As vantagens do vegetarianismo, mas com supervisão

Especialistas admitem as vantagens do vegetarianismo, mas com supervisão. As suspeitas em relação à dieta dão lugar às análises de seus benefícios. A Associação Americana de Dietética afirma que é uma opção benéfica para a prevenção de certas enfermidades.

Dezenas de bois pendurados pelas pernas traseiras, prontos para a comercialização. "Muitos se transformariam em vegetarianos se tivessem de matar os animais que comem, ou simplesmente visitassem um matadouro." A frase é comum em certos círculos, aqueles que optam por excluir de sua dieta os produtos animais. Nem carne, nem peixe, nem aves. Os mais estritos nem mesmo ovos, laticínios ou mel. Suas teses foram geralmente vistas com suspeita. Aos poucos, porém, dieteticistas e nutricionistas admitem as vantagens desse tipo de alimentação, tanto em suas correntes mais brandas como nas mais estritas.

"Não existe nenhum argumento para ser contra o vegetarianismo", afirma o grupo de revisão e posicionamento da Associação Espanhola de Dieteticistas-Nutricionistas (AED-N). E, com mais ou menos matizes e senões, essa é a posição de consenso entre os especialistas consultados. "São dietas perfeitamente compatíveis com uma nutrição correta", acrescenta Xavier Formiguera, endocrinologista chefe da unidade de obesidade mórbida do Hospital Trias i Pujol de Barcelona.

A doutora Lucrecia Suárez insiste nessa mudança de postura progressiva, na qual se passou das suspeitas à aproximação cautelosa do fenômeno. Pediatra do hospital Ramón Yves Cajal de Madri e especialista em gastroenterologia pediátrica, Suárez afirma que foi demonstrado que as dietas vegetarianas são benéficas à saúde. Desde que sejam bem planejadas, acrescenta. A própria União Vegetariana Espanhola (UVE) salienta isso. "Recomendamos a todas as pessoas interessadas nesse assunto que se informem bem para poder adotar uma dieta vegetariana equilibrada, com o fim de evitar possíveis carências ou desequilíbrios", explica David Román, seu presidente.

De fato, esse é o segundo ponto de consenso entre uns e outros: é imprescindível consultar um especialista. O controle e a revisão personalizada, acrescenta o dieteticista-nutricionista Jordi Sarola, são imprescindíveis antes de adotar uma dieta vegetariana. Seja qual for, embora no caso das "vegans", as mais estritas, isso seja especialmente importante.

As necessidades nutricionais de uma pessoa de 65 anos não são as mesmas que as de uma de 20, explicam. Nem as das grávidas ou as de uma criança. Inclusive pessoas da mesma idade podem necessitar de aportes diferentes de ferro, por exemplo. O problema, continuam, é que não há consciência disso na Espanha. "Aqui as pessoas se tornam vegetarianas por sua própria conta", resume Suárez.

Nesse aspecto os EUA estão claramente na frente. Com cerca de 2,5% da população vegetariana, segundo os últimos dados, já estão conscientes de que é preciso ter supervisão médica, dizem os especialistas. Além disso, o posicionamento feito em 2003 pela Associação Dietética Americana (ADA) a favor do vegetarianismo se transformou quase na bíblia desse movimento também na Espanha. "As dietas vegetarianas adequadamente planejadas são saudáveis, nutricionalmente adequadas e proporcionam benefícios para a saúde na prevenção e tratamento de determinadas doenças."

Os estudos com vegetarianos mostram, segundo a ADA, que estes têm valores inferiores de índice de massa corporal, assim como menores taxas de mortalidade por doença cardiovascular. Sem esquecer os níveis inferiores de colesterol, de pressão sanguínea e a menor incidência de hipertensão, diabetes tipo 2, câncer de próstata e de cólon.

Claro que a moeda também tem outra face, pois, como lembra Suárez, a descoberta dos prós da dieta vegetariana não significa que não haja contras. "Se uma alimentação vegetariana não for planejada adequadamente, podem aparecer certos transtornos ou doenças", adverte o grupo de revisão e posicionamento da AED-N. Distúrbios ou doenças, é claro, normalmente devidos a deficiências na alimentação.

A grande diferença, acrescentam, talvez seja a velocidade com que aparecem os distúrbios e a percepção de risco que daí se tira. Os sintomas ou doenças por excesso, próprios da dieta onívora, costumam aparecer em longo prazo, segundo a AED-N, enquanto os provocados por deficiência, caso dos vegetarianos, costumam se manifestar em prazo mais curto. A população, no seu entender, teme mais a "deficiência alimentar que o excesso", seguramente pelo fato de a primeira se manifestar de forma mais visível.

A conclusão desse grupo é esclarecedora: "Podemos dizer que o aumento do vegetarianismo entre a população espanhola reduziria as doenças crônicas relacionadas à alimentação onívora, mas também podemos chegar a supor que se poderiam acrescentar novos sintomas e doenças à lista relacionada às deficiências".

Três dietas, três filosofias

OVO/LACTO-VEGETARIANA
Atrás desse nome complicado se esconde a dieta vegetariana mais freqüente na Espanha e no resto da Europa, além de ser a mais branda. Como os demais vegetarianos, baseiam suas refeições no consumo de cereais, verduras, hortaliças, frutas, legumes, sementes e frutas secas. O que diferencia a ovo-lacto das outras correntes é que sua alimentação inclui tanto os produtos lácteos como os ovos, algo totalmente renegado pelo vegetarianismo mais estrito. Sua brandura também a transforma na dieta que exige menos suplementos, segundo especialistas.

LACTO/OVO-VEGETARIANA
Primos-irmãos dos anteriores, os lacto-vegetarianos consomem leite e derivados, mas excluem os ovos, enquanto os ovo-vegetarianos se inclinam justamente pelo contrário: não aos produtos lácteos, sim aos ovos. A exclusão do leite e seus derivados da dieta é um dos pontos mais polêmicos desse tipo de alimentação, já que tradicionalmente se considera que sua contribuição de cálcio é imprescindível para o organismo. Também é polêmica a rejeição aos ovos, pois estes contêm aminoácidos e, sobretudo, a necessária vitamina B12.

VEGAN
A mais estrita. Os "vegans", conhecidos como vegetarianos totais, recusam os produtos lácteos e os ovos, e por isso são mais suscetíveis de precisar de suplementos, especialmente de vitamina B12. Também é nesse tipo de alimentação que pesam mais as motivações éticas, já que recusam tudo o que consideram exploração animal (mel, pele, couro, touradas, experiências...). "Ela contribui para diminuir a fome mundial, para a proteção do meio ambiente e para melhorar a qualidade de vida de todo o planeta", afirmam.

Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte:Ornasa

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