Chitas infiéis 'apanhadas' pelo DNA

As chitas fêmea que perambulam pelo Serengeti na Tanzânia são infiéis com frequência, demonstraram os cientistas. A análise do DNA dos felinos malhados mostrou que mais de metade das sua ninhadas pertencem a pais diferentes.

Escrevendo na revista Proceedings of the Royal Society B, os cientistas dizem que a infidelidade pode estar a expor os animais a doenças mas também pode assegurar a diversidade genética desta espécie ameaçada de extinção.

"Se as crias são geneticamente mais variadas pode permitir-lhes uma melhor adaptação e evolução a circunstâncias diferentes", refere Dada Gottelli, da Zoological Society of London (ZSL), e um dos cientistas envolvidos no estudo. "Se houver uma alteração importante no ambiente, algumas devem ser capazes de sobreviver melhor."

As chitas Acinonyx jubatus são classificadas como vulneráveis pela World Conservation Union (IUCN). Estima-se que a população reprodutora efectiva seja inferior a 10 mil indivíduos e a espécie enfrenta ameaças diversas, nomeadamente perda de habitat e caça furtiva.

A nova investigação agora dada a conhecer analisou chitas conhecidas do Parque Nacional do Serengeti no noroeste da Tanzânia por um período de 9 anos.

A análise de DNA recolhido de amostras fecais de 176 chitas mostraram que a infidelidade grassava na zona, apesar de ser incomum noutros grandes felinos.

Das 47 ninhadas de crias, 43% continham crias de diversos pais. Em alguns casos, três ou mais pais eram responsáveis pelas crias de uma única ninhada.

"Se se considerar que podem existir erros, eles serão por defeito com certeza", diz Gotelli. "As crias de chita sofrem uma mortalidade elevada nas primeiras semanas de vida logo é difícil obter amostras de todos os animais que nascem."

As chitas fêmea são capazes de acasalar com sucesso com múltiplos machos durante o seu período fértil pois produzem um novo óvulo de cada vez que acasalam, um processo conhecido por ovulação induzida.

Vulgar nos gatos domésticos e noutras espécies como os coelhos, isto significa que cada óvulo pode, em teoria, ser fertilizado por espermatozóides de uma macho diferente.

A elevada incidência de promiscuidade entre as fêmeas associada ao facto de que aumentam o seu risco de predação, parasitas e doenças para acasalar com múltiplos de machos sugere que deve existir um benefício neste comportamento.

Os investigadores acreditam que a recompensa evolutiva é o aumento da diversidade genética, permitindo que algumas das crias se adaptem mais facilmente a alterações ambientais.

Esta descoberta são óptimas notícias para os conservacionistas que tentam preservar a espécie ameaçada à medida que cada vez mais pequenos grupos de animais enfrentam o problema da consanguinidade.

No entanto, o comportamento duvidoso pode ter outros benefícios, como a protecção das crias contra as investidas de machos vagabundos.

"O infanticídio não tem sido observado em chitas selvagens, como frequentemente é com leões e leopardos", comenta Gotelli, "e talvez esta seja a razão para isso. Pode criar confusão nos machos sobre a paternidade das crias, e nesse caso é melhor não matar nenhuma delas, não vá alguma ser deles."


Saber mais:

Zoological Society of London

Royal Society


IUCN

Este boletim é mantido por simbiotica.org, a Rede Simbiótica de Biologia e Conservação da Natureza

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