Bananas para despoluir o ambiente


Pó feito com cascas da fruta remove metais pesados da água


As cascas de bananas podem ter um destino muito mais nobre e útil do que ir para o lixo. Um estudo realizado pela química Milena Rodrigues Boniolo em sua dissertação de mestrado no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen), em São Paulo, mostrou que elas podem ser usadas para remover metais pesados – como o urânio – da água. Além de ser uma alternativa para descontaminar o ambiente, o uso da casca de banana vai ajudar a diminuir o lixo gerado pelo próprio descarte da fruta, feito em grandes quantidades no Brasil.

Segundo Boniolo, o uso da energia nuclear como opção para substituir os combustíveis fósseis, que liberam dióxido de carbono, um dos gases responsáveis pelo aquecimento global, deve levar ao aumento dos resíduos radioativos no ambiente, o que torna fundamental o desenvolvimento de métodos para remover esse material.

Outra importante fonte de contaminação é a indústria de fertilizantes, que gera grande quantidade de subprodutos ricos em metais pesados. “Uma tonelada de fertilizante produz quase três toneladas de fosfogesso, material rico em urânio, metal altamente radioativo”, exemplifica. “Esse resíduo é geralmente estocado no subsolo e, com as chuvas, alcança os lençóis freáticos, os lagos e os peixes, até chegar ao seres humanos”, alerta.

A química conta que a idéia de usar a casca da banana para remover metais pesados da água surgiu da tentativa de dar uma destinação útil para as várias toneladas de casca que são descartadas anualmente no país e acabam se tornando lixo poluente. “É uma solução barata e fácil para três problemas que afetam o ambiente”, destaca a pesquisadora, que conquistou este ano o primeiro lugar na categoria graduado do 22º Prêmio Jovem Cientista, uma iniciativa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), do Grupo Gerdau, da Eletrobrás/ Procel e da Fundação Roberto Marinho.

Para desenvolver o estudo, Boniolo preparou um pó com as cascas de banana. Durante uma semana, as cascas foram colocadas em uma assadeira no telhado da casa da pesquisadora, debaixo de sol forte. Depois de secas, elas foram batidas em um liquidificador e peneiradas. O pó foi colocado em um recipiente fechado com água contendo grandes quantidades de metais pesados, como o urânio, sob agitação constante, por 40 minutos. Segundo a química, a banana, que tem carga negativa, se combina com os metais pesados, que têm carga positiva. Ao fim desse processo de agitação, o pó contaminado deposita-se no fundo do recipiente. “Em média, o pó da casca de banana consegue remover 65% dos metais pesados da água, mas essa mesma operação pode ser repetida para que sejam obtidos índices mais altos.”

A pesquisadora, que deve concluir seu mestrado no primeiro semestre deste ano, pretende, em seu doutorado, desenvolver um filtro que permita o uso do pó da casca de banana em escala industrial.

Os vencedores do 22º Prêmio Jovem Cientista foram anunciados na semana passada em Brasília. Da esquerda para a direita: Felipe Arditti, o jornalista Heraldo Pereira (que conduziu o evento), Milena Boniolo e Ericka Lima-Verde. (Foto: Eliane Discacciati/ CNPq).

Todos pela conservação da biodiversidade
Outros dois estudos que podem ajudar o país a superar o desafio de combater o aquecimento global e conservar a biodiversidade também foram contemplados com o Prêmio Jovem Cientista deste ano.

Na categoria estudante de ensino superior, Ericka Patrícia de Almeida Lima-Verde, do curso de ciências biológicas da Universidade Federal da Paraíba, desenvolveu um estudo que usa a comunidade de borboletas da família Nymphalidae como indicador de alterações ambientais. Orientada pela professora Malva Isabel Medina Hernández, a pesquisadora analisou as espécies de borboletas encontradas em áreas de restinga reflorestadas e conservadas no nordeste brasileiro.

Segundo Lima-Verde, nas áreas reflorestadas, a abundância e a diversidade de borboletas estavam fora do padrão, o que mostra que o reflorestamento não está conseguindo restabelecer um ambiente semelhante ao original. “Nas áreas reflorestadas, coletamos 697 indivíduos da espécie hamadryas februas , que, segundo dados da literatura, é comum em ambientes degradados; na área conservada foram encontrados apenas nove espécimes”, conta. E sugere: “É possível que o reflorestamento não esteja sendo realizado de forma adequada.”

O vencedor na categoria estudante do ensino médio, Felipe Arditti, da Escola Brasileira Israelita Chaim Nachman Bialik, de São Paulo, criou um método mais eficiente para detectar os níveis de monóxido de carbono na fumaça liberada por caminhões e ônibus. O procedimento adotado hoje em São Paulo pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) monitora a cor da fumaça emitida pelos veículos por meio de uma escala que associa tons de cinza aos níveis de emissão. “Quanto mais escuro, mais poluente é”, explica, ressaltando que a avaliação é muito subjetiva.

O dispositivo desenvolvido por Arditti, sob a orientação do professor Alex Lima Barros, usa como base para o monitoramento da fumaça a escala da Cetesb, mas o resultado é gerado de forma objetiva. O aparelho é acoplado ao escapamento dos veículos e, em seu interior, um feixe de luz é lançado sobre a fumaça emitida, que, dependendo de sua cor, pode absorver uma parte da luz. A outra parte é absorvida por uma célula solar de silício e transformada em energia elétrica, calculada por um voltímetro. Os valores gerados em função do espectro de luz absorvido são relacionados à escala da Cetesb e informam o quão poluente é a fumaça.

Segundo o estudante, além de confiável, o aparelho é barato – custa cerca de R$ 45 – e pode ser usado na maioria dos motores que queimam combustíveis fósseis. “Assim, é possível controlar as emissões de poluentes para combater o aquecimento global”, conclui.

Também receberam o Prêmio Jovem Cientista a Universidade de São Paulo e a Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, de Novo Hamburgo (Rio Grande do Sul), na categoria mérito institucional, e uma menção honrosa foi concedida ao professor Carlos Alfredo Joly, da Universidade Estadual de Campinas, em reconhecimento ao seu trabalho na área de biodiversidade.


Thaís Fernandes
Ciência Hoje On-line
13/03/2007

Agradecimentos: A

Katana
Pelo envio do link deste artigo

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