DNA revela uma Groenlândia verde



Os cientistas escavaram dois quilómetros de gelo no sul da Groenlândia e recuperaram DNA do pinhal que em tempos aí existiu, repleto de insectos e outras formas de vida. Datado de entre 450 e 800 mil anos, o DNA é um dos mais antigos alguma vez encontrado.

A Groenlândia já foi verde, há muito que isso se sabe, têm sido encontradas plantas fósseis com 2,4 milhões de anos na zona nordeste do país mas, surpreendentemente, as evidências de DNA vegetal cessam há 450 mil anos. Os investigadores consideram que a falta de DNA mais jovem sugere que esta parte da ilha foi coberta por gelo desde então, o que vai contra a visão prevalecente da história climática da Groenlândia.

Durante o último período interglacial (130 a 116 mil anos), o clima era 5°C mais quente que actualmente, diz Eske Willerslev, director do centro de genética antiga da Universidade de Copenhaga, Dinamarca. "O nível do mar era 5 a 6 metros mais alto e a maioria dos modelos científicos assumiram que o degelo do sul da Groenlândia era o responsável por isso.

"Se os nossos dados estiverem correctos, então a calota de gelo do sul da Groenlândia é mais estável do que se pensava", diz Willerslev. Ele é, no entanto, rápido a recusar a ideia de que os seus resultados significam que as subidas previstas no nível do mar não irão acontecer. "Sabemos que durante o último período interglaciar o nível do mar subiu mas a origem disso deve ter sido outra, como o degelo antárctico."

Outros investigadores ainda duvidam que a Groenlândia tenha mantido o seu gelo no período interglaciar. "A única forma de justificar a subida do nível do mar a maioria dos modelos exige que a calota de gelo da Groenlândia derreta completamente", diz Roderik van de Wal, perito em calotas de gelo da Universidade de Utrecht, Holanda. "Se este estudo mostra que ela não derreteu, há um problema algures."

Willerslev descobriu o DNA numa única amostra de solo retirada de debaixo da camada de gelo, como descreve na revista Science. O DNA nunca tinha sido extraído desta forma anteriormente, diz Willerslev. "A técnica representa uma importante nova forma de reconstruir a história biológica de muitas zonas onde os fósseis estão enterrados sob quilómetros de gelo ou foram arrastados por glaciares."

Das amostras recolhidas, a equipa identificou uma vasta gama de espécies vegetais e de insectos. Paisagens semelhantes podem ser encontradas no leste do Canadá e nas florestas suecas actuais, diz Willerslev. Das espécies vegetais encontradas, estimaram que a temperatura na floresta seria de pelo menos 10°C no Verão e no máximo -17°C de mínima no Inverno.

Até onde, a norte, se estendia a floresta ou o que mais lá vivia permanece um mistério. "Não encontrámos DNA de outros animais, para além de insectos e aranhas, provavelmente devido à pequena quantidade de gelo analisada. O DNA animal desaparece mais rapidamente e é bem mais difícil de encontrar que o de plantas ou insectos, porque há menos quantidade logo á partida."

As descobertas de Willerslev podem ter implicações na previsão da forma como a calota de gelo irá responder às futuras alterações climáticas.

Se o gelo da Groenlândia desapareceu durante a última época interglaciar e fez subir o nível dos oceanos, então, pensam os cientistas, é provável que volte a fazer o mesmo com o aumento das temperaturas globais ao longo deste século. Se não desapareceu no passado, pode lançar a confusão sobre as previsões actuais.

Poderão ser as incorrecções nas técnicas usadas para determinar a idade do gelo as responsáveis pelos resultados inesperados? Willerslev acha que não. "Admito que existe incertezas com os métodos de datação mas o que me convenceu foi o termos usado 4 métodos diferentes e independentes e todos produziram datas semelhantes", diz ele. "É pouco provável que seja coincidência."


Este boletim é mantido por simbiotica.org, a Rede Simbiótica de Biologia e Conservação da Natureza

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