Raposas do Árctico foram deixadas para trás pelo aquecimento global

Ao contrário da opinião popular, nem todos os animais que apreciam o frio podem simplesmente recuar para norte em resposta ao aquecimento global. Um novo estudo, agora dado a conhecer, revela que para as ameaçadas populações de raposas do Árctico não há uma escapatória assim tão fácil.

Os cientistas que investigam o destino das raposas do Árctico do norte europeu durante a última idade do gelo dizem que estes animais devem ter morrido por se encontrarem isolados pela rápida subida da temperatura.

Dado que as raposas do Árctico são animais altamente móveis, as descobertas não parecem indicar nada de bom para outros organismos mais lentos e mais sensíveis ao aquecimento global, alertam os investigadores suecos. "O que os nossos resultados mostram é que as espécies árcticas não recuam para perto dos pólos, apenas desaparecem", explica o zoólogo Love Dalén, da Universidade de Estocolmo.

Uma equipa liderada por Dalén e por Anders Götherström da Universidade de Uppsala comparou o DNA de raposas do Árctico da zona da Escandinávia com amostras genéticas de animais que viveram a sul, há cerca de 20 mil anos, no final da última idade do gelo.

Se as raposas pré-históricas se tivessem retirado para norte com a subida das temperaturas, o seu DNA devia estar presente nas populações actuais do norte da Escandinávia, refere a equipa, mas a análise genética dos ossos fósseis recolhidos na Alemanha, Bélgica e Rússia ocidental não indica nenhuma ligação ancestral com os animais actuais.

Os investigadores descobriram, pelo contrário, que as populações suecas e norueguesas descendem de raposas que se deslocaram milhares de quilómetros para oeste desde o leste da Sibéria, enquanto o gelo derretia.

"As raposas do Árctico das latitudes médias europeias extinguiram-se", conclui a equipa na mais recente edição da revista Proceedings of the National Academy of Sciences. "Os seus genes não contribuíram nada para as populações actuais."

Pistas para o desaparecimento destes animais podem vir da forma como as raposas do Árctico escandinavas estão a responder à actual alteração climática, diz Dalén. "O que observamos é que as populações estão a diminuir mas não se estão a deslocar para lado nenhum."

As deslocações são geralmente conduzidas por densidades populacionais elevadas para o território mas actualmente o efectivo populacional está na realidade a diminuir devido aos impactos do clima. "Numa população a diminuir, o que deve ter sido o caso no final da idade do gelo, deveria haver abundância de territórios."

Assim, em vez de se deslocar para latitudes mais a norte, as raposas do Árctico ganharam altitude, sugere Dalén, deslocando-se para zonas mais elevadas como os Alpes. Mas o golpe de misericórdia pode ter sido a chegada das raposas vermelhas, com as condições climáticas mais amenas.

"As raposas vermelhas, que têm o dobro do tamanho, podiam, de repente, sobreviver nestas zonas e venceram as do Árctico", explica Dalén. "As raposas vermelhas devem ter chegado e tomado conta das zonas mais baixas, logo as raposas do Árctico ficaram encalhadas."

A história pode estar agora a repetir-se. A deslocação para norte, em direcção às regiões polares, das raposas vermelhas, tanto na Europa como na América do norte, está a ser associada ao desaparecimento de espécies árcticas em algumas regiões.

Os conservacionistas dizem que a raposa do Árctico escandinava, da qual restam menos de 200 indivíduos, enfrenta agora uma séria ameaça de extinção, pelo que o abate de raposas vermelhas já começou em certas zonas do seu território.

A equipa responsável pelo estudo considera as suas descobertas com implicações importantes na compreensão da forma como as espécies reagem e adaptam às alterações climáticas, sugerindo que muitos animais podem ser mais vulneráveis ao aquecimento global do que antes se pensava.

"As espécies árcticas podem ser incapazes de acompanhar a alteração dos habitats com a subida da temperatura", escrevem eles, "o que pode resultar em perdas de variabilidade genética com o desaparecimento de populações locais."

Dalén considera que estudos semelhantes são urgentes, pois a capacidade das espécies em acompanhar as alterações devidas ao clima nos habitats não é considerada quando se faz uma previsão da forma como o organismo pode responder ao aquecimento futuro. "Pessoalmente, suspeito que a maioria das espécies árcticas se comportará como a raposa do Árctico, ficaria muito surpreso se, por exemplo, os ursos polares se comportassem de forma diferente."

Saber mais:

Proceedings of the National Academy of Sciences

Department of Evolutionary Biology, Stockholm University


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