Pinguins a nadar com tubarões e caranguejos

Temperatura da água subiu 2 graus em meio século

Pinguins a banhos nas mesmas águas que caranguejos, tubarões e outros predadores marinhos avessos a águas frias. O cenário é previsível ainda para este século e será mesmo inevitável, caso a Antárctida continue a aquecer ao ritmo registado nos últimos 50 anos. O alerta parte de um grupo de cientistas britânicos e norte-americanos reunidos em Boston, que prevêem consequências devastadoras para um ecossistema preservado em condições únicas ao longo dos últimos 40 milhões de anos.

O tema esteve em discussão na reunião anual da America Association for the Advancement of Science, que hoje termina no Massachusetts, e as conclusões são previsíveis: como em todas as questões relativas ao fenómeno do aquecimento global, a solução para o problema, garantem os especialistas, passa por uma alteração urgente do comportamento humano. Em concreto, explica Sven Thatje, investigador do National Oceanography Centre da Universidade de Southampton, Inglaterra, "é urgente reduzir o tráfego marítimo e controlar o derrame de águas residuais que transportam espécies estrangeiras para a Antárctida." Medidas essenciais para inibir o aquecimento das águas que, a prazo, significará uma sentença de morte para centenas de espécies nativas que ao longo de milhões de anos se desenvolveram naquela região sem quaisquer predadores naturais.

Mas vamos ao problema. No último meio século, a temperatura das águas à superfície subiu entre um e dois graus centígrados na Antárctida, o que significa o dobro do aquecimento registado no resto do planeta. Um fenómeno que tem empurrado novas espécies de predadores marinhos para sul, entrando em territórios de onde foram banidos pelas baixas temperaturas desde que se iniciou o processo de arrefecimento da Antárctida, há cerca de 40 milhões de anos. Desde logo, os caranguejos, cuja presença começa a ser detectada em águas cada vez mais meridionais, que ameaçam dizimar o complexo e riquíssimo ecossistema que subsiste no tapete do mar.

Depois virão os tubarões e outros peixes predadores de grande porte. "Os tubarões vão chegar à Antárctida, desde que a tendência de aquecimento se mantenha", garantiu em Boston Cheryl Wilga, investigador da Universidade de Rhode Island, Estados Unidos. "Um pouco mais lentamente que os caranguejos, mas chegarão."

E essa é uma presença indesejável que, adverte este investigador, terá consequências imprevisíveis sobre a cadeia alimentar e todo o equilíbrio da região. Para isso, garante, "basta que se chegue a um ponto de aquecimento em que a água se mantenha acima da temperatura de congelação durante todo o ano. Ora, ao ritmo a que o fenómeno tem evoluído, isso vai acontecer ainda no decorrer deste século." - J.P.O.

Fonte: DN

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