Leite materno sozinho reduz transmissão do HIV para o bebê

As mulheres infectadas pelo HIV, que amamentam exclusivamente seus filhos - e não parcialmente - podem reduzir de maneira significativa o risco de transmitir o vírus da Aids para as crianças, revela um estudo que será publicado na revista científica The Lancet.

Embora a promoção da amamentação seja um grande dilema para os envolvidos na prevenção da Aids, os dados do primeiro teste focado na relação entre a alimentação infantil e a transmissão mãe-filho do HIV, realizada por dois cientistas sul-africanos, foram tão irrefutáveis que levaram a uma revisão das diretrizes da Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre a prevenção da Aids em recém-nascidos.

Em geral, a amamentação é recomendada universalmente, pois o leite materno contém nutrientes vitais que não podem ser encontrados na comida.

Além disso, em países pobres onde as reservas de água podem estar poluídas, uma criança pode ser exposta à diarréia potencialmente fatal na ingestão da fórmula infantil, ou à desnutrição, se o alimento substitutivo do leite materno for pobre em vitaminas e proteínas.

No caso de mães infectadas pelo HIV, a amamentação também pode servir, porém, de vetor de transmissão do vírus para a criança.

Até agora, este risco de transmissão pós-natal era considerado muito alto: entre 10% e 20%. Segundo a agência OnuAids, a cada ano, mais de 300.000 crianças são infectadas com o vírus da imunodeficiência humana depois do nascimento.

O artigo diz, entretanto, que estas estimativas de risco não distinguiam entre a amamentação exclusiva e a alimentação mista, na qual a criança é parcialmente amamentada e parcialmente alimentada com comida sólida ou fórmula infantil.

Eles recrutaram grávidas atendidas em clínicas pré-natais em KwaZulu-Natal, a província sul-africana mais afetada pela Aids. A maioria das mulheres foi incluída em um grupo que apenas amamentou seus filhos e receberam aconselhamento para fazê-lo.

As outras foram incluídas em dois outros grupos: o primeiro, de alimentação mista, e o segundo, que adotou exclusivamente comida ou fórmula infantil para alimentar os filhos. Elas também receberam aconselhamento.

Depois de três meses, a taxa de infecção por HIV entre o grupo que amamentou exclusivamente foi de 4,04%. Entre o grupo que fez uso da alimentação mista, os bebês que receberam a fórmula láctea junto com leite materno se mostraram duas vezes mais propensos à infecção por HIV. E aqueles que se alimentaram com comida sólida - normalmente mingau de cereais - se revelaram 11 vezes mais propensos à infecção do que o grupo exclusivamente lactente.

Além disso, a taxa de mortalidade aos três meses entre os bebês alimentados somente com leite materno foi de 6,1%, enquanto a dos que receberam alimentação substitutiva, de 15,1%.

Um dos principais autores do estudo, Nigel Rollins, da Universidade de KwaZulu-Natal, disse que os motivos de a alimentação mista representar um risco maior de infecção ainda precisam ser investigados.

Uma das causas levantadas é que as proteínas encontradas na fórmula láctea aumentam a vulnerabilidade do organismo da criança ao HIV, afirmou.

Ao todo, 1.372 crianças foram acompanhadas no estudo, 83% das quais pertenciam ao grupo alimentado exclusivamente com leite materno.

O artigo é um dos três grandes estudos examinados por um painel de especialistas da OMS, que sugeriu mudanças nas diretrizes de amamentação da organização, estabelecidas em 2000.

Estas diretrizes recomendam às mulheres infectadas com HIV que amamentem exclusivamente seus bebês nos primeiros seis meses de vida, a menos que haja disponibilidade de comida substitutiva de boa qualidade, segura e acessível.

Quando este alimento substitutivo estiver disponível, a mãe deve adotá-lo por completo e parar de amamentar a fim de impedir o risco de infecção.

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