Propaganda de alimento alertará para risco de doença

Folha de São Paulo - 07/07/2008

Propaganda de alimento alertará para risco de doença
Resolução preparada pela Anvisa torna aviso obrigatório a partir do ano que vem

Restrições devem ser ainda mais duras em relação à publicidade para crianças de alimentos com altos teores de açúcar, gordura e sal

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

"Esse alimento contém elevada quantidade de gordura saturada/trans. O consumo excessivo aumenta o risco de desenvolver doenças do coração."
A partir do próximo ano, esse aviso-que também alerta para os perigos do sal e do açúcar- vai estampar as propagandas de sorvetes e tortas, entre outros alimentos industrializados. Estuda-se também criar uma tarja preta -como de remédios- para identificar alimentos perigosos à saúde.
As propostas fazem parte de uma resolução que está sendo elaborada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), que vai restringir a publicidade de alimentos com quantidades de açúcar, gorduras saturada e trans e sódio elevadas.
As restrições devem ser ainda mais duras em relação às propagandas destinadas às crianças. Há uma proposta de limitar o horário de veiculação no rádio e na TV e outra que proíbe que as propagandas usem personagens infantis.
A consulta pública sobre o tema -que reuniu 676 sugestões- será publicada nesta semana. Depois, o texto passará por uma audiência pública, e a previsão é que as novas normas passem a valer em 2009.
Segundo Maria José Delgado, gerente de monitoramento e fiscalização de propaganda da Anvisa, uma das questões que ainda precisa ser definida é o limite seguro do consumo dessas substâncias (ponto de corte). "Quantas bolachas eu posso comer por dia sem que isso represente um risco à saúde?"
Delgado defende que a mudança na legislação seja um passo fundamental para reverter crescentes índices de obesidade e sobrepeso no país. Só entre os jovens, a obesidade já atingiu a marca de 6 milhões.
Hoje, a comunidade científica não tem dúvida de que o tipo de alimentação veiculada na publicidade é fator de risco para doenças como hipertensão.
Dados do IBGE mostram que em 30 anos houve um aumento de 4% para 18% no número de crianças e adolescentes do sexo masculino acima do peso. O crescimento entre as meninas foi de 7,5% para 15,5% no mesmo período. Ao mesmo tempo, doenças como diabetes, obesidade e infarto são responsáveis por quase 50% das mortes no Brasil e representam atualmente 69% dos gastos do SUS, segundo o Ministério da Saúde.
"Existem indústrias que não fazem publicidade de alimentos que causam obesidade em outros países [porque são proibidas], e o fazem aqui. Será que nossas crianças são diferentes das demais?", questiona José Augusto Taddei, professor de nutrologia infantil da Universidade Federal de São Paulo.
De 73 países estudados pela Organização Mundial da Saúde, 85% regulamentam a publicidade (veja quadro).
Taddei afirma que as crianças não conseguem separar o personagem do desenho daquele mesmo que aparece na propaganda de alimentos.
A pedagoga Daniele Novelini de Ávila, 28, conta que os personagens influenciam na escolha dos alimentos preferidos da filha Fernanda, 7. "Tenho muito cuidado na hora de comprar, mas não dá para escapar do bolinho da Mônica ou do iogurte do Bob Esponja. É muito grande a influência dessas propagandas sobre as crianças", diz.

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