Nós podemos deter a epidemia de câncer


Do International Herald Tribune

20/09/2008


Dr. David Servan-Schreiber

Atualmente há uma epidemia de câncer. Um entre três americanos será diagnosticado com câncer, freqüentemente antes da idade de 65 anos. Eu estive do lado errado desta estatística desde os 31 anos de idade, quando descobri que tinha câncer no cérebro.

Desde 1940, nós estamos vendo nas sociedades ocidentais um aumento rápido e acentuado dos tipos comuns de câncer. Na verdade, o câncer em crianças e adolescentes está aumentando em 1% a 1,5% ao ano desde os anos 60. E esses são cânceres para os quais não há prevenção.

Para a maioria dos cânceres comuns - próstata, mama, cólon, pulmão - as taxas são duas vezes maiores no Ocidente do que nos países asiáticos. Mas os asiáticos que emigram para os Estados Unidos alcançam as taxas dos americanos em uma ou duas gerações. Enquanto na Ásia, os asiáticos são protegidos não pelos seus genes, mas pelo seu estilo de vida.

De fato, estudos modernos mostram que no máximo 15% dos cânceres se devem - e apenas em parte - a defeitos genéticos herdados; 85% não são.

Mas o câncer corre nas famílias: um estudo fundamental no "New England Journal of Medicine" mostrou que as crianças adotadas após o nascimento, filhos de pais que morreram de câncer antes dos 50 anos, apresentavam o risco de câncer dos seus pais adotivos, não dos biológicos. O que é passado de uma geração para outra são os hábitos causadores de câncer e as exposições ambientais, não apenas os genes causadores de câncer.

Nós continuamos investindo 97% de nossos fundos de pesquisa de câncer em melhores tratamentos e detecção precoce. Apenas 3% é investido em lidar com as causas.

Eu fui um membro fundador da Médicos Sem Fronteira, Estados Unidos. Eu trabalhei como médico voluntário no Iraque, Guatemala, Tadjiquistão e Kosovo. Eu tenho conhecimento de epidemias em campos de refugiados. Nenhuma epidemia de cólera pode ser detida por detecção precoce e tratamento por antibióticos - por mais eficazes e importantes que sejam. Isso porque os casos sempre se desenvolvem em um ritmo mais rápido do que nossa capacidade de tratar pacientes individuais.

Nos anos 1800, o Reino Unido e os Estados Unidos enfrentaram várias grandes epidemias de cólera. Eles conseguiram detê-las sem antibióticos. Os cientistas e médicos da época ainda nem tinham descoberto o conceito de germes, mas líderes com visão e preocupação suficientes decidiram agir em relação àquela que era a mais provável causa ambiental: as fontes de água contaminadas nos bairros com a maioria dos casos. A cólera recuou.

É irônico pensar que se tivéssemos antibióticos na época, e contássemos com eles para lidar com a doença da mesma forma que contamos com tratamentos anticâncer, nós poderíamos nunca ter controlado a cólera.

Nós dispomos de muito mais dados sobre a maioria das causas prováveis da epidemia moderna de câncer do que nossos antepassados dispunham sobre a cólera.

O Fundo Mundial de Pesquisa do Câncer publicou um relatório em 2007 que concluiu que a maioria dos casos de câncer nas sociedades ocidentais poderia ser evitado com mudanças no estilo de vida: 40% com mudanças na dieta e atividade física (mais vegetais e frutas, menos açúcar, menos carne vermelha, caminhadas regulares ou atividade equivalente por 30 minutos, seis vezes por semana), 30% com o abandono do fumo e cerca de 10% com a redução do consumo de álcool.

Nós agora até mesmo temos dados sobre como alimentos específicos como brócolis e repolho, alho e cebola, chá verde ou açafrão ajudam diretamente a matar as células cancerosas e a reduzir o crescimento dos novos vasos sangüíneos que elas precisam para se desenvolverem em tumores.

A redução da exposição a muitos dos carcinógenos químicos bem caracterizados em nossos ambientes modernos (pesticidas, estrogênios, benzeno, bifenis policlorinados (PCBs), PVCs e o bisfenol A, resultante do aquecimento de líquidos em recipientes plásticos, alquilfenóis em produtos de limpeza, parabenos e ftalatos em cosméticos e xampus, etc.) contribuiriam ainda mais para reduzir o risco de câncer.

Mas ao nem discutir e nem investir em pesquisa e programas preventivos baseados nestes fatos científicos estabelecidos, nós estamos promovendo um senso de desesperança em relação ao câncer.

A maioria das pessoas continua vendo o câncer como uma forma de loteria genética, quando claramente não é. Apesar de todos nós devermos nos guardar contra a falsa esperança em relação ao câncer, nós devemos nos guardar ainda mais veementemente contra esta falsa desesperança. E devemos começar a ajudar nossa sociedade, e a cada um de nós, a tratar das causas desta epidemia moderna.

Dr. David Servan-Schreiber é professor clínico de psiquiatria da Universidade de Pittsburgh e membro fundador da Médicos Sem Fronteira, Estados Unidos, é autor de "Anticâncer -Prevenir e Vencer Usando Nossas Defesas Naturais".

Tradução: George El Khouri Andolfato
Adaptação:Luis Guerreiro
Fonte da foto: Dailymail

Comentários

Anônimo disse…
Eu também tive câncer colo-retal e tenho estudado acerca do assunto.
No Brasil, vejam o site da ABMC-Associação Brasileira de Medicina Complementar, presidida pelo Dr. José Felippe Junior, intrépido guerreiro contra a escuridão da ignorância acadêmica nacional. O site tem muita informação de importância fundamental sobre o tema.
Também tenho o livro do Dr. David Servan e é muito sério o que ele fala sobre o "desinteresse" ou "interesses" da indústria farmacéutica e alimentícia, assim como, a arrogância de tantas universidades e médicos, quanto às teorias e pesquisas divergentes da consagrada oncologia.É preciso discutir mais e mover a opinião pública e os meios de comunicação para forçar as instituições de ensino e pesquisa, governos e cientistas em geral, a voltarem-se, definitivamente, para essa nova (ou velha?) visão sistêmica do câncer e salvar milhões e milhões de vidas humanas, assim como, evitar tanto sofrimento que só quem teve ou tem um câncer e seus familiares podem avaliar!
Abaixo a arrogância! Abaixo a ganância! Abaixo a burrice suicida daqueles que podem mudar a história, mas não o querem!
Como explicar o câncer em crianças e de que formas podemos aumentar as chances de cura?
Agradeço informações sobre isso no meu email: valeria@chalegre.com.br

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