Aquecimento ameaça vida selvagem antárctica

Formas de vida marinhas únicas da Antárctica estão em risco devido a uma invasão de tubarões, caranguejos e outros predadores, se o aquecimento global continuar, alertam os cientistas.

Os caranguejos estão a regressar aos baixios antárcticos, ameaçando animais como as aranhas marinhas gigantes e vermes-fita, refere uma equipa de cientistas ingleses. Algumas destas espécies evoluíram sem predadores desde há dezenas de milhões de anos.

Os peixes ósseos e os tubarões devem avançar para a zona se as águas aquecerem ainda mais, ameaçando todas estas espécies com a extinção.

Nos últimos 50 anos, as temperaturas das águas superficiais do oceano em volta da Antárctica subiram entre 1 e 2ºC, o que é mais que o dobro da média global.

Falando em Boston no encontro anual da American Association for the Advancement of Science (AAAS), os investigadores disseram que o aquecimento global irá alterar de forma fundamental o ecossistema, levando à perda de mais espécies.

"Os tubarões vão chegar à Antárctica se a tendência para o aquecimento continuar, um pouco mais lentamente que os caranguejos, que lá vão chegar primeiro", diz Cheryl Wilga, da Universidade de Rhode Island (URI), Estados Unidos. "Mas uma vez lá chegados, serão capazes de comer todos os organismos que lá vivem."

Wilga diz que a chegada dos tubarões e dos peixes ósseos capazes de esmagar conchas irá levar a alterações dramáticas no número e proporções das espécies que lá se encontram.

O camarão, os vermes-fita e os ofiurídeos devem ser as espécies mais vulneráveis ao declínio populacional que se seguirá.

Sven Thatje, do National Oceanography Centre da Universidade de Southampton, refere que animais que vivem em águas baixas na Antárctica são únicos no planeta pois evoluíram num ambiente extremamente frio durante dezenas de milhões de anos.

"No decurso do processo que chamamos arrefecimento antárctico, que se iniciou há cerca de 40 milhões de anos, todos os principais predadores de fundo , como os tubarões e os caranguejos, se extinguiram na Antárctica pois não foram capazes de lidar com estas condições extremas."

"Actualmente, o aquecimento global está a remover as barreiras a estas invasões e temos vindo a observar recentemente que os caranguejos, especialmente os caranguejos-rei, estão às portas da Antárctica. Potencialmente, eles podem voltar a invadir as águas baixas se o aquecimento continuar."

Os investigadores dizem que são precisas acções urgentes, locais e globais, para proteger este ambiente intocado até agora. "Temos que agir agora na Antárctica, bem como noutras zonas, para salvar a biodiversidade do planeta", diz Richard Aronson, do Dauphin Island Sea Laboratory no Alabama.

Ele diz que são necessárias medidas para evitar que espécies estranhas sejam trazidas para a zona no balastro dos barcos. "As acções locais são controlo do tráfego de navios e o despejo controlado do balastro. As acções globais aplicam-se a todos os ambientes, temos que controlar as emissões de gases de efeito de estufa."

Animais que vivem no fundo do mar da Antárctica são alguns dos mais estranhos da Terra.

As condições de frio extremo e escuridão quase permanente representaram desafios monumentais para a fauna marinha ao longo deste tempo, conduzindo a uma evolução de peixes equipados com proteínas anti-congelamento no sangue e a proliferação de filtradores do fundo.

Animais velozes e capazes de esmagar conchas e carapaças, como os caranguejos e os tubarões, são normalmente predadores chave que têm sido mantidos à distância, pois os seus corpos não suportam o frio intenso.

Esta situação levou a uma dominância dos invertebrados de corpo mole e de movimentos lentos no fundo do mar antárctico, semelhante à encontrada nos oceanos ancestrais antes da evolução dos predadores.

Fonte: Simbiotica

Saber mais:

Animais antárcticos

British Antarctic Survey

AAAS

National Oceanography Centre

Dauphin Island Sea Laboratory

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