Aquecimento global de outros tempos deu fome aos insectos

Um pico de subida de temperatura ocorrido há cerca de 55 milhões de anos deu uma grande fome aos insectos, revela um estudo agora conhecido.

Se as temperaturas modernas continuarem a subir como tem sido antecipado pelos investigadores, acrescenta o estudo, o planeta pode assistir a um aumento semelhante dos danos causados por insectos a culturas agrícolas e outras plantas.

A descoberta baseia-se numa análise de mais de 5 mil fósseis de folhas que foram destruídas por insectos vorazes que datam de antes, durante e após um período antigo de aquecimento global.

"Observámos um aumento imenso da percentagem de plantas que estão a ser atacadas", diz Ellen Currano, estudante a fazer pós-graduação em geociências da Universidade Estatal da Pennsylvania em University Park. A investigação surge esta semana na revista Proceedings of the National Academy of Sciences.

Michael Storey é um geocronólogo da Universidade Roskilde na Dinamarca e um perito no pico de temperatura conhecido por Máximo Termal do Paleoceno-Eoceno (MTPE) por atravessar estas duas eras geológicas.

Storey considera que o MTPE é "o melhor análogo natural" do aquecimento moderno e que estudos como o de Currano "revelam mais acerca das consequências potenciais das alterações climáticas induzidas pelo Homem".

Currano e a sua equipa recolheram as folhas fósseis no estado americano do Wyoming. Algumas folhas tinham buracos gigantes feitos por mastigação de insectos, outros fósseis estão reduzidos às nervuras, todo o limbo foi devorado.

Algumas das folhas tinham crescimentos tumorais conhecidos por galls em volta de posturas de ovos de insectos no interior das folhas. Outro tipo de dano, as chamadas minas foliares, surgem quando os ovos postos nas folhas eclodem e as larvas mastigam os tecidos para abrir canais por onde se libertam.

"Conseguimos observar todos estes caminhos onde o tecido foliar foi devorado e, em alguns casos, podemos até observar os excrementos fossilizados que as larvas iam deixando para trás", explica Currano.

e acordo com a análise, os danos foliares que ocorreram durante o Paleoceno começam por 15 a 38%, aumentam para 57% e voltam a baixar para 33% durante o Eoceno.

Currano diz que as temperaturas mais elevadas do MTPE permitiram aos insectos tropicais deslocar-se para norte, em direcção a latitudes mais temperadas, como a zona que agora corresponde ao estado do Wyoming. Os insectos apreciam as temperaturas mais elevadas e prosperam nessas condições, acrescenta ela. "O ciclo de vida acelera e, como não existem Invernos e noites gélidos, são de esperar populações de insectos mais numerosas."

Para além disso, as plantas tornam-se menos nutritivas com o aumento do dióxido de carbono na atmosfera, pois as plantas precisam de menos enzimas para fixar o carbono nas folhas. Essas enzimas são ricas em azoto, que os insectos precisam para obter energia.

"Assim, para que um insecto obtenha todos os nutrientes que precisa, vai ter que comer mais e mais, logo muito mais plantas são atacadas e devoradas", explica Currano.

Os cientistas acreditam que uma grande injecção de dióxido de carbono, um gás de efeito de estufa, para a atmosfera terá causado o MTPE, durante o qual as temperaturas globais subiram pelo menos 5ºC.

Estas descobertas têm uma nota de alerta para o futuro próximo, com as crescentes quantidades de dióxido de carbono que estão a ser libertadas para a atmosfera pelos humanos, dizem os investigadores.

O Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas prevê subidas nas temperaturas globais entre os 1,8 e os 4ºC até ao ano 2100, sendo as emissões de dióxido de carbono de origem humana a causa mais provável.

Especulando sobre as implicações desta investigação no contexto do actual aquecimento global, Currano diz: "Com base no que observámos, vamos começar a ter mais danos nas plantas devido aos insectos, o que vai prejudicar a saúde vegetal por todo o planeta."

Fonte: Simbiotica


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