diabetes do mundo (50% dos adultos são diabéticos).
No passado, pensávamos que o tecido gorduroso fosse simples depósito de gordura, encarregado de armazenar energia a ser disponibilizada quando o organismo dela necessitasse. Hoje sabemos que as células adiposas podem ser consideradas parte do sistema endócrino: produzem hormônios que caem na corrente sangüínea e vão afetar outros tecidos.
É o caso da lepitina, proteína descrita em 1994, dotada da propriedade de agir sobre o centro da saciedade no cérebro, com a finalidade de inibir o apetite, evitar a obesidade e, conseqüentemente, condições como o diabetes. Por razões desconhecidas, no entanto, indivíduos obesos, apesar de geralmente produzirem grandes quantidades de lepitina, são resistentes a seu efeito inibidor do apetite. Essa resistência mantém a obesidade e aumenta a chance de desenvolver diabetes.
Ação dos hormônios
Recentemente, foram descritos outros dois hormônios produzidos pelo tecido adiposo envolvidos no aparecimento da doença: resistina e adiponectina. O primeiro, como o nome indica, exerce ação oposta à da insulina, reduzindo sua capacidade de metabolizar glicose adequadamente e favorecendo, assim, o aumento das concentrações de açúcar no sangue. Já a adiponectina promove efeito oposto: facilita a ação da insulina, reduzindo o risco de diabetes.
Infelizmente, nas pessoas obesas a produção de resistina aumenta e a de adiponectina cai, criando uma composição hormonal que favorece o aparecimento da doença.
Além desses hormônios, os ácidos graxos produzidos generosamente pelas células gordurosas em excesso acabam se acumulando nos músculos encarregados de remover glicose da circulação, dificultando a atividade da insulina e aumentando a quantidade de açúcar na corrente sangüínea.
Por razões como essas, o risco de homens ou mulheres desenvolverem diabetes aumenta progressivamente com a quantidade de gordura em excesso. Curiosamente pessoas obesas com excesso de tecido adiposo acumulado na região abdominal correm mais risco de se tornarem diabéticas do que pessoas obesas com gordura distribuída uniformemente pelo corpo.
Mudanças no estilo de vida
A atual epidemia de obesidade que atinge a infância e os adolescentes tem provocado aumento assustador de diabetes do tipo 2, mesmo nessas faixas etárias anteriormente consideradas resistentes a essa forma da doença. É importante lembrar que um adolescente com excesso de peso tem 70% de chance de mantê-lo ou de se tornar obeso na vida adulta. Se um de seus pais sofrer de obesidade, a probabilidade então sobe para 80%.
Várias pesquisas demonstram que perdas de 5% a 10% do peso corpóreo podem prevenir ou pelo menos retardar o aparecimento de diabetes. Mudanças discretas no estilo de vida que incluam dieta e atividade física, também. Por exemplo, andar 30 minutos por dia pode reduzir 40% a 60% o risco de instalação da doença.
Andar apenas 30 minutos por dia para evitar uma doença que provoca perda da visão, ataques cardíacos, derrames cerebrais, amputações de membros e insuficiência renal capaz de exigir transplante de rim, é muito sacrifício?
Fonte:Drauzio Varela
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