Bomba vitamínica


Um grande estudo afirma que não é bom negócio você se entupir de suplementos nutricionais


Anna Paula Buchalla

Quando surgiram, há mais de quatro décadas, os suplementos à base de vitaminas e minerais eram indicados para as pessoas que, por algum motivo, não conseguiam obter esses nutrientes em quantidade suficiente por intermédio da alimentação. Foi no fim dos anos 70, quando o químico americano Linus Pauling passou a defender a tese de que megadoses de vitamina C retardariam o envelhecimento e até ajudariam a prevenir o câncer, que os suplementos ganharam o papel de panacéia para uma série de males e de retardadores do envelhecimento. Hoje, cerca de 20% dos adultos do mundo ocidental fazem uso desses compostos. Valer-se dessas drágeas com o intuito de viver mais, no entanto, pode ter o efeito inverso: ver roubados anos de vida. É o que mostra o maior estudo de revisão sobre a suplementação de vitaminas e minerais já feito. Nele, foram analisadas 67 pesquisas, envolvendo 233 000 pessoas, entre doentes e saudáveis, realizadas ao longo dos últimos quarenta anos. O estudo, conduzido por pesquisadores do The Cochrane Collaboration, uma instituição internacional independente que se dedica à análise crítica de pesquisas, revela que não há evidências que atestem os benefícios das doses extras de vitaminas e minerais. Pior: segundo o estudo, a suplementação de vitaminas A, E e betacaroteno aumenta o risco de morte prematura (veja o quadro). Quanto à vitamina C e ao selênio, revelaram-se inócuos.

Se alimentos ricos em antioxidantes comprovadamente fazem bem ao coração, à pele, à memória e ao vigor físico, por que o mesmo não vale para os suplementos? A resposta é que frutas e vegetais são ricos em fibras e em uma série de outros micronutrientes que interagem entre si. É essa interação que determina a forma como o organismo absorve as vitaminas e os minerais. Isolá-los numa drágea não parece ser, portanto, a maneira mais adequada de extrair bons resultados deles. "Uma dieta equilibrada fornece todos os nutrientes necessários à boa saúde", diz a nutricionista Ana Maria Lottenberg, da Universidade de São Paulo.

A aritmética mostra que isso não é "papo de médico". A necessidade diária de vitamina C é de 90 miligramas para homens e 75 miligramas para mulheres. Uma única goiaba tem 370 miligramas da vitamina e uma mísera laranja-pêra, 95 miligramas. Uma castanha-do-pará, pequenininha como ela só, atinge a recomendação diária de selênio: 55 microgramas. "A suplementação é indicada apenas para quem tem deficiência nutricional e para atletas", diz a nutricionista Danielli Botture Lopes, da consultoria RG Nutri. Como você não vive na África Subsaariana e não vai correr a maratona na Olimpíada...

Fonte:http://veja.abril.com.br/230408/p_117.shtml

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